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Kate Winslet aumenta lista de divas do cinema que apostam na televisão

Atriz de 'Titanic' volta à TV como uma detetive atormentada em 'Mare of Easttown'

Kate Winslet em 'Mare of Easttown' - Reprodução/HBO

Relações familiares desmoronam lentamente depois que investigações policiais enroscam os parentes num crime macabro, tudo observado pelos olhos de uma protagonista feminina marcante, interpretada por uma grande estrela de Hollywood.

A premissa pode levar à mente do espectador diversas séries de prestígio dos últimos anos, como "Little Fires Everywhere", "The Undoing" e "Big Little Lies", mas a sinopse é de uma nova produção.

"Mare of Easttown", que estreia na HBO neste domingo, tem Kate Winslet à frente do elenco, no papel de detetive de uma cidadezinha da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Na história, um trauma pessoal e um crime não resolvido a voltam a assombrar quando uma jovem é assassinada na outrora monótona Easttown.

Mare, papel da atriz imortalizada por "Titanic" e vencedora do Oscar por "O Leitor", é um tipo sem noção, quase desagradável. Implica incessantemente com o ex-marido, a filha e a mãe, e não dá muita bola para formalidades e gentileza. À medida que os sete episódios da série avançam, no entanto, descobrimos os porquês de sua personalidade.

Já é uma mudança considerável das protagonistas sofisticadas e carinhosas de Nicole Kidman em "The Undoing" e "BigLittle Lies". E também das vividas por Reese Witherspoon nesta última e em "Little Fires Everywhere", irritantemente expansivas. É difícil estabelecer um paralelo entre esses papéis e o de Kate Winslet, por mais que suas histórias acenem uma para a outra.

"Mare of Easttown" nos apresenta a uma face dos Estados Unidos bem distante dos figurinos luxuosos de "The Undoing", das belas paisagens costeiras de "Big Little Lies" e das mansões de "Little Fires Everywhere". É uma série que destaca personagens femininas raramente vistas na tela, diz seu criador, Brad Ingelsby.

"Nós certamente temos visto muitas histórias nessa linha, mas eu acho que esta mostra uma parte diferente da vida americana, é um outro recorte social, com uma classe de pessoas que não costuma estar em destaque", diz ele.

Tudo é muito simples ao redor de Mare. A cidade onde ela mora, a verídica Easttown, tem cerca de 10 mil habitantes e funciona como um meio termo da rica e urbana Filadélfia e das milhares de regiões rurais que formam a Pensilvânia. Foi lá que Ingelsby cresceu, e foram seus conterrâneos que quis homenagear.

Gente simples, heróis em suas comunidades, mas não exatamente superpoderosos. "Eu queria criar uma história de crime que subvertesse aquela ideia que temos do detetive genial. Não há nada de especial sobre Mare, ela é um ser humano normal", afirma.

Winslet concorda que o que há de mais especial na personagem é justamente o fato de ela, no fundo, não ser especial.

Mare representa milhares de outras mulheres com carreiras e famílias turbulentas, gerando uma proximidade com o espectador que talvez a sempre riquíssima, belíssima e talentosíssima personagem de Nicole Kidman em "Big Little Lies" não ofereça. Esta também vê seu mundo desmoronar, mas sob um verniz de luxo que não representa a média da população americana.

Sentada diante de alguns livros e um porta-retrato com uma foto da família, Winslet é incapaz de esconder a empolgação com o novo trabalho. Com carisma e extroversão de fazer inveja à Mare de Easttown, a vencedora do Oscar conta que poucas vezes sentiu uma conexão tão forte com uma personagem.

Durante as gravações, diz ela, era difícil se desvencilhar dos traumas e dores de Mare. As situações, mesmo que ficcionais, com as quais tinha que lidar no set eram pesadas demais para Winslet "simplesmente ir para casa e relaxar".

Foi um processo longo e complicado. Isso porque o trabalho na minissérie começou em 2018, quando ela leu o roteiro pela primeira vez. As gravações começaram em setembro de 2019 e precisaram ser interrompidas em março de 2020, por causa da Covid. Foi só sete meses depois que ela retomou a personagem.

Flutuando entre um sotaque e outro –o seu perfeitamente britânico e o de Mare, um americano quase caipira–, ela conta como fazia para separar a vida pessoal de "Mare of Easttown". A atriz criava alter egos que a ajudavam a fazer a transição de detetive para estrela de Hollywood e vice-versa. Um deles, Hortênsia, é "infame, ultrajante, diz qualquer merda que quiser".

"Dizem que se uma pessoa fala por mais de sete minutos, ela se torna entediante e o cérebro de quem a ouve desliga, então desculpa por isso ter acontecido", brinca a atriz, depois de engatar um monólogo absurdo como Hortênsia.

Essa não é a primeira vez que Winslet trabalha numa produção de TV –ela já esteve, por exemplo, em "Mildred Pierce", que rendeu a ela um Emmy em 2011. Ela diz que pouco importa o formato da história, desde que seu papel tenha algo importante a dizer.

"Uma minissérie é como um filme de sete horas, para mim não faz diferença. No ponto atual da minha carreira, eu busco histórias sobre pessoas reais, para alcançar o público e dizer o que precisa ser dito. Isso me dá um senso de propósito, como foi com Mare."

Ela colou o trabalho na minissérie a "Ammonite", um romance lésbico que faz parte da leva de trabalhos que Winslet agora quer para sua carreira. Em comum, eles são protagonizados por mulheres fortes, levantando sutilmente uma bandeira feminista que, a atriz diz, esteve ausente das telas até pouco tempo atrás. De Mare em sua delegacia a Nicole Kidman e Reese Witherspoon em seus palácios, é uma nova realidade na TV.

"É importante contar histórias sobre essas heroínas imperfeitas, porque elas são como nós. Esses ideais que eram projetados nas mulheres estão deixando de gerar interesse, porque não representam a realidade. É o que tenho sentido e o que eu tenho buscado."

"Mare of Easttown",

Quando: Estreia neste domingo (18), às 23h, na HBO e na HBO Go

Divas nas telinhas
MARE OF EASTTOWN
Kate Winslet se junta a uma leva de grandes estrelas do cinema que buscam na TV personagens femininas de destaque, no papel de detetive de uma cidadezinha pacata dos EUA

'Big Little Lies'
A premiada série gerou frisson por seu elenco de estrelas do porte de Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Meryl Streep e Laura Dern
Disponível na HBO GO

'Little Fires Everywhere'
Reese Witherspoon voltou a estrelar e produzir outra série elogiada protagonizada por mulheres fortes, dessa vez acompanhada por Kerry Washington
Disponível no Amazon Prime Video

'The Undoing'
Nicole Kidman disse adeus às estrelas hollywoodianas femininas de 'Big Little Lies' e tomou os holofotes para si na série lançada no ano passado, em que contracenou com Hugh Grant
Disponível na HBO Go

'Mrs. America'
Cate Blanchett interpretou a ativista conservadora Phyllis Schlafly na minissérie ambientada nos anos 1970
Disponível no Now

'The Morning Show'
Incansável, Reese Witherspoon ainda está à frente de uma das primeiras séries originais da Apple, ao lado de Jennifer Aniston, que voltou à TV
Disponível no Apple TV+

'Como Defender um Assassino'
Antes da atual onda de divas do cinema na TV, Viola Davis já estrelava a série, também conhecida por aqui pelo nome original, 'How to Get Away with Murder', que terminou no ano passado
Disponível no Apple TV+