Bolsa cai 2,65% após salto na inflação dos EUA
Ibovespa fechou nesta quarta (12) a 119.710 pontos e o dólar subiu 1,56%, a R$ 5,3060, acompanhando a força da moeda no exterior
O mercado acionário global teve um dia negativo com a alta na inflação americana acima do esperado nesta quarta-feira (12). No Brasil, o Ibovespa caiu 2,65%, a 119.710 pontos, com uma queda de 3,70% da Vale.
Dados divulgados nesta quarta mostraram que os preços ao consumidor americano subiram 4,2% em abril ante o mesmo mês de 2020, um aumento superior ao antecipado por economistas e a maior alta registrada em quase 12 anos.
Investidores temem que os pacotes de estímulo do presidente Joe Biden nos EUA, gargalos no abastecimento e demanda elevada gerada pelo avanço rápido da vacinação contra o coronavírus possam conduzir a uma disparada arriscada dos preços nos próximos meses.
Neste caso, os estímulos podem ser reduzidos e o juro pode subir, o que prejudicaria o mercado de capitais.
Hoje, o juro nos EUA está próximo de zero, o que impulsiona o mercado de capitais, com empréstimos mais baratos e ações com rentabilidade acima da renda fixa.
Além de subir os juros, outra opção para o banco central americano (Fed) frear a inflação seria reduzir em ritmo mais rápido do que o planejado suas aquisições mensais de US$ 200 bilhões em ativos, que estimularam os mercados de ações durante a pandemia.
"O movimento nas Bolsas globais também é de pessimismo. Mesmo com o presidente do Fed afirmando que qualquer alta dos preços deve ser transitória, a autoridade também afirmou que uma inflação desancorada pode levar ao uso de instrumentos para levar o indicador à meta", afirma Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.
Na visão da Rico, que pertence ao grupo XP, a pressão nos preços é temporária e está relacionada a fatores intrínsecos à pandemia e aos estímulos.
A Guide Investimentos tem opinião semelhante. "Tais pressões são temporárias e irão se dissipar com o decorrer do tempo na medida em que a oferta de curto prazo da economia se normaliza. Sendo este o caso, não há por que esperar um aperto precoce da política monetária", escrevem os analistas da corretora.
Segundo eles, o mercado está muito focado na pressão inflacionária de curto prazo, deixando de lado as pressões desinflacionárias estruturais "provenientes do lado da oferta da economia, tal qual o avanço tecnológico, a globalização e o envelhecimento da população".
Neste pregão, as Bolsas americanas passaram por mais uma correção. O índice S&P 500 caiu 2,14% e o Dow Jones, 1,99%. O Nasdaq caiu 2,67%.
Já o rendimento do título de dez anos do Tesouro americano -referência global para investimentos- saltava 7,1 pontos-base no fim da tarde.
O dólar subiu 1,56%, a R$ 5,3060, acompanhando a força da moeda no exterior. Ao fim do pregão, a divisa ganhava entre 0,7% e 1,6% ante alguns dos principais pares do real.
Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), comentou que a surpresa com a inflação nos EUA foi de 6,7 desvios-padrão.
"Com a reabertura dos EUA, os rendimentos norte-americanos de longo prazo continuarão subindo, colocando pressão de apreciação sobre o dólar. Não estamos em um ambiente de dólar fraco", escreveu Brooks no Twitter.
Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, a redução de estímulos nos EUA vai ocorrer a partir de 2022, o que contribuirá para a alta do dólar de R$ 5,30 ao fim de 2021 para R$ 5,50 no término do ano seguinte. Em 2021, o real ainda deve se beneficiar da alta das commodities e dos aumentos de juros pelo Banco Central.
"As commodities ajudam um pouco [o real], mas nem tanto. A política monetária ajuda, mas nem tanto. E o risco fiscal segue elevado", disse Mesquita.
A escalada da moeda nesta quarta ocorreu ainda em meio à elevada temperatura política em Brasília, com o relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), pedindo a prisão do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten por supostamente mentir à comissão. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), contudo, rejeitou o pedido.
Na Bolsa brasileira, o destaque foi o Banco Inter, que caiu 7,76%, mesmo após lucro de R$ 20,8 milhões no primeiro trimestre, revertendo prejuízo de R$ 8,4 milhões um ano antes.
Segundo Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, a queda pode ser explicada pela contração na margem financeira líquida do banco, que caiu de 7,5% no começo de 2020 para 6% neste ano, "o que mostra que houve redução da rentabilidade obtida pela diferença entre a receita da intermediação financeira e o custo de captação, em relação aos ativos rentáveis".
A Marfrig também teve forte queda após divulgar balanço, com recuo de 7,72%.
Na outra ponta, a BR Distribuidora avançou 5,06%, após resultado do primeiro trimestre, quando a distribuidora de combustíveis mais do que dobrou o lucro, para R$ 492 milhões, e acordo de renegociação de dívida com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).