Artes Plásticas

Carlos Mélo apresenta esculturas têxteis na série “Overlock”

Artista natural do Agreste pernambucano utiliza tecido reciclado da indústria da região em obras elaboradas junto com artesãs locais

eflete Obras refletem sobre o impacto ambiental e cultural provocado pela indústria têxtil na região Agreste de Pernambuco - Geyson Magno

Série de obras criada durante a pandemia do novo coronavírus em que reflete sobre o impacto ambiental e cultural provocado pela indústria têxtil na região Agreste de Pernambuco, após a consolidação de um Polo de Confecções responsável por alterar completamente a dinâmica econômica de um lugar de tradição agrícola e pecuária, “Overlock” do artista pernambucano Carlos Mélo será apresentada a partir do dia 25 de abril, às 17h, no site da Galeria Kogan Amaro (https://www.galeriakoganamaro.com/), que representa o artista em São Paulo e Zurique, Suíça.

Nascido em Riacho das Almas, Agreste de PE, onde reside e executou o projeto, Carlos Mélo impregna este trabalho de temas que estão à sua volta, reforçando seu interesse em criar ponte entre arte e comunidade.

O título da série, “Overlock”, é o nome de uma máquina de costura industrial, bastante utilizada na região, por efetuar a costura e o acabamento ao mesmo tempo. “As peças são obras autônomas, mas também criam uma instalação. A ideia da exposição virtual foi montar as esculturas inseridas na paisagem ampliando o campo relacional entre a arte e o lugar, a natureza e a tecnologia, além do artista como agente cultural capaz de não apenas produzir obras de arte, mas também produzir sentido”, diz Carlos Mélo.

“Overlock” foi realiza com fomento da Lei Aldir Blanc, no Edital de Criação, Fruição e Difusão da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (Secult-PE) e Fundação de Cultura de Pernambuco (Fundarpe).

 

O tecido e as artesãs

O tecido utilizado em “Overlock” é uma espécie de “jeans encorpado” confeccionado pelo Daterra Project (@daterraproject), coordenado pela artesã Adjane Souza, que desenvolve um trabalho sustentável na Vila do Vitorino ao aproveitar ourelas (beiras) de jeans que seriam descartadas pela indústria da moda, resultando em um novo tecido. O Daterra surgiu a partir de um resgate do artesanato em cipó, atividade tradicional naquele lugar e hoje minimamente mantida, devido à escassez da vegetação rasteira e ao foco na produção têxtil.

 

Com o Avoante Ateliê (@avoanteateliedearte), da artesã Merielle Lino, em Caruaru, cidade vizinha, Carlos Mélo interviu com bordados e aplicações de spikes, paetês e outros elementos do universo fashion, apropriando-se do tecido reciclado e o transformando, como faz a cadeia da moda a cada coleção. Esse trabalho colaborativo com as artesãs reforça a relação entre arte e comunidade proposta pelo artista, como um campo de inserção e pertencimento.

As esculturas

Dispostos sobre estruturas de ferro fixadas em árvores, paredes ou no chão, os tecidos formam esculturas que chegam a medir 1,80 m de altura e pesar aproximadamente 30 kg, dada a gramatura do jeans. A presença delas num território agrário esvaziado pode evocar a falta de políticas públicas agrícolas como fator que impulsionou a transição do trabalho:­ do campo para facções de costura montadas nas casas, numa atividade terceirizada para as empresas de moda.

 

Ao flexionar arte, moda e mercado, as esculturas pretendem, também, renovar o imaginário criado há mais de cem anos em torno do Nordeste inventado; caricato e fetichizado pelo selo “regionalista”. Com “Overlock”, Carlos Mélo indica uma mudança de paradigma sobre uma região onde a indústria e a tecnologia podem produzir artefatos; neste caso, deslocados para a arte contemporânea.

SERVIÇO

 

Série “Overlock”, de Carlos Mélo

 

A partir do dia 25 de abril, às 17h

 

Pelo site www.galeriakoganamaro.com/