Violência armada

Terceiro ataque a tiros em 24 horas escancara epidemia da violência armada nos EUA

O terceiro caso de violência armada foi registrado em Kenosha, no estado de Wisconsin

Familiares e manifestando prestam homenagens às vítimas de uma das últimas chacinas ocorridas nos EUA, nos arredores da FedEx - Jon Cherry / Getty Images via AFP

Ao menos cinco pessoas ficaram feridas depois de terem sido baleadas na noite deste domingo (18) em Shreveport, na Louisiana, o que marca o terceiro ataque a tiros nos Estados Unidos em um período de 24 horas e sustenta o discurso do presidente Joe Biden, de que o país vive uma epidemia de violência armada. Outras ocorrências foram registradas em Austin, no Texas, e em Kenosha, em Wisconsin.

Segundo a polícia de Shreveport, as circunstâncias do ataque ainda não estão claras. Os agentes atendiam o que parecia ser uma ocorrência rotineira de trânsito quando os disparos começaram.

De acordo com a imprensa local, mais de 20 viaturas da polícia foram deslocadas ao local, e dezenas de cartuchos de munição foram encontradas no chão do estacionamento de uma clínica médica. Pelo menos uma das vítimas foi baleada na cabeça, mas não há confirmação de mortes.

Em Austin, capital do Texas, a polícia ainda procura um ex-xerife que, na manhã de domingo, matou três pessoas a tiros em um condomínio. A princípio, as autoridades suspeitaram de mais um ataque em massa, mas as investigações concluíram que tratava-se de um incidente de natureza doméstica.

O ex-xerife foi identificado como Stephen Broderick, 41. De acordo com a imprensa local, ele foi posto em licença administrativa em junho do ano passado depois de ter sido acusado de violência sexual contra uma criança, crime pelo qual chegou a ser detido e liberado após pagamento de fiança.

O terceiro caso de violência armada foi registrado em Kenosha, no estado de Wisconsin. Segundo o departamento de polícia, uma pessoa que não teve a identidade revelada foi expulsa de um bar na cidade em circunstâncias ainda não esclarecidas e voltou pouco tempo depois, atirando.

Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas. O autor dos disparos foi preso e responderá por homicídio doloso –quando há intenção de matar.

O governador do estado, o democrata Tony Evers, escreveu em uma publicação no Twitter que o crime em Kenosha, ao qual ele se referiu como uma "tragédia sem sentido", deixou seu "coração partido".

"Estamos pensando nas famílias e entes queridos afetados e em toda a comunidade de Kenosha enquanto eles sofrem e lutam com mais um trágico incidente de violência armada", disse.


Neste domingo, a polícia de Indianápolis, onde Brandon Hole, 19, matou oito pessoas a tiros em um centro de operações da FedEx na última quinta-feira (15), confirmou que o jovem, ex-funcionário da empresa, comprou legalmente os dois fuzis semiautomáticos usados no crime poucos meses depois de ter sido preso temporariamente por agentes do FBI em uma unidade psiquiátrica.

Hole foi detido em março de 2020 depois que sua mãe chamou a polícia alegando que ele poderia tentar cometer "suicide by cop" (suicídio por policiais, em livre tradução). A prática consiste em provocar deliberadamente alguma situação ameaçadora –como um ataque a tiros em um lugar público– para ser morto pela polícia.

Na ocasião, Hole foi investigado pelos agentes, mas acabou liberado depois que o inquérito não identificou violações da lei. Ele teve uma espingarda apreendida, mas segundo registros do ATF, agência do governo responsável por regular armas de fogo, comprou dois fuzis nos meses seguintes, em julho e setembro.

Após o ataque, o atirador cometeu suicídio. A polícia ainda investiga a motivação, mas existe a suspeita de que o crime tenha algum viés racial, já que quatro das oito vítimas eram membros da comunidade Sikh, uma religião monoteísta com origem na Índia.

Em 2020, houve alta no número de mortes por armas de fogo no país, com 19.380 mortos e 39.427 feridos por tiros nos EUA no ano passado, segundo dados da entidade Gun Violence Archive. Desde 2016, essa média ficava em torno de 15 mil mortes por ano.

Neste ano, o órgão contabiliza mais de 150 ataques a tiros em todo o país, considerando apenas incidentes em que há pelo menos quatro vítimas mortas ou feridas por armas de fogo. Só o mês de abril acrescentou 31 ocorrências às estatísticas.

No início do mês, Biden anunciou uma série de medidas para conter o que chamou de epidemia da violência provocada pelas armas de fogo no país. Entre as ações, está um plano para prevenir a propagação das chamadas "armas fantasmas", kits com peças e instruções que permitem ao comprador montar o próprio armamento "em menos de 30 minutos", driblando, assim, a fiscalização.

O presidente também anunciou que vai aumentar as regulamentações para os "cintos estabilizadores", dispositivos que servem de suporte para o braço e tornam os disparos mais precisos e, portanto, mais letais. O autor do ataque em Boulder, no estado do Colorado, que matou dez pessoas em um supermercado em 22 de março, usava um desses equipamentos.

Biden anunciou que suas propostas são um ponto de partida e reforçou um pedido ao Congresso pela aprovação de medidas mais abrangentes. Atualmente, dois projetos de lei aprovados pela Câmara, que prevêem a ampliação da checagem de antecedentes de quem compra armas pela internet e o aumento do prazo entre a venda e a entrega para até dez dias –o que daria mais tempo para analisar o histórico do comprador– aguardam votação no Senado.

O aumento do controle de acessos a armas, no entanto, é barrado no Legislativo por políticos ligados ao Partido Republicano, que veem o direito de portar armas como um símbolo da liberdade e da visão de país que defendem.

 


Principais leis sobre armas nos EUA

1791

Diz apenas: "Uma milícia bem regulada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito de manter e portar armas não deve ser infringido".

1934

Primeira lei federal a regulamentar e taxar a fabricação e a venda de armas de maior calibre. Pistolas ficaram de fora das regras.

1938

Exigiu que fabricantes, importadores e vendedores de armas tenham licença para atuar e impediu a venda de armas a ex-condenados pela Justiça, entre outras categorias.

1968

Expandiu a lista de restrições à compra, determinou que as armas tivessem um número de registro e vetou a importação, exceto para fins esportivos –mas sem definir o que seriam "fins esportivos".

1986

Retirou várias restrições à compra, legalizou a venda em feiras de armas e afrouxou as exigências para que comerciantes mantenham registros sobre os produtos vendidos.

1993

Estabeleceu prazo de cinco dias entre a compra e a entrega, para haver mais tempo para a checagem de antecedentes do cliente. Nos anos seguintes, a norma foi flexibilizada e, atualmente, é permitida uma avaliação rápida em muitos casos.

1994

Baniu a fabricação, venda e posse de armas semiautomáticas e de maior poder de fogo. A medida expirou em 2004 e não foi renovada.

2005

Proibiu que fabricantes e vendedores sejam processados caso seus produtos sejam usados em crimes e passou a exigir que as armas sejam transportadas e mantidas de forma segura.

2007

Deu estímulos financeiros para que os estados melhorem as bases de dados a serem consultadas pelos vendedores antes de entregar as armas aos compradores.