Investigação

Justiça argentina adia interrogatórios de suspeitos por morte de Maradona

Aumento de casos da Covid-19 no país mudou datas dos interrogatórios

Maradona ao lado do médico Leopoldo Luque - Reprodução/Instagram

O Ministério Público da Argentina, que investiga a morte de Diego Maradona, adiou para 14 de junho o início dos interrogatórios de sete pessoas, que estavam previstos para começar na próxima segunda-feira (31). Elas são suspeitas de terem abandonado o ídolo do futebol "à própria sorte".

A informação foi confirmada à AFP por uma fonte da Justiça, a qual explicou que o Ministério Público se alinhou à decisão da Suprema Corte da província de Buenos Aires de suspender as atividades presenciais devido à nova onda da pandemia de Covid-19 na Argentina.

Os sete acusados, entre eles o médico pessoal de Maradona e uma psiquiatra, também são investigados por terem prescrito ao ex-jogador um tratamento "inadequado, deficiente e temerário" em seus últimos dias de vida.

Maradona morreu em 25 de novembro de 2020, durante sua convalescença, em uma casa nos arredores de Buenos Aires, após uma cirurgia bem-sucedida na cabeça para remover um hematoma.

Etapas
Os interrogatórios serão feitos na sede da Procuradoria Geral de Justiça de San Isidro, na periferia norte de Buenos Aires, que está instruindo o processo. 

De acordo com o sistema penal da província de Buenos Aires, os réus comparecem perante os promotores para serem informados do que estão sendo investigados. Por se tratar de um ato de defesa, o acusado pode depor ou se recusar a fazê-lo. 

Após os depoimentos, a acusação irá encaminhar o caso para o juiz com a recomendação de processá-los ou arquivá-los. Finalmente, após um processo que pode durar muitos meses e até anos, o caso pode chegar a um julgamento popular.

"Eles provavelmente irão a julgamento, nada indica o contrário", disse uma fonte judicial próxima ao caso. Na Argentina, para investigar uma pessoa, ela é primeiro acusada, ou seja, é aberta uma investigação contra ela.

Profissionais na mira
O primeiro a prestar depoimento será o enfermeiro Ricardo Almirón, de 37 anos. Nos dias seguintes, será a vez da enfermeira Dahiana Madrid, 36, do psicólogo Carlos Díaz, 29, da médica coordenadora da internação domiciliar Nancy Forlini, 52, e do coordenador dos enfermeiros, Mariano Perroni, 40. 

Em seguida, comparecerá a psiquiatra Agustina Cosachov, 35, acusada de não garantir "a correta administração da medicação e psicotrópicos" que haviam sido indicados ao paciente. 

A rodada será encerrada no dia 14 de junho, com o depoimento de Leopoldo Luque, neurocirurgião de 39 anos, que foi médico de família de Maradona e foi o responsável pelo atendimento do campeão do mundo no México, em 1986, em seus últimos dias. 

O laudo dos peritos concluiu que Luque "evitou atender e/ou pelo menos prestar atenção médica adequada a Maradona, pois não garantiu o seu devido acompanhamento com estudos e controles cardiológicos, nem convocou especialistas em questões cardiovasculares, hepáticas e renais, conforme seu quadro exigia, deixando seu destino à sua própria sorte”. Todos estão em liberdade, mas a Justiça proibiu, nesta quinta-feira (27), a saída deles do país, a pedido da promotoria.

Acusação
A princípio, a morte do astro argentino foi atribuída a suas inúmeras doenças e histórico de vícios e problemas cardíacos. Pouco depois, a morte foi investigada como "homicídio culposo", com penas de um a cinco anos de reclusão, que se refere à morte causada por uma pessoa a outra de maneira ilícita, mas sem a intenção de matar. A morte ocorre devido ao ato imprudente ou negligente do assassino. 

Na semana passada, porém, o Ministério Público agravou o caso e passou a apurar os fatos como "simples homicídio doloso", que contempla de 8 a 25 anos de reclusão, com base na investigação da junta médica. 

Na Argentina, esse crime indica que mesmo sabendo dos danos que uma determinada ação pode causar, a pessoa continua fazendo isso sem evitar o mal. 

Segundo o laudo médico, a equipe de profissionais que ficou responsável por Maradona "representou plena e cabalmente a possibilidade do desfecho fatal em relação ao paciente", mas se mostrou "absolutamente indiferente a essa questão". 

Da coleta de mensagens entre os réus, pode-se deduzir que eles sabiam que Maradona se entregava a excessos de álcool e medicamentos psiquiátricos e consumia maconha. 

Segundo o relatório, "os sinais de risco de vida apresentados" pelo ex-jogador do Barcelona e do Napoli foram ignorados. O controle médico que a lenda do futebol mundial recebeu foi "inadequado, deficiente e temerário", acrescenta.