Educação

Projeto solidário para o Enem criado por estudante do Recife comemora notas na redação

Estudantes de várias partes do Brasil conseguiram boas notas no exame após as aulas do projeto

Aulas eram ministradas na plataforma Google Meet - Cortesia/Brenda Teixeira

Com o objetivo de auxiliar estudantes de escolas públicas no Enem em meio aos impactos causados pela pandemia de Covid-19 na educação, a estudante Brenda Teixeira, de 23 anos, graduanda de Direito na Universidade de Pernambuco (UPE), criou o projeto solidário Help.

A iniciativa surgiu em meados de maio do ano passado, logo no início da pandemia de Covid-19, após a morte do avô de Brenda e a perda do estágio que ela fazia em um escritório de advocacia no Recife. Ela conta também que ficou sem aulas na faculdade durante o período.

"Soubemos que as aulas demoraram a voltar porque os alunos [da universidade] não tinham estrutura. Quando me vi, pensava que, se os universitários estavam com problema, imagina os terceiranistas", disse Brenda, que mora no bairro do Ibura de Baixo, na Zona Sul do Recife.

Filha de um marceneiro e de uma dona de casa, Brenda considera o fato de ela e o irmão possuírem estudos o fruto de muito esforço dos pais. "Meu pai só foi até a 5ª série, minha mãe fez um supletivo. Me orgulho dessa origem", falou Brenda. O irmão dela, de 25 anos, é geógrafo e atualmente cursa o mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

Brenda então publicou em seu perfil no Twitter um post anunciando que estava disponível para ajudar quem tivesse interesse em redação para o Enem.

Publicação feita por Brenda no Twitter teve grande alcance (Foto: Reprodução/Twitter/Cortesia)

"Muita gente veio falar comigo e várias pessoas desconhecidas. O critério era ser terceiranista ou ter acabado [o ensino médio] e de escola pública", continuou Brenda, acrescentando que as aulas começaram com cerca de 22 alunos, mas, durante a preparação, alguns não conseguiram concluir.

"Infelizmente, nem todos conseguiram ficar até o fim, muitos tiveram que começar a trabalhar ou tiveram problemas psicológicos. Ficaram 13 alunos na reta final", seguiu a futura advogada.

O alcance da iniciativa da estudante foi tão grande que até uma estudante baiana que mora atualmente no Panamá entrou em contato e participou das aulas. Alunos do Pará, de Alagoas, do Rio de Janeiro e do Acre também participaram.

"O projeto, no início, tinha o objetivo de ser somente redação, mas o dia a dia [da preparação] do Enem se prolongou bastante e, se tinham um déficit tão grande na redação, imagina nas outras matérias", completou Brenda.

Nas aulas, realizadas através do Google Meet, Brenda passava conteúdos específicos da redação do Enem, como as competências que são cobradas pelos corretores. 

"Parece básico, mas eles não sabiam. Depois, fiz um ciclo de palestras convidando amigos de outras áreas. À medida que tivesse uma palestra, eu passava uma redação sobre o tema. Uma delas inclusive foi sobre saúde mental, o tema que caiu na redação", lembrou Brenda.

Com as provas do Enem 2020 adiadas para janeiro de 2021 por causa da pandemia, Brenda convidou professores de seu antigo colégio e amigos que também são educadores para ministrar aulas de outras matérias, num esquema de revisão.

Os resultados foram muito positivos. "Tivemos alunos saindo [da redação] de 400 para 800 e pouco, de 500 para 920. Tivemos um número legal de aprovações. Dos 13, cinco foram aprovados de primeira. Alguns alunos não conseguiram ser aprovados, alguns estão na lista de espera. A redação sozinha não é suficiente, precisa de suporte nas outras disciplinas", completou a jovem.

Brenda disse que o projeto continua e que está disposta a receber ajuda de outras pessoas na correção da redação. Segundo ela, as aulas são relativamente tranquilas, de acordo com a quantidade de pessoas, mas a parte da correção é minunciosa e precisa de mais detalhes.

"Eles chegaram para mim dizendo que ninguém tinha dado esse feedback. Estou aberta a quem quer disponibilizar ajuda", disse.

A mensagem que fica para Brenda de toda essa iniciativa é a necessidade da divisão do conhecimento. "Uma vez, no ensino médio, um professor meu falou uma coisa que levei para vida: conhecimento válido é aquele conhecimento que é compartihlado. Não adianta ser o mais sábio a vida inteira e não dividir com quem precisa. Essa é a minha meta, além de instigar outras pessoas a ajudar nisso. Nosso país precisa de pessoas que encabecem projetos assim", finalizou Brenda.

Agora Brenda presta ajuda com informações sobre Direito Familiar, em um perfil no Instagram.