Covid-19

Mesmo com a vacina, prevenção contra o coronavírus segue necessária

Enquanto a maioria da população não estiver imunizada contra a Covid-19, o cenário ficará descoberto e vulnerável às variantes do vírus

A aposentada Maria Cristina, 65 anos, tomou as duas doses da Coronavac, mas continua se cuidando - Julyana Farias/Cortesia

A vacinação contra a Covid-19 trouxe junto com ela a esperança de um futuro melhor. De um mundo no qual poderemos voltar a nos abraçar sem o medo da transmissão do coronavírus. À medida que mais pessoas são imunizadas, os benefícios já podem ser percebidos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Dados divulgados por Estados e municípios mostram evidências de que a vacina vem reduzindo casos de infecção e mortes entre os grupos atendidos. Ainda assim, alguns países ainda enfrentam problemas em suas campanhas de imunização, entre eles a escassez de vacinas.

Entre avanços e imbróglios algumas pessoas que já tomaram as duas doses da vacina têm relaxado com as medidas preventivas recomendadas pelas autoridades sanitárias. Máscaras são deixadas de lado, o isolamento social é ignorado, a higienização das mãos é esquecida. Porém, há quem não se descuida, como é o caso da aposentada Maria Cristina de Farias, de 65 anos, moradora do município de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata do Estado. Ela tomou a segunda dose da CoronaVac na última segunda-feira, mas afirma que continuará adotando outras ações de proteção contra o coronavírus.

Consciente das próprias atitudes ela explica o motivo. “O mundo todo ainda não está vacinado, então temos que nos prevenir. Estou sempre usando máscara, álcool em gel”, comenta. Ela conta ainda que desde o começo da pandemia se mantém isolada em casa. “Passei meses sem ter contato com meus filhos e netos. Vinham me visitar, mas ficavam me vendo de dentro do carro. Foi um período muito triste. Agora, estamos um pouco mais aliviados porque tomei as duas doses da vacina. Me sinto protegida e estou na torcida para que o mundo todo receba a vacina para que a gente volte à nossa vida normal”, afirma. 

Atuando na linha de frente do atendimento a pacientes com Covid-19 em dois hospitais públicos do Estado, o enfermeiro Felipe Gomes dos Santos, 32, já concluiu o esquema vacinal contra a doença, mas afirma que mantém os cuidados, sobretudo por conta das filhas, Liliane, 3, e Lívia, 12. “Eu continuo mantendo o distanciamento social, evito contatos prolongados com os parentes que não moram comigo. Sempre faço questão de tomar banho antes de sair do trabalho e ao chegar em casa não tenho contato com minhas filhas antes de tomar outro banho, higienizar as mãos”, detalha.

Em 2011, Felipe participou com o Exército brasileiro da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti e teve uma experiência semelhante à pandemia. “Quando fui tinha acontecido um terremoto e um surto de cólera, por isso tínhamos muitos desses cuidados que temos hoje”, relembra. Após ver de perto duas crises sanitárias, ele ressalta a importância da vacina e dos cuidados que cada um deve tomar. “Quem for privilegiado e puder se vacinar não pense duas vezes porque a ciência não é por acaso. A gente conseguiu erradicar várias doenças no Brasil através da vacina”, fala.

O enfermeiro Felipe Gomes dos Santos toma os cuidados necessários por conta das filhas

PREVENÇÃO
Especialistas são taxativos e garantem: mesmo com a vacinação, medidas de prevenção contra a Covid-19 seguem necessárias para oferecer proteção segura contra o vírus. O pesquisador da Fiocruz Pernambuco e doutor em biologia molecular, Rafael Dhália, explica que não existe nenhum imunizante capaz de proteger o indivíduo em 100%. Sendo assim, ainda de acordo com o especialista, pessoas vacinadas podem transmitir o vírus e ter complicações em relação à infecção, mesmo que este risco seja considerado mais reduzido.

