Otimismo de empresas cai com incerteza econômica e falta de confiança no governo, diz FGV
Foram consultadas 4.046 empresas, de 1º a 28 de abril, por meio de formulário eletrônico e telefone
As expectativas das empresas brasileiras com o ambiente de negócios piorou nos últimos seis meses, com o aumento das incertezas econômicas, das restrições provocadas pela pandemia e da falta de confiança na política econômica do governo.
É o que mostra sondagem especial realizada pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) em abril.
O otimismo era de 70% em outubro, quando havia uma avaliação de continuidade de flexibilização das medidas de reabertura das atividades e recuperação da economia. Agora, 57% dos empresários dizem ter perspectivas positivas para os próximos seis meses.
O percentual dos que citam as incertezas econômicas como principais fatores que estão influenciando negativamente as expectativas passou de 67% para 74% no período.
O aumento de restrições para conter a pandemia e a falta de confiança na política econômica do governo federal aparecem em seguida, praticamente empatados, com 56% e 55%, respectivamente.
No sentido contrário, entre os fatores que puxam o otimismo atualmente, se destaca a expectativa de ampliação do programa de vacinação, citada por 66% dos entrevistados, seguida pelas perspectivas de retomada da economia mundial (48%).
As empresas também falaram sobre os maiores desafios operacionais que vêm enfrentando durante a pandemia. Trabalhadores em licença por motivos de doença (Covid-19) é o principal, citado por 34% das empresas, seguido pela adaptação a novas regras de funcionamento (33%) e falta de produto ou dificuldade de entrega dos fornecedores (31%).
Foram consultadas 4.046 empresas, de 1º a 28 de abril, por meio de formulário eletrônico e telefone.
O economista Rodolpho Tobler, da Superintendência Adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre, afirma que a pesquisa manteve o padrão histórico de ter mais empresários otimistas do que pessimistas, mas houve uma piora ligada à frustração com as expectativas verificadas há seis meses.
Segundo Tobler, a piora da pandemia e da crise econômica derivada dela neste ano surpreendeu o setor produtivo, que em outubro do ano passado não trabalhava com a hipótese de um recrudescimento das restrições sanitárias dessa magnitude.
Apesar de vários dados econômicos apontarem que a economia cresceu no primeiro trimestre deste ano, o desempenho e o nível de abertura das atividades está aquém do que era esperado há seis meses.
"Não estava muito no radar das pessoas no final do ano passado que a gente fosse atingir esse momento mais crítico, que seria necessário ter medidas restritivas novamente", afirma o economista.
Para ele, a piora nas expectativas contribui para colocar um pé no freio nas decisões de contratação e investimento, o que retarda a recuperação do emprego e da atividade.
Viviane Seda Bittencourt, superintendente-adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre, afirma que uma diferença importante entre os dois períodos pesquisados é a falta de suporte do governo ao setor empresarial e aos consumidores.
Programas de auxílio emergencial, redução de jornada e linhas de crédito para micro e pequenas empresas foram interrompidos e só retomados a partir do fim de março.
Viviane destaca o aumento no percentual de empresários que citam a falta de confiança na política econômica do governo, especialmente na indústria (passou de 30% para 54%) e na construção (de 50% para 66%). Ela lembra que o setor industrial ainda se recupera em ritmo acelerado em outubro, mas agora vive um momento de desaceleração e de redução da ajuda governamental.
Os dois pesquisadores do Ibre afirmam que as empresas também estão mais frágeis financeiramente, devido ao prolongamento da crise, principalmente as micro e pequenas. O mesmo ocorre com os consumidores, que enfrentam dificuldade de obter emprego, perda de renda e um nível alto de endividamento.
"As empresas, principalmente as micro e pequenas, estão muito abaladas e sem reservas, já sem fôlego para se sustentar diante dessas medidas restritivas. Se você não tem suporte, tudo se torna muito mais difícil", afirma Viviane.
Ricardo Luiz Theisen é gerente de um restaurante na zona oeste de São Paulo que só abre para o almoço e depende do movimento do comércio e de escritórios. Mesmo com a volta do atendimento presencial, o atendimento continua abaixo do verificado antes da pandemia.
A sondagem do Ibre mostra que, no segmento de serviços de alimentação, as expectativas positivas caíram de 65% em outubro para 45% em abril.
Uma segunda unidade do restaurante, que atendia principalmente funcionários do escritório de uma multinacional, continua fechada. "O movimento é 30%, 40% do que era. As empresas estão em homeoffice, muita coisa fechou. Vai demorar muito para voltar", afirma Theisen.
Munir Samara é dono de uma loja de material de construção, segmento que apresenta números positivos em termos de vendas, mas com expectativas positivas que passaram de 60% em outubro para 48% em abril.
Ele afirma que a demanda continua aquecida e que os desafios atuais envolvem aumento de preços, falta de produtos e a redução de prazos por parte de fornecedores. "Do começo do ano para cá algumas coisas dobraram de preço. Tem item com reajuste a cada dez dias", afirma Samara.