CPI DA COVID-19

Jamais pautaria nomeação de Ernesto para qualquer embaixada, diz Kátia Abreu após embate em CPI

Senadora Kátia Abreu (PP-TO) - Edilson Rodrigues / Agência Senado

Após mais um embate com Ernesto Araújo durante depoimento dele à CPI da Covid nesta terça-feira (18), a senadora Kátia Abreu (PP-TO) afirma que o ex-chanceler deixou de ser diplomata para se tornar um "Ernestominion" e que por isso não vai chefiar nenhuma embaixada enquanto ela for presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores) -até fevereiro de 2023.

"Eu te garanto que, nesses próximos anos, o Senado não o vê no quadro atual como representante do Brasil em nenhuma embaixada. Pelo menos de minha parte, eu jamais o pautaria para qualquer parte do mundo", afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

O então chanceler manteve uma relação conflituosa com os senadores. O auge da crise foi uma postagem nas redes sociais, na qual insinuou que Kátia Abreu havia feito lobby em favor da tecnologia chinesa no leilão do 5G. Dois dias depois, Ernesto foi demitido.

Durante a sessão da CPI da Covid, Kátia criticou duramente o ex-ministro durante 20 minutos, sem ter feito nenhuma pergunta. Disse que Ernesto à frente do Itamaraty era uma bússola que levava para o caos, o chamou de negacionista compulsivo e disse que ele levou o Brasil à irrelevância.

A fala depois se tornou motivo de meme na internet, com caricaturas da senadora pisando em Ernesto ou indicando que ela seria um "trator".

"Eu fico rindo. As pessoas, mesmo diante de uma tragédia dessas, procuram uma forma de aliviar o sofrimento e rir, porque esse homem destruiu a nossa imagem", afirma.

Como avalia a participação de Ernesto Araújo na CPI?
KÁTIA ABREU -
Absolutamente nada com nada. Para mim, ele mentiu o tempo todo e isso é público e notório. Não precisava nem eu dizer. Mentiu quando disse que não fez uma má diplomacia, que não atacou a China, que não atacou o embaixador da China, a OMS, que não fez nada de errado com a eleição do Biden, sobre o comportamento e declarações na ONU.

Ele diz que não aconteceu nada disso. Prestou conta de uma folha corrida, inclusive falando que a maior parte das vacinas chegaram ao Brasil sob a gestão dele. Aí eu disse que ele estava não só faltando com a verdade, que, até abril, na gestão dele, 85% das vacinas tinham vindo da China graças ao Butantan e ao estado de São Paulo.

A fala repercutiu bastante. A senhora se preparou ou falou de improviso?
KA
- Para ser muito sincera, eu na verdade estudo muito [para as sessões], mas ontem [segunda] excepcionalmente eu tinha ficado muito ocupada o dia todo com essa proposta, que eu imagino que poderíamos transformar o Brasil em um hub de vacinas para a América Latina, que é o que eu estou pretendendo com a Sinofarm, que é a fabricante chinesa governamental, que é como o Butantan ou a Fiocruz da China.

Então minha ideia seria atrairmos a Sinofarm para que usássemos as fábricas de [febre] aftosas no Brasil, as três fábricas, para produzir aqui vacinas para a região. Então passei o dia envolvida nisso. Quando chegou 19h, eu falei "tem a CPI amanhã", aí que fui começar a juntar material, as matérias, algumas eu sei de cabeça também.

Foi o primeiro embate público com Ernesto após a acusação dele. Estava engasgado?
KA -
Não, quando você tem a consciência tranquila, fica aborrecida na hora, tem que se indignar. Na primeira vez que ele disse, foi um absurdo tão grande, foi covarde. Eu já tinha estado com ele há mais de dez dias, não falou nada. Depois foi no Senado e não disse nada. E depois covardemente, escondido por trás de um Twitter, fez aquela denúncia insana, falsa [sobre lobby no leilão do 5G].

Mas hoje achei que o assunto não tinha nada a ver. Depois que saí de lá, ele aproveitou-se da pergunta de um senador e disse que confirmava tudo. Então o que a [senadora] Simone Tebet fez lá por mim é o que eu faria se ele tivesse falado pra mim. Eu quero chamar os 12 diplomatas que estavam presentes [na reunião]. Será que eu iria fazer alguma coisa não republicana na frente de uma plateia desse tamanho? Eu penso que não. Eu penso que essas coisas a gente faz escondidinha. Eu nunca fiz, não, mas penso que seria assim.

O que aconteceu?
KA
- Na noite anterior ao almoço com Ernesto, eu estava em um jantar na casa de determinada pessoa, onde havia algumas autoridades, e um ministro do governo Bolsonaro disse que Ernesto está enlouquecendo o presidente com a questão do 5G. No dia que fui no Ernesto, que foi no dia 4, o edital da Anatel já tinha sido publicado, no dia 26/02, sem veto à China.

Então, no outro dia, eu já cheguei com essa preocupação. E, naquela hora, apesar da grande importância do 5G, eu me preocupei muito mais com as exportações brasileiras. E outra questão que eu falei com ele, mas como ele é um fraco e covarde não mencionou, foi a questão do desmatamento, que estava prejudicando o acordo União Europeia e Mercosul. Ele não disse nenhuma palavra, concordou comigo. Por isso que digo que ele tem duas personalidades: ele concorda, mas pelas costas vai e age de forma contrária.

Na sessão, a senhora não fez perguntas. Avaliou que não valeria a pena?
KA -
Eu não fiz questão das respostas dele, não esperava e nem queria, porque ele não teve respostas. Ele não teve respostas para o Renan e nem para o Marcos Rogério. Ele nem sabia se a Sinofarm e a Sinovac, que chegou a abril com 80% das vacinas no Brasil, era pública ou privada.

O que achou dos memes que circularam após a fala da senhora?
KA -
Eu achei algumas coisas engraçadas. O brasileiro, mesmo com raiva, ele tem muito bom humor. E eu penso que, se a gente não conseguir rir de si próprio, seria muito triste. Então fizeram mil bonequinhos, eu pisando nele, eu puxando o cabelo, então eu fico rindo.

As pessoas, mesmo diante de uma tragédia dessas, procuram uma forma de aliviar o sofrimento e rir, porque esse homem destruiu a nossa imagem lá fora. Ele fez um estrago, não foi sozinho, mas cooperou demais. Ele fez um estrago, uma coisa difícil de medir.

Qual acha que será o futuro de Ernesto?
KA -
Eu te garanto que nesses próximos anos o Senado não o vê no quadro atual como representante do Brasil em nenhuma embaixada. Pelo menos de minha parte, eu jamais o pautarei para qualquer parte do mundo. E não por causa dessa denúncia boba de 5G, isso é bobagem.

Se ele fosse muito competente, eu agiria de forma diferente. Mas é pela incompetência, pela intransigência, pelo componente destruidor que esse rapaz tem dentro de si. Por conta do componente ideológico, ele não está preparado para ir para nenhuma embaixada do mundo.

Agora nada impede que ele faça uma reflexão, que ele retorne para os caminhos do Instituto Rio Branco, nada impede que ele tome o caminho de volta e que possa de fato ser um diplomata. Porque hoje ele é apenas um Ernestominion. No dia que ele voltar a ser diplomata, eu mesmo votaria nele para qualquer embaixada no mundo para ele representar.