Com efeito da pandemia, vendas do comércio caem 0,6% em março, diz IBGE
Em relação a março de 2020, fase inicial da pandemia, as vendas do setor subiram 2,4%
Com as restrições provocadas pelo avanço da pandemia, o comércio varejista amargou queda em março. Na comparação com fevereiro, o volume de vendas do setor teve retração de 0,6% no país. O resultado foi divulgado nesta sexta-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A queda só não foi maior devido ao resultado de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Essa foi a única das oito atividades analisadas que registrou alta em março, de 3,3%.
Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, indicou que, em meio a restrições ao comércio não essencial, hipermercados e supermercados absorveram parte da demanda de outros segmentos do varejo. Ou seja, houve uma espécie de migração do consumo.
Segundo Santos, hipermercados e supermercados respondem por cerca de 50% da pesquisa. "Há um efeito de substituição, concentrando a venda de produtos de outras atividades", sinalizou.
O desempenho do comércio é mais um reflexo da perda de fôlego da atividade econômica na largada de 2021. A produção industrial, outro indicador calculado pelo IBGE, recuou 2,4% no terceiro mês deste ano, sob efeito da piora da crise sanitária.
Em relação a março de 2020, fase inicial da pandemia, as vendas do comércio subiram 2,4%. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam desempenho bem mais negativo: retração de 5,5% na comparação mensal e de 2% no recorte anual.
Com o resultado de março, o varejo fechou o acumulado do primeiro trimestre com baixa de 0,6%. Em 12 meses, houve avanço de 0,7%.
"Setores ligados a bens duráveis caíram de forma muito expressiva, como vestuário, móveis e eletrodomésticos. O mês de março teve retrocesso na reabertura da economia. Já era possível imaginar uma piora nos resultados", analisa a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Entre as oito atividades pesquisadas, aquela com maior tombo em março ante fevereiro foi a de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas desabaram 41,5%. Móveis e eletrodomésticos, com baixa de 22%, e livros, jornais, revistas e papelaria, com recuo de 19,1%, vieram na sequência.
Além do agravamento da Covid-19, que restringiu a atividade de lojas, a paralisação de programas de estímulo atingiu a economia após a virada do ano. O auxílio emergencial, por exemplo, só foi retomado em abril, com redução nos valores pagos e corte no número de beneficiários. O programa serviu para proteger a renda de trabalhadores e incentivou setores como o comércio em 2020.
Com o recuo de 0,6% em março, as vendas do varejo voltaram a ficar em nível inferior ao do pré-pandemia. Estão 0,3% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, aponta o IBGE.
Desemprego, inflação e inadimplência em alta também desafiam as lojas neste momento. Em abril, o nível de endividamento voltou a bater recorde no país, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mês passado, o percentual de consumidores com dívidas chegou a 67,5%, alta de 0,2 ponto percentual em relação a março. É o mesmo patamar de agosto de 2020.
"De certa forma, a baixa nas vendas em março confirma a expectativa negativa para o mês, mas com uma queda de magnitude menor. Claro, não podemos comemorar uma queda. O resultado menos negativo pode ser atribuído ao principal segmento do comércio [hipermercados e supermercados]", ressalta o economista Fabio Bentes, da CNC.
O IBGE informou ainda que o varejo ampliado teve retração de 5,3% em março, frente a fevereiro. O setor inclui veículos, motos, peças e material de construção. Ante março de 2020, houve alta de 10,1%. No acumulado de 12 meses, o varejo ampliado caiu 1,1%.
Para Camila, a volta de programas como o auxílio emergencial deve trazer alívio para comerciantes. Entretanto, a retomada mais robusta dos negócios depende do avanço da vacinação contra a Covid-19, sublinha a economista.
"O desemprego vem aumentando. A geração de renda e a recuperação consistente da economia dependem da imunização", pontua a analista.
Com a flexibilização de medidas de distanciamento em diferentes regiões, Bentes projeta avanço no desempenho do varejo em abril.
"O que vai ditar o ritmo do setor é a possibilidade de circulação dos consumidores. O varejo eletrônico cumpriu papel de compensar perdas na pandemia, mas ainda responde por fatia pequena do faturamento total, de cerca de 6%", observa o economista. "O auxílio emergencial foi suspenso no começo do ano e criou uma dificuldade no orçamento de uma parcela das famílias", acrescenta.
No terceiro mês do ano, o varejo foi impactado por medidas de restrições mais duras, implementadas por governos estaduais e prefeituras para tentar conter a epidemia do novo coronavírus. O governo de São Paulo, por exemplo, adotou a fase vermelha do plano local no início de março, impedindo a operação de shoppings e o atendimento presencial no comércio de rua. Em seguida, chegou a ampliar restrições à circulação de pessoas, com a chamada fase emergencial no estado.
Belo Horizonte seguiu o mesmo caminho. Em março, a prefeitura da capital mineira também determinou o fechamento de lojas. Já o Rio Grande do Sul, um dos estados mais impactados pela pandemia neste ano, interrompeu atividades presenciais do comércio entre fevereiro e março.