Eletrobrás

Posse de Limp na Eletrobras vira ato em defesa de privatização

O processo enfrenta resistência de partidos de oposição e de trabalhadores da empresa

Eletrobras - Divulgação

A posse do engenheiro Rodrigo Limp na presidência da Eletrobras, nesta sexta (7), se tornou um ato em defesa do processo de capitalização da estatal, com o qual o governo Jair Bolsonaro (sem partido) espera arrecadar até R$ 100 bilhões.

A Eletrobras é o principal ativo da lista de privatizações do Ministério da Economia, que espera concluir o processo até janeiro de 2022. O governo tenta antecipar o processo para este ano, mas precisaria da conversão em lei da medida provisória que libera os estudos para a estatal, que deve ser votada até 17 de maio.

"Sabemos que o caminho é o caminho da capitalização", disse o presidente do conselho de administração da companhia, Ruy Schneider, o primeiro a discursar no evento. "Não é um caminho fácil, é um caminho que enfrenta obstáculos, antagonismos", completou, dizendo que "impera a má fé" entre os óbices ao processo.

A ideia é oferecer novas ações da companhia a investidores privados, reduzindo a fatia estatal a uma participação minoritária. O governo falava em potencial de arrecadação de R$ 60 bilhões, mas o número foi elevado em recente relatório sobre privatizações do Ministério da Economia.

Os novos números são citados informalmente e ainda não passaram pela checagem de órgãos de controle. As contas consideram R$ 25 bilhões de outorga de energia e a participação na empresa entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões (que, segundo o governo, poderia dobrar de valor no momento da privatização e render uma operação secundária de ações).

O processo enfrenta resistência de partidos de oposição e de trabalhadores da empresa. Como depende de aprovação do Congresso, diferentemente das vendas de ativos da Petrobras, o governo vem trabalhando em uma campanha de convencimento.

 



Em uma das frentes, o presidente Jair Bolsonaro concordou em liberar R$ 8,7 bilhões em obras hídricas em redutos eleitorais para angariar apoio no Legislativo. Em outra, a área econômica defende que a empresa perderá participação no mercado se não tiver dinheiro para investir.

"Sabemos da importância que a empresa tem para com o Brasil, mas sabemos das suas limitações, sabemos dos constrangimentos que a empresa tem enfrentado", disse Schneider, defendendo que a capitalização "representará o que todos nós que nos esforçamos, ansiamos, lutamos pelo progresso do Brasil, desejamos".


Militar da reserva, Schneider é também conselheiro da Petrobras, empresa que tem hoje quatro egressos das Forças Armadas em sua alta administração –três no conselho e o presidente da companhia, o general Joaquim Silva e Luna.


O almirante Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, argumentou que o setor elétrico precisará de R$ 365 bilhões em investimentos nos próximos anos e a capitalização é necessária para permitir à Eletrobras participar desse processo.


"Eletrobras precisa continuar investimentos, para que possa continuar expandindo, gerando retorno à sociedade e seus acionistas", afirmou. "Comparando com seus pares, constatamos de forma clara o potencial de geração de valor sem as amarras de ser estatal."

Limp assume a empresa já após um processo de restruturação visando a capitalização, promovido pela gestão de Wilson Ferreira Junior, que chegou à Eletrobras ainda no governo Michel Temer e decidiu sair no início do ano para assumir a BR Distribuidora.

Sua nomeação teve apoio de Albuquerque, mas foi questionada por investidores minoritários, que esperavam a indicação de um nome escolhido por consultoria especializada contratada para ajudar a empresa na sucessão. O investidor Mauro Cunha, um dos conselheiros, acabou renunciando.

Em seu discurso nesta sexta, Schneider elogiou a trajetória de Limp e lembrou que ele teve papel importante na condução do plano de capitalização enquanto era secretário-executivo de Albuquerque no MME (Ministério de Minas e Energia).

"É um gestor altamente qualificado, com ampla e diversificada atuação", disse o ministro. "Certamente muito contribuirá para a consecução dos objetivos do plano e estratégico da Eletrobras".

Em seu discurso, Limp reconheceu avanços da gestão anterior, que reduziu o elevado endividamento assumido para tocar obras consideradas estruturantes pelos governos petistas, e também citou a necessidade de investimentos bilionários no setor nos próximos anos.

Para que a Eletrobras consolide sua expansão, afirmou, precisa estar capitalizada. "Nesse sentido, é muito importante avançar no processo de capitalização da Eletrobras."