Tirar a máscara ou mantê-la? A confusão reina nos Estados Unidos
Debate sobre o uso do acessório tem dividido opiniões entre os norte-americanos
Com ou sem máscara? O levantamento da recomendação de usá-la feita por autoridades de saúde dos Estados Unidos aos que completaram o esquema vacinal (duas doses) contra a Covid-19 pegou de surpresa autoridades locais, especialistas e empresas americanas. E, nesta sexta-feira (14), causou um acalorado debate e muita confusão.
Mesmo no Congresso, houve dúvidas quando alguns presentes foram convidados a tirar as máscaras, apesar do pedido feito pelo presidente Joe Biden na véspera de que aqueles que preferirem mantê-las sejam "tratados com bondade e respeito".
Após o anúncio feito na quinta-feira (13) pela principal agência federal de saúde pública, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a prática rapidamente se alinhou com a teoria.
Aparentemente simples à primeira vista, a diretriz gerou um emaranhado de questionamentos, em um país que foi por muito tempo o epicentro da pandemia e onde o debate sobre o uso da máscara, na época de sua generalização durante todo o ano passado, se tornou uma questão partidária.
As recomendações do CDC não são vinculativas e a decisão cabe às autoridades estaduais e locais ou às diretorias de negócios e lojas. Elas não se aplicam no transporte público, incluindo aviões, e em hospitais.
Essa situação deixou patrões e autoridades locais em um dilema: decidir entre as recomendações das autoridades científicas e as preocupações dos americanos ainda afetados pelas repercussões do vírus no país mais atingido pela pandemia, com mais de 580 mil mortes.
"Até agora, as máscaras eram importantes e de repente não são mais", disse Ivan Matta, 47 anos, funcionário de uma agência de turismo de Nova York.
“O meu receio é como vai ser verificado se as pessoas estão totalmente vacinadas ou não? Acho que tem muita gente que não vai mais usar a máscara mesmo que não esteja vacinada”, acrescenta.
Mistura de regras
Em Nova York, mas também em Washington, as autoridades indicaram brevemente que iriam "estudar" as novas recomendações.
Sinal da confusão, a primeira-dama, Jill Biden, tirou a máscara na quinta-feira durante uma visita a um centro de vacinação, mas voltou a usar a proteção no dia seguinte em um museu na capital.
Em outros lugares, também há uma mistura de regras: em Minnesota e na Pensilvânia, as obrigações em vigor foram atualizadas imediatamente. Em Connecticut, a nova regra não se aplicará até a próxima semana.
No Texas, a recomendação em última análise não mudará muito as coisas: a exigência de máscara foi abandonada em março, mesmo para os não vacinados.
As dúvidas surgiram também nas redes de supermercados, muitas das quais introduziram a obrigatoriedade de uso de máscaras faciais para todos os seus clientes.
Após um dia de reflexão, o Trade Joe's e o número um em distribuição, o Walmart, anunciaram que respeitariam as novas regras, enquanto Aldi disse que manterá a situação como está.
Nas fábricas da General Motors, a máscara continua em vigor por enquanto para "estudar" as novas recomendações.
“As recomendações do CDC são confusas”, reclamou o sindicato dos distribuidores de alimentos e bebidas UFCW. "Trabalhadores essenciais são frequentemente expostos a pessoas que não foram vacinadas e se recusam a usar máscaras. Eles vão ter que fiscalizar a vacinação."
Promoção da vacinação
A maioria dos cientistas, que por muito tempo consideraram as recomendações de saúde muito cautelosas, aplaudiram os novos anúncios.
As vacinas são eficazes contra variantes, reduzem drasticamente a chance até mesmo de infecções (e não apenas de desenvolverem sintomas) e, nos raros casos em que a doença ocorre de qualquer maneira, a carga viral é reduzida, concluíram estudos.
Portanto, eles mostram que as pessoas vacinadas (cerca de 36% da população dos Estados Unidos) não colocam a si mesmas ou outras pessoas em perigo, sem falar que os casos diários caíram drasticamente.
Além disso, em um país onde o fornecimento de vacinas agora supera a demanda, as autoridades esperam encorajar aqueles que estão relutantes em dar este passo.
No entanto, alguns especialistas expressaram reservas sobre o levantamento imediato da recomendação da máscara, especialmente para áreas onde as taxas de transmissão ainda são altas.
A epidemiologista Caitlin Rivers, por exemplo, teria preferido que este anúncio dependesse de que a nível local "houvesse menos casos diários a cada 100 mil pessoas".
"Dê às pessoas tempo para se organizar", disse Linsey Marr, especialista em transmissão de vírus pelo ar.