No último dia da Cúpula do Clima, Biden fala em 'grande progresso' e celebra promessa de Putin
O presidente americano quis fazer do último dia da cúpula uma maneira de detalhar o plano para cumprir sua ambiciosa promessa de cortar pela metade as emissões nos EUA até 2030
No último dia da Cúpula do Clima, nesta sexta (23), o presidente americano, Joe Biden, disse ter visto "grande progresso" nos debates sobre mudanças climáticas e celebrou o discurso do líder russo –e seu antagonista político–, Vladimir Putin, que quer atingir a neutralidade em carbono em seu país até 2050.
Como anfitrião do encontro virtual que reuniu 40 líderes mundiais, Biden tenta estimular os demais países a apresentarem metas mais ambiciosas sobre a redução das emissões de gases do efeito-estufa para frear o aquecimento global em 1,5 °C, mas enfrenta obstáculos, uma vez que grandes economias, como China e Índia, não quiseram se comprometer com números mais contundentes para a próxima década.
"Fizemos grande progresso até agora, na minha opinião. Sou grato a todos os líderes que anunciaram novos compromissos para nos ajudar a enfrentar a ameaça das mudanças climáticas", disse o presidente americano. "Também estamos muito animados com o apelo do presidente Putin ontem [quinta] para que o mundo colabore na remoção avançada de dióxido de carbono, e os EUA estão ansiosos para trabalhar com a Rússia e outros países nesse esforço. É uma grande promessa."
A Rússia é responsável por cerca de 5% das emissões de poluentes, os EUA, por 12,6%, e a Índia, por 7%. A líder China emite cerca de 27% e não anunciou nenhuma nova meta durante o encontro liderado por Biden. O país asiático, no entanto, já havia se comprometido, em dezembro, a baixar suas emissões de gases poluentes antes de 2030 e atingir a neutralidade em carbono em 2060.
O presidente americano quis fazer do último dia da cúpula uma maneira de detalhar o plano para cumprir sua ambiciosa promessa de cortar pela metade as emissões nos EUA até 2030. O novo compromisso foi oficializado por Biden na abertura do encontro virtual, na tentativa de liderar o debate e estimular as demais potências a anúncios mais contundentes no caminho de zerar as emissões até 2050.
Mas o democrata sabia que tinha o desafio de explicar como fazê-lo, já que especificar o plano é uma das demandas de seu governo nas conversas com outros países, inclusive o Brasil. Biden tentou mostrar que, após estabelecer grandes objetivos para o corte de emissões de poluentes, é preciso mudanças na cadeia de produção, com investimentos público e privado e criação de empregos ancorados em energia limpa.
"A sessão final de hoje não é sobre a ameaça das mudanças climáticas, é sobre a oportunidade que responder às mudanças climáticas oferece, com a criação de milhões de empregos bem remunerados em todo o mundo." Dentro dessa linha, convidou empresários e investidores, como Bill Gates e Michael Bloomberg, para debater investimentos –públicos e privados– na revisão substancial da cadeia de produção americana, com a eliminação do uso de carvão para gerar energia elétrica e a substituição de carros movidos a gasolina por veículos elétricos, por exemplo.
Em vídeo, Gates pediu um "novo e enorme" investimento público e privado em inovação para atender às metas globais e dos EUA. Segundo ele, "usar somente as tecnologias de hoje não vai nos permitir atingir nossos ambiciosos objetivos."
Muitas dessas iniciativas constam do pacote trilionário de infraestrutura lançado por Biden no mês passado que promete reformar estradas, pontes e saneamento nos EUA ao mesmo tempo em que cria empregos e pavimenta a implementação da agenda ambiental do democrata.
Biden tenta mostrar que a força da promessa do Executivo –atrelada ao apoio popular que tenta angariar com o discurso da geração de emprego– é suficiente, mas o dinheiro e as políticas para cumprir as metas dependem da aprovação do Congresso, dividido entre republicanos e democratas quanto à pauta verde.
Anfitrião de 40 líderes mundiais na cúpula, Biden quis mostrar que os EUA são confiáveis na liderança para uma economia mais justa e sustentável, recuperando o prestígio do país no cenário multilateral depois de quatro anos de isolacionismo sob o republicano Donald Trump.
Entre os participantes da cúpula nesta sexta também estavam o secretário de Transportes dos EUA, Pete Buttigieg, e a secretária de Energia americana, Jennifer M. Granholm, auxiliares considerados essenciais por Biden para impulsionar a transição energética no país. Buttigieg tem defendido o estímulo para a produção de carros elétricos e a contenção de poluição na frota atual, com regras federais mais rígidas.
Por fim, o presidente americano repetiu que a reunião organizada por ele é um primeiro passo para a COP26, a conferência do clima da ONU, marcada para novembro na Escócia. "Esta cúpula é um começo que nos levará a Glasgow, onde vamos tornar esses compromissos reais, colocando todas as nossas nações no caminho de um futuro seguro, próspero e sustentável", afirmou.