Lula tenta isolar Bolsonaro na direita radical para 2022, e presidente se agarra a anticomunismo
O apoio do empresariado é considerado fundamental para a manutenção da governabilidade do presidente
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se agarra à bandeira do anticomunismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer deixá-lo isolado na direita radical para as eleições 2022.
Depois de avançar sobre aliados políticos do adversário, Lula se prepara para ampliar o leque de conversas a partir de agora e disse que vai procurar o empresariado.
"A gente precisa voltar a conversar com todo mundo. Conversar com empresários, conversar com os sindicatos, conversar com os trabalhadores, conversar com os partidos políticos para que a gente possa ter certeza que estamos trabalhando para recuperar a democracia no nosso país e voltarmos a ter um país feliz, onde as pessoas todas possam viver em paz", afirmou Lula em um vídeo que publicou nas redes sociais na sexta-feira (7).
O anúncio da intenção do petista de procurar empresários ocorre no momento em que Bolsonaro busca se reaproximar de representantes do PIB (Produto Interno Bruto).
O apoio do empresariado é considerado fundamental para a manutenção da governabilidade do presidente, mas ficou ameaçado diante da condução do enfrentamento da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 420 mil pessoas no Brasil.
A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que, nesta semana, as próximas agendas de viagens e encontros começarão a ser discutidas.
A equipe do ex-presidente está cautelosa em relação a rodar o Brasil para não provocar aglomerações, um contraponto a Bolsonaro que Lula tem buscado fazer desde que recuperou seus direitos políticos.
Ao longo da semana passada, Lula não dialogou apenas com nomes da esquerda, mas foi atrás de antigos aliados, que hoje têm alguma relação com Bolsonaro, e de nomes mais à direita que criticam o atual presidente, como Rodrigo Maia (DEM-RJ), que deve migrar para o PSD.
Nos últimos dias, Lula recebeu Gilberto Kassab (PSD), visitou José Sarney (MDB) –movimento que Bolsonaro havia feito uma semana antes– e telefonou para Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, que chegou ao posto com ajuda do presidente da República.
Antes da viagem a Brasília, Lula já havia tido uma conversa por telefone com Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Tanto o PSD como o PL têm nomes de seus quadros ocupando ministérios importantes –Fábio Faria (PSD) é ministro das Comunicações e Flávia Arruda (PL) chefia a Secretaria de Governo.
Em conversas com embaixadores de sete países, o ex-presidente discutiu a degradação do meio ambiente no Brasil, um dos pontos fracos da gestão Bolsonaro.
Com parlamentares de diversas legendas, Lula procurou viabilizar ambiente favorável para o aumento do valor do auxílio emergencial para R$ 600 até o fim da pandemia. No ano passado, foram cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300. Em abril deste ano, o governo começou a pagar quatro parcelas de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375.
É num contexto de buscar a diversidade que Lula quer incluir conversas com o empresariado e com diferentes partidos de outros espectros.
"Iniciamos um processo de intensa articulação na direção de Lula liderar uma ampla frente para enfrentar Bolsonaro e tratar os problemas que o Brasil está vivendo. Quando ele defende um plano de reconstrução do Brasil, pretende liderar uma ampla coalizão que não fique restrita ao PT", disse o deputado José Guimarães (PT-CE), que acompanhou a maior parte da agenda de Lula em Brasília.
Lula ainda não admite ser candidato, embora políticos que se encontraram com ele na semana passada digam que, para eles, está evidente a disposição do petista em enfrentar Bolsonaro em 2022.
O quanto o ex-presidente vai conseguir avançar em direção ao centro e à direita moderada vai depender da disposição dos partidos de lançar candidatos ou de aderir a uma frente ampla. Hoje, legendas como PDT, PSD e PSDB, por exemplo, indicam intenção de disputar a eleição presidencial como protagonistas.
Pessoas próximas ao petista dizem acreditar que ainda falta muito tempo para as eleições e que não há unanimidade interna nas siglas, o que pode permitir mais adiante alianças inviáveis no momento.
Já nos estados, aliados de Lula veem mais viabilidade na formação de frentes amplas. O Rio de Janeiro é onde o diálogo mais avançou nos últimos dias. Por enquanto, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) é o favorito para disputar por esta frente o Governo do Rio, enfrentando o nome que dará palanque para Bolsonaro.
Pelo lado do presidente da República, o avanço das articulações esbarra no fato de Bolsonaro ainda não ter decidido para qual partido irá. Aliados do mandatário reclamam nos bastidores da indefinição e cobram a decisão que havia sido prevista para março.
Enquanto isso, Bolsonaro procura manter sua militância aquecida. Nos últimos dias, intensificou críticas a Lula e ao socialismo e ao comunismo, do qual acusa o petista de ser representante.
"Nós podemos mudar o destino do Brasil, depende de cada um de vocês. Deixar bem claro, tem eleições no ano que vem, não estou falando se vou disputar ou não vou, mas é a hora de você se preparar para ajudar a mudar o destino do Brasil. Você pode mudar o destino do Brasil se você trabalhar corretamente", disse Bolsonaro em sua live de 29 de abril, logo após relacionar maiores índices de pobreza à existência de um maior número de políticos de partidos de esquerda.