“Nós só poderemos começar a vislumbrar uma flexibilização das medidas de proteção, alguns meses depois de atingirmos a imunidade de rebanho (quando aproximadamente 70% da população brasileira estiver imunizada, com as duas doses). O relaxamento terá de ser de forma consciente e gradual, inclusive adotando medidas de testagem, rastreamento de contato e manutenção da cobertura vacinal”, disse Dhália. Ele afirma que somente depois de haver uma redução drástica da circulação do vírus, será possível começar a voltar a conviver de forma segura.

O pesquisador informa que as vacinas da Sinovac, AstraZeneca e da Pfizer, em uso no Brasil, apresentam 50.65%, 76% e 91.3% de eficácia, respectivamente. Esses números se referem à taxa de proteção, em relação à infecção por Sars-Cov-2, ou seja, mesmo recebendo o imunizante ainda é possível contrair à Covid-19. “As pessoas vacinadas, quando são infectadas pelo vírus, apresentam na sua grande maioria uma proteção contra as formas graves da doença. Portanto, estes imunizantes nos protegem no sentido de reduzirem os casos de internações e evoluções para as formas graves da doença”, diz.

Diante deste cenário, a infectologista Heloísa Ramos Lacerda orienta que o uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e demais medidas de proteção contra a doença continuam válidas. “Estando ou não com sintomas de Covid evite aglomerações, não se reúna com outras pessoas se não for realmente necessário, lave as mãos com frequência. O número de pessoas que se encontram está proporcionalmente associado ao risco de adquirir uma infecção”, acrescenta. Além disso, vale lembrar que leva alguns dias para as vacinas fazerem efeito e durante este período é possível contrair a doença e acabar desenvolvendo a forma grave, antes de desenvolver a proteção. 

“Alguém que foi vacinado com as duas doses tem boas chances de ao ser infectado desenvolver forma leve ou moderada da doença, não precisar de internamento em UTI e até mesmo evitar a morte. No entanto, pode transmitir o vírus para alguém da sua casa que ainda não foi imunizado e esta pessoa ter a forma grave. Por isso, a importância de continuar seguindo as medidas de prevenção”, acrescenta Heloísa Ramos Lacerda, que também é professora dos cursos de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

CAMPANHAS
A diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Carissa Etienne, ressaltou, em coletiva de imprensa realizada nesta semana, a necessidade de os governos promoverem campanhas de comunicação abrangentes de modo a convencer que as pessoas cumpram as medidas de prevenção e se vacinem. Entre as ações, devem tentar dialogar sobretudo com quem duvida da eficácia da imunização. Na ocasião ela enfatizou que neste momento é preciso manter as medidas de prevenção contra a Covid-19, como uso de máscaras e distanciamento social.

A diretora argumentou que a vacinação é fundamental para o combate à pandemia, mas que até agora os países da América Latina e Caribe ainda não receberam doses suficientes para uma imunização mais abrangente contra o coronavírus. “Embora as pessoas estejam sendo vacinadas, não podemos confiar nas vacinas para reduzir as infecções quando não há vacinas para todos. Elas são uma parte das respostas abrangentes que inclui a prevenção por meio de medidas de saúde. É por isso que precisamos fazer tudo para dobrar a curva e reduzir as infecções”, destacou Etienne.

De acordo com o secretário estadual de Saúde, André Longo, no momento da vacinação os profissionais de saúde orientam a população sobre a importância de manter as medidas preventivas. Ele destaca também que no cartão de vacina que as pessoas recebem há um pedido para que ações continuem sendo seguidas. Ainda segundo Longo, o uso de máscara, distanciamento e higienização são regras de educação sanitária que precisamos incorporá-las ao nosso cotidiano. “Só quando atingirmos um nível de imunidade coletiva é que poderemos, como outros países começam a fazer, pensar em abolir seu uso de forma sistemática, mas não há ainda nenhuma previsão que a gente possa dar para que isso venha a ocorrer”, falou durante coletiva remota na última quinta-feira.