Com Teich na CPI da Covid, Bolsonaro chama de canalha quem se opõe ao 'tratamento precoce'
O presidente rebateu as declarações do ex-ministro
No dia em que o ex-ministro Nelson Teich disse à CPI da Covid ter deixado o governo por divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o uso da cloroquina, o mandatário afirmou que quem é contra o chamado tratamento precoce -baseado no uso da substância sem eficácia para a Covid-19 sem apresentar alternativa é "canalha".
"Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa, esse é um canalha. O que eu tomei todo mundo sabe", discursou Bolsonaro no Palácio do Planalto, em evento de abertura da Semana Nacional das Comunicações.
Ele ainda fez referência a Manaus e citou "doses cavalares" de hidroxicloroquina administradas na cidade, o que, segundo ele, precisa ser investigado.
"Espero que a experiência de Manaus com doses cavalares de hidroxicloroquina seja completamente desnudada pelos senadores [da CPI]", afirmou.
Bolsonaro não especificou a que se referia ao citar "doses cavalares". Um estudo realizado em Manaus ainda em 2020 chegou a administrar altas dosagens do medicamento a pacientes para verificar sua eficácia, mas essa administração elevada acabou suspensa após participantes do grupo morrerem.
O governo federal, na gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, colocou a divulgação do tratamento precoce como um dos pilares do enfrentamento à pandemia. Isso ocorreu mesmo com diversos especialistas e entidades destacando que não havia evidência científica de que a hidroxicloroquina tinha algum benefício para o tratamento do vírus, além de estar associada a possíveis efeitos colaterais graves.
Além disso, Manaus, que já havia sido duramente golpeada pela Covid-19 em 2020, viveu no início deste ano um colapso da saúde pública, que incluiu mortes por falta de oxigênio hospitalar.
Bolsonaro defendeu em seu pronunciamento que a CPI convoque médicos que são favoráveis à administração da cloroquina
"Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento", disse.
Bolsonaro ainda sugeriu que farmacêuticas e laboratórios não estariam investindo na busca de um remédio porque um produto do tipo "é barato demais".
"Porque não se investe em remédio? Porque é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso", afirmou.
Com esse argumento, Bolsonaro sugere que farmacêuticas preferem produzir vacinas porque trata-se de uma mercadoria mais cara.
Ecoando a estratégia de aliados do Planalto de usar a CPI para responsabilizar gestores locais, o presidente disse que investigação mostrará desvios de recursos públicos nos estados e municípios.
"Essa CPI, tenho certeza ela vai ser excepcional no final da linha. [Ela] vai mostrar sim o que alguns fizeram erradamente com os bilhões entregues pelo governo para os estados e municípios".
Bolsonaro voltou a declarar ainda que seria uma irresponsabilidade do governo federal comprar vacinas da Pfizer sem uma lei que criasse as condições normativas para que a União assumisse responsabilidades por eventuais efeitos adversos.
"Não podemos injetar algo no braço do povo brasileiro sem responsabilidade", disse.