Choro: em Pernambuco, gênero é referência para velhas e novas gerações
Choro se tornou símbolo nacional, tendo Pixinguinha entre os seus maiorais
Ser brasileiro, e não ter ouvido uma vez sequer “Brasileirinho” ou “Tico Tico no Fubá”, deveria ser tão improvável quanto não se inebriar com rodas de cavaquinhos e violões em praças ou palcos dedicados ao choro, gênero que celebrou, no último 23 de abril, 150 anos.
Não por acaso, a data foi instituída como o Dia Nacional do Choro em menção ao nascimento de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. Carioca (como o choro) - e incontestável pela genialidade em polcas, maxixes, sambas e chorinhos tipicamente abrasileirados por sonoridades rurais e afro-brasileiras em arranjos irretocáveis - ele segue, entre as referências, como um maioral, tal qual Ernesto Nazareth, Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim, entre outros nomes que fizeram do gênero símbolo da cultura nacional.
“A composição, o estilo do choro... ele é carioca e tem o seu jeito único de ser tocado. Mas em qualquer lugar que se vá, lá vai estar uma roda de choro”, enfatiza Bozó Sete Cordas, um dos nomes locais e obrigatórios quando se fala do choro em terras pernambucanas. Caçula de uma casa tomada por irmãos instrumentistas, ele cresceu presenciando encontros levados por nomes como Canhoto da Paraíba, Aprígio do Bandolim e Waldir do Cavaquinho.
“Convivi com este ambiente, mas eu era ouvinte da Jovem Guarda”, conta ele que migrou da turma do “iê iê iê” para o violão sete cordas depois de presenciar choros levados por Paulinho da Viola em um show. “Era flauta, cavaquinho, piano, violão, uma coisa linda”, relembra.
Em meio ao rigor que o gênero exige para ser tocado, e como diria Bozó, “só sabe tocar choro quem estuda”, dos conjuntos de chorões formados por Pixinguinha - com o Grupo Caxangá na longíqua década de 1910, e que contava inclusive com o violonista João Pernambuco - até chegar às novas gerações, o choro se mantém intacto pelo sonoridade peculiar a que é levado por instrumentos como o violão, o cavaquinho, o pandeiro como base, além da flauta, do bandolim, do piano e até de guitarras elétricas, para os que ousam em tocar o gênero com um quê de modernidade.
Por aqui, o gênero ganhou uma data própria: 16 de outubro, Dia Estadual do Choro – data instituída pela Lei 14.178/2021. Pensado dentro do coletivo “Isto é Choro!” - movimento criado por Wagner Staden, produtor de Betto do Bandolim e que integra também o grupo, assim como o compositor Walmir Chagas - a data, além de homenagear o violonista João Pernambuco, pretende viabilizar eventos e atrair novas gerações.
Mulheres no Choro
De Chiquinha Gonzaga (1847-1935) a Maria Flor, 30, pernambucana que integra o Gingadinho Trio, a pandeirista do grupo - formado também pelos musicistas Isaque Sete Cordas (violão) e Rinaldo Júnior (cavaquinho) - enaltece a ainda ínfima presença feminina em rodas de choro que, localmente, guarda nomes como Tia Amélia (1897-1983) e as irmãs Maíra e Moema, professoras do Conservatório Pernambucano de Música (CPM).
Do teatro, da dança, da música e do frevo, manifestação pela qual ela assume predileção, Maria Flor é também dos pandeiros que perfazem a nova geração do choro, gênero a que foi levada depois de um convite de Bozó que sugeriu que ela acompanhasse alunos do CPM em um repertório composto por chorinhos.
“Foi assim que comecei a vivenciar o gênero e fiquei bem impressionada com o engajamento das pessoas, e com Bozó entre as referências, a gente vai aprendendo sem peso e com muitas alegrias”, contou ela, que guarda estima especial por Mestre Chocho – chorão de peso da cultural local e o mais antigo em atividade no Brasil, uma das vidas perdidas pela Covid-19 em outubro de 2020.