Ciência

Pesquisadores da Fiocruz-PE integram equipe que investiga ressurgimento da dengue no Brasil

O estudo, publicado em revista internacional, investiga os números abaixo da média nos casos de dengue entre os anos de 2017 a 2018

O estudo mostra qual a origem dos vírus que causaram a epidemia de 2019 - Arquivo/Agência Brasil

Integrado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz - Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), estudo identificou possíveis respostas para a diminuição de casos reportados de dengue entre o ano de 2017 e 2018, e quais as origens dos vírus que causaram a epidemia de 2019 no Brasil.O fenômeno aconteceu logo após a tríplice epidemia dos vírus zika, dengue e chikungunya em 2016. Os resultados da pesquisa foram publicados na última terça-feira (11) na revista científica Nature Communications.

“Nossos achados mostram que a epidemia foi causada majoritariamente por Dengue 2 no Sudeste e Dengue 1 no Nordeste brasileiro e que estas linhagens já estavam circulando no país por mais de uma década”, explica um dos pesquisadores da Fiocruz PE que integrou a equipe responsável por esse estudo, Gabriel Wallau.

Alinhado com outros estudos previamente publicados, os resultados mostram que grande parte da população foi infectada pelo vírus zika, o que pode ter produzido imunidade cruzada contra o vírus da dengue resultando em uma grande diminuição do número de casos no ano de 2017 até 2018. O aumento da imunidade da população também pode ser uma justificativa para o efeito, devido às altas taxas de infecção pelo próprio vírus da dengue nos anos anteriores a 2016 e/ou a uma combinação desses fatores. 

No Brasil, onde epidemias anuais levam ao adoecimento de milhares de brasileiros, o vírus da dengue é uma das maiores ameaças à saúde pública. Presente principalmente nas regiões tropicais do globo, soma 2,1 milhões de casos apenas no ano de 2019. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil foram registrados 273.193 casos prováveis de dengue no mesmo ano. 

O grupo utilizou o sequenciamento genômico do vírus da dengue de amostras coletadas no Nordeste e Sudeste do Brasil. Ainda de acordo com Gabriel Wallau, mesmo que em pouca quantidade o vírus continuou circulando.  “De qualquer forma, o vírus da dengue se manteve circulando com baixa prevalência até seu ressurgimento massivo na população suscetível em 2019”, complementa o pesquisador.

Dados genômicos, ecológicos e epidemiológicos foram utilizados de forma combinada no estudo, no intuito de investigar a dinâmica do reaparecimento desse vírus.  Mas os cientistas ressaltam que são necessárias novas pesquisas para que se possa entender com precisão como as linhagens do vírus da dengue podem permanecer não detectadas por longos períodos de baixa transmissão


O estudo foi realizado em cooperação por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco; das universidades norte-americanas de Yale, Florida e Notre Dame; da Universidade de São Paulo (USP / Ribeirão Preto) e do Rega Institute for Medical Research (Bélgica). Intitulado Lying in wait: the resurgence of dengue virus after the Zika epidemic in Brazil, o artigo produzido pela equipe da pesquisa pode ser acessado em https://www.nature.com/articles/s41467-021-22921-7

Além de Wallau, participaram também o pesquisador Rafael França, do Departamento de Virologia e Terapia Experimental, e os alunos da Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde da instituição Lais Ceschini e Filipe Zimmer.