Artes visuais

Pernambucanos participam da mostra Céu Aberto - O Distanciamento entre o Ser Humano e a Natureza

Exposição virtual exibe obras inéditas projetadas em paredões urbanos de São Paulo

Transborda - Roberta Carvalho (PA) - Foto: divulgação

A prova de que a arte pode ser um instrumento valioso de pensamento crítico está na programação da mostra  "Céu Aberto - O Distanciamento entre o Ser Humano e a Natureza", que começa nesta quinta (22) e segue até o dia 29. Trata-se de uma exposição virtual de obras inéditas projetadas em paredões urbanos de São Paulo, com transmissão ao vivo através do Youtube. Entre os envolvidos, os pernambucanos Mozart Santos, Guto Barros e Lourival Cuquinha expõem seus pensamentos sobre o assunto por meio da imagem.


Não à toa, o projeto começa no Dia do Descobrimento do Brasil, que também é considerado o Dia da Terra. Se puxarmos para a atualidade, neste período também ocorre a Cúpula dos Líderes Climáticos, nos Estados Unidos, cujo tema desmatamento deve ser um dos mais abordados em relação ao Brasil. Tanto que este também será a base do idealizador da mostra, o artista plástico Mozart Santos. “Minha obra fala sobre um problema grande e sério que vem acontecendo há anos, que é o desmatamento e queimadas de áreas de florestas protegidas e até em áreas indígenas demarcadas. Não é coincidência vivermos uma grave pandemia respiratória, no mesmo ano em que houve um dos maiores ataques ao pulmão do mundo”, diz ele, que separou uma coleção de fotografias de folhas, com uma escala cromática sofrendo em contato com o fogo.


Sobre a exposição, Mozart adianta que esta é uma semana potente e que traz um debate através da arte contemporânea, em escala monumental. Cerca de 16 projetores de 20 mil lúmens serão utilizados em oito paisagens de concreto, que serão modificadas com as aparições de vídeo. Isso sem falar no roteiro de debates sobre rios urbanos, como o Capibaribe, o Beberibe, o Tietê entre outros que sofrem a agressão de esgotos.


Experiente em intervenções urbanas, o grafiteiro Guto Barros, embora não tenha a natureza como base nos seus trabalhos, entende que este é um tema em comum a todos. A sua obra faz parte de um amplo arquivo de filmes, fotografias, diálogos, leituras, citações, que vem sendo coletado ao longo dos anos. “Especificamente falando do vídeo ‘É da natureza recomeçar’, foram utilizados vídeos de rachaduras e marcas naturais, esculpidas pelo tempo e pela ação natural, em corais do Litoral Sul de Pernambuco. Marcas na areia formadas pelo ir e vir constante das ondas e marés”, detalha.


Já o artista Lourival Cuquinha projetará a “Apólice do Apocalipse”, obra que trabalha com o conceito de grilagem. “O processo de grilagem de terras tem uma técnica que pega um documento, escritura falsa, e coloca em uma gaveta ou caixa cheia de grilos. Então, esse documento vai se deteriorando, pois os grilos urinam, comem, fazem suas necessidades, vivem no documento e, dessa forma, ele aparenta estar velho”, explica. Na prática, esse papel ganha uma aparência impossível de se verificar informações. "Com o envelhecimento falsificado, tira-se terras de indígenas, ribeirinhos e quilombolas”, completa Cuquinha, que grilou uma carta e a filmou microscopicamente para ser projetada gigante nos prédios em São Paulo.


O projeto é fomentado pelo edital nº40/2020 do Proac Expresso Lab, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e do Governo Federal através da Secretaria Especial de Cultura e Ministério do Turismo. A concepção e realização é da Mexe Mexe e a produção é assinada pela Ninas. Também participam Roberta Carvalho (PA), Mozart Fernandes (SP) e Marta Rijo (Portugal), VJ Suave (SP), Sitah (SP) e Catharina Suleiman (SP).


SERVIÇO
"Céu Aberto, o distanciamento entre o ser humano e a natureza"
Transmissão: youtube.com/c/CÉUABERTO
Classificação: livre