Meio Ambiente

Após Cúpula do Clima, Bolsonaro diz que críticas ao Brasil não se justificam

Em sua live semanal, presidente falou sobre o evento, ao lado de Ricardo Salles

Bolsonaro e ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - Palácio do Planalto

Após um discurso em tom conciliador na Cúpula do Clima, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse em sua live desta quinta-feira (22) que as críticas feitas ao Brasil não se justificam e, ao lado do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), voltou a pedir recursos estrangeiros para a preservação ambiental.

Bolsonaro listou os países mais poluentes, com China (26,7%) e Estados Unidos (12,6%) no topo. O Brasil responde por 3,4% das emissões globais.

"Lógico que a gente diminuir isso aí, mas não justifica essa crítica absurda contra o Brasil. Está na cara que no fundo eu acho que uma questão econômica que está em jogo", afirmou Bolsonaro, reforçando o discurso de seu governo de que as cobranças para que o Brasil seja um país menos poluente partem de interesses econômicos de outros países, que querem limitar a concorrência, especialmente no agronegócio.

Ricardo Salles disse que o Brasil não tem "contribuição histórica" na questão climática porque era um país agrícola quando países ricos já queimavam combustível fóssil para desenvolver suas indústrias. Ele afirmou que, para que as metas anunciadas mais cedo por Bolsonaro sejam cumpridas, é preciso ajuda externa.

"Então, se nós estamos indo ajudar a resolver um problema que foram eles que criaram, eles também têm que nos ajudar a resolver o problema dos 23 milhões de brasileiros que foram deixados pra trás na Amazônia", afirmou o ministro do Meio Ambiente. A expectativa do governo brasileiro é receber US$ 1 bilhão.

"Apresentamos um plano de combate ao desmatamento ilegal de 12 meses, US$ 1 bilhão que vai custar. O presidente [dos EUA, Joe] Biden, você vai se lembrar que prometeu, sugeriu US$ 20 bi durante a campanha. Nós estamos apresentando um plano de US$ 1 bi, muito menos que US$ 20 [bilhões]", afirmou Salles.

Durante um debate eleitoral no ano passado, Joe Biden já havia falado em criar um fundo de US$ 20 bilhões para combater o desmatamento da floresta, e citado consequências ao Brasil caso o governo brasileiro não tomasse atitudes contra a destruição da região. À época, Bolsonaro reagiu e disse que não aceitava suborno.

"O primeiro passo que todas essas pessoas, empresas, governos etc que se dizem preocupados com a Amazônia podem fazer é avançar com recursos pra que a gente, imediatamente, passe a atuar tanto no campo do comando controle [operações de fiscalização], de maneira bastante efetiva, quanto na parte de ajuda às pessoas, econômica. Se vier ajuda, a gente vai fazer muito. Se não vier ajuda, nós vamos fazer com o nosso orçamento, que o presidente já reforçou que vai dobrar.”

O governo Bolsonaro estima, segundo interlocutores, que o aumento de recursos para a fiscalização ambiental – anunciada nesta quinta pelo presidente brasileiro na Cúpula do Clima – ficará em torno de R$ 115 milhões. 

Os recursos devem ser utilizados, entre outras finalidades, para custear o emprego da Força Nacional nas ações de combate ao desmatamento –proposta criticada por ambientalistas.

Bolsonaro e Salles também defenderam na live projeto de regularização fundiária, que críticos dizem que incentivará a grilagem de terras.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que o discurso de Jair Bolsonaro na cúpula do clima foi "muito adequado", mas pediu que se passe do "discurso à prática”.

"Considerei um discurso muito adequado para o momento em que estamos vivendo, da sua consciência em relação à preservação, e vamos passar do discurso à prática, e dentro de pouco, com um diálogo, com uma comunicação que seja adequada, teremos a respeitabilidade da comunidade internacional em relação a esse tema", afirmou.

Pacheco também afirmou que é preciso compatibilizar preservação com desenvolvimento econômico. Disse que temos uma legislação avançada no Brasil, mas que é preciso não exagerar na sua aplicação, justamente para não travar o desenvolvimento, mas também não pode ficar "aquém”.

O senador mineiro também disse que o Brasil tem grandes ativos ambientais e que o País preserva, embora haja casos de descumprimento, que são, segundo ele, devidamente punidos. Em uma retórica que lembra a de Jair Bolsonaro, pediu que a comunidade internacional reconheça essas ações.

"Temos que ter uma consciência de cumprimento das leis ambientais no Brasil e mais do que isso: revelar ao mundo que temos ativos ambientais importantes, que nós os preservamos, embora aqui e acolá pode haver descumprimento da lei, que são punidos no Brasil, e exigir da comunidade internacional que reconheça isso a partir de uma narrativa que seja verdadeira", completou.