Nadadores vão a Tóquio após seletiva 'à flor da pele'
Marcado pelos dias de chuva e por caso de doping, a classificação aos Jogos de Tóquio trouxe diferentes emoções aos nadadores
O modelo de seletiva única adotado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para a classificação aos Jogos de Tóquio privilegia quem desempenha melhor sob pressão, mas não gerou consenso entre os atletas. A certeza é que trouxe diferentes emoções e opiniões para os nadadores.
O evento na piscina do Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro, que termina na noite deste sábado (24), já havia classificado, até sexta (23), 17 representantes para a Olimpíada. Também foi marcado pelos dias de chuva e pela revelação do caso de doping de André Calvelo, 20.
O jovem foi flagrado com uma substância proibida fora da competição, ainda em março, mas a suspensão preventiva veio à tona nesta sexta, um dia após ele fazer o melhor tempo nos 100 m livre. Por enquanto, Calvelo está fora da Olimpíada.
Campeã mundial nos 50 m costas (prova não olímpica), Etiene Medeiros, 29, começou a seletiva decepcionada por não conseguir o índice nos 100 m do mesmo estilo.
"É bom a gente falar que não está sendo fácil. É o segundo dia e parece que já foram dez. A expectativa é muito grande, não é coisa de um ano, são cinco, é um peso grande de obrigação, de raiva, tristeza, tudo que a gente está passando, muito peso que a gente tem dentro da piscina", afirmou. Ela teria sua última chance de ir a Tóquio em provas individuais neste sábado, nos 50 m livre.
Dos mais experientes aos mais novos, os atletas ressaltaram o nervosismo que sentiram durante a seletiva e a pressão de ter apenas uma chance de conseguir um lugar no maior evento esportivo do mundo, após um ano vivendo a pandemia, com dificuldade para treinar e quase sem conseguir competir.
"Fica tudo à flor da pele", comentou Luiz Altamir, 24, classificado na equipe do revezamento 4 x 200 m livre.
Mesmo assim, a maioria reconheceu que a pressão faz parte de suas rotinas e que os atletas precisam estar preparados para isso.
Beatriz Dizotti, 21, que conseguiu a vaga nos 1.500 m livre com a melhor marca do país na prova (16min22s07), chegou a abdicar de campeonatos para não correr risco de pegar Covid-19.
Ela contou na quinta-feira que encarou a seletiva de forma leve. "Vou ser bem sincera, hoje eu só nadei para me divertir, fiquei bem tranquila. Acho que se eu colocasse à frente o peso de pegar índice [olímpico] e bater o recorde brasileiro, o meu tempo não seria esse."
"Nunca fiquei tão nervoso na minha vida como fiquei hoje", disse, em contraste, Pedro Spajari, que vai competir nos 100 m livre em Tóquio, tanto na prova individual como no revezamento 4 x 100.
Aos 24 anos, ele foi o segundo melhor de uma forte final (liderada por Calvelo) e bateu o experiente Marcelo Chierighini, 30, finalista da Rio-2016 e também de quatro Mundiais nessa prova.
Se em Tóquio a piscina será coberta e fechada, a seletiva nacional foi disputada no Maria Lenk, local aberto e suscetível às intempéries climáticas como chuva e vento.
"Sinceramente, não vejo tanta diferença, sempre me acostumei com piscina aberta. Claro que é mais frio e o dia chuvoso atrapalha um pouco, mas acho que não foi o caso", afirmou Murilo Sartori, 18, que vai integrar a equipe brasileira no revezamento 4 x 200 m livre.
A história é diferente para quem nada de barriga pra cima. Mesmo se for alguém tão experiente como Guilherme Guido, 34, que já foi a três edições dos Jogos no nado costas. Em Tóquio, pela primeira vez terá um compatriota ao seu lado, Guilherme Basseto, dez anos mais novo.
"O meu resultado com certeza seria melhor se fosse piscina interna. Hoje na prova eu nadei preocupado em não bater na raia, totalmente desorientado, não sabia se estava no meio [da raia]. É um desgaste energético desnecessário, a conta chega no fim da prova", disse.
"Já é preocupante uma seletiva única, na minha visão, ainda mais nas condições que tivemos. Queremos imitar os grandes países, mas as condições daqui hoje não são as mesmas que vamos ter em Tóquio", completou.