Manifestação

Entregadores de delivery fazem novo protesto por melhores taxas e pedem vacina

Motoboys se reuniram às 13h desta sexta (16) em frente ao estádio do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo

Entregadores querem vacinas para poderem trabalhar nas ruas - Reprodução

Entregadores de aplicativos como Rappi, Uber Eats, Loggi e iFood fizeram um novo protesto contra as taxas praticadas pelas empresas e pediram vacinação para trabalhar nas ruas. Eles se reuniram às 13h desta sexta (16) em frente ao estádio do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo.

Chamada de "greve geral" e organizada em grupos de WhatsApp, a manifestação pede taxa mínima por pedido (a sugestão é de R$ 10 até 5 km), R$ 2 por quilômetro adicional, transparência nos cálculos, fim dos chamados bloqueios indevidos e de programas como o "Rappi Turbo", de entregas mais ágeis.

A vacinação de motoristas entrou na pauta devido à alta exposição dos trabalhadores. Eles reclamam que não há estatística específica sobre morte de entregadores por Covid.

No início do ano, a Amobitec, associação que reúne iFood, Uber Eats e Zé Delivery, enviou ao Centro de Contingência do Coronavírus de SP um pedido de avaliação para incluir a categoria na vacinação, conforme noticiou a coluna Painel S.A.
Por volta das 13h40, cerca de 300 entregadores protestavam no local.

O entregador André Luiz França, 28, buscou outras fontes de renda nos últimos dois meses porque, segundo ele, "não dá mais para trabalhar". A alta no combustível e o valor das taxas reduziram a renda, que já vinha oscilando durante os meses de pandemia.

"Todos os aplicativos são arbitrários em bloqueios. O motoca vai até a casa do cliente, o cliente de má-fé diz que não entregou, o cara leva bloqueio de uma hora, um dia, sem culpa de nada. [O entregador] vai tentar entender o que aconteceu pelo chat, um robô responde e fica desse jeito", diz.

A falta de suporte rápido pelos aplicativos gera ociosidade de horas, em um trabalho que virou ainda mais competitivo com as restrições impostas pela Covid, afirma o motoboy. Ele diz que seu último rendimento mensal como entregador foi de R$ 3.600 por 12 horas de trabalho todos os dias do mês.

No segundo trimestre do ano passado, quando a população passou a ficar em casa para evitar o contágio pelo coronavírus, entregadores realizaram os primeiros atos para chamar a atenção sobre suas condições de trabalho.

Com a alta na demanda de produtos, eles reclamavam do tempo de espera em filas de supermercados, da redução da renda em relação ao período pré-Covid, da falta de assistência rápida na saúde, dos bloqueios por alguns aplicativos e dos programas de pontuação que prejudicavam a rotina de trabalho.

Os aplicativos alegam que não diminuíram as taxas. Após as manifestações, o sistema de pontuação do Rappi foi extinto.
Um estudo do Ministério Público do Trabalho e de pesquisadores trabalhistas de universidades federais, divulgado na época, mostrava que 59% dos motoristas passaram a ganhar menos com as plataformas durante a pandemia. De quase 300 motoboys ouvidos, 52% disseram que aumentaram a jornada e tiveram queda nos ganhos.

"O valor está baixo e o bloqueio indevido continua. Os aplicativos realmente baixaram as taxas. Toca pedido de R$ 4,09 por km. Ontem rodei 8 km por R$ 7", diz Fabiano Viana, 39, que só trabalha como motoboy.

Antes da pandemia, seu rendimento era, em média, R$ 1.300 por semana. Agora, os valores variam e ele não consegue responder quanto tem recebido com a atividade. "Só sei que tenho R$ 300 na conta."

O maior protesto do ano passado contou com apoio sindical, que movimentou milhares de motoqueiros por ruas de São Paulo em julho. Nas redes sociais, o levante ficou conhecido como breque dos apps.

Com pleitos diferentes a depender do grupo, a causa perdeu força de mobilização. Enquanto alguns defendem melhores taxas, outros requerem carteira assinada, caso do Entregadores Antifascistas, que ganhou projeção nas redes sociais na esteira dos protestos antirracistas de maio.

A manifestação desta sexta não teve adesão sindical.

Em nota, a ABO2O (Associação Brasileira Online to Offline), que representa plataformas digitais como a Rappi e a Loggi, diz que não houve redução das taxas de remuneração e que os aplicativos disponibilizam de forma transparente as taxas e valores destinados para os entregadores.

"Embora as plataformas tenham registrado aumento considerável no número de cadastros de entregadores parceiros, não houve alteração na forma como os valores das entregas são calculados e repassados."

Afirma, ainda, que entregadores são profissionais autônomos com liberdade de escolha para usar e se vincular a qualquer aplicativo concorrente, bem como "estabelecer os próprios horários nos quais deseja prestar o seu serviço; ligar e desligar o aplicativo sempre que quiser e dialogar com as empresas associadas por meio de seus inúmeros canais de comunicação".

"A inativação temporária ou, em último caso, o descredenciamento definitivo de um entregador acontece apenas em caso de descumprimento dos termos de uso dos aplicativos. As empresas associadas destacam que não suspendem ou desativam o cadastro de entregadores por participação em manifestações."

O iFood diz que esteve comprometida em criar "diversas iniciativas para melhorar a experiência de seus parceiros entregadores, baseadas em escuta ativa, constante e de transparência. Entre as ações já anunciadas pela empresa estão justamente o reajuste na taxa de entrega e o desenvolvimento de um código de validação das entregas."

"Desde o início de abril o iFood reajustou o valor da rota mínima para R$ 5,31, que será revisada de forma periódica. Além disso, implementou o código de validação da entrega, um projeto para aumentar a segurança e evitar problemas com extravios de pedidos, principalmente."