Copa América

Em meio à pandemia, Conmebol confirma Copa América no Brasil e agradece a Bolsonaro

Pronunciamento da Conmebol aponta uma influência do governo Bolsonaro para que a Copa América migrasse para o Brasil

Presidente Jair Bolsonaro no gramado do Maracanã. - Juan MABROMATA / AFP

Em reunião na manhã desta segunda-feira (31), a Conmebol avaliou propostas e definiu Brasil como nova sede do torneio.

O anúncio foi feito após encontro do conselho da entidade, no Paraguai. No noite do domingo (30), a Argentina abriu mão de sediar o torneio em razão do recrudescimento da pandemia de Covid-19 no país.

O pronunciamento da Conmebol aponta uma influência do governo Bolsonaro para que a Copa América migrasse para o Brasil.

"O melhor futebol do mundo trará alegria e paixão a milhões de sul-americanos. A Conmebol agradece ao Presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, bem como a Confederação Brasileira de Futebol, por abrir as portas daquele país ao que é hoje o evento esportivo mais seguro do mundo. A América do Sul vai brilhar no Brasil com todas as suas estrelas!", diz postagem no Twitter do entidade.



O agradecimento não é por acaso. O Brasil sequer era tratado como uma possibilidade até este domingo. Tudo mudou nesta segunda de manhã, com o intermédio do presidente da CBF, Rogério Caboclo, que fez a interlocução entre a Conmebol e Bolsonaro.

A entidade sul-americana ainda tenta viabilizar a presença de público na final do torneio, mas o governo federal disse que esse tema deve ser debatido com o estado sede.

Em 2019, quando o Brasil sediou o torneio pela última vez, Bolsonaro fez diversas aparições em público durante o evento. Na semifinal, por exemplo, deu uma volta no gramado durante o intervalo, o que chegou inclusive a irritar Lionel Messi, que com a Argentina perdeu aquela partida para o Peru.

Na final, o presidente esteve ao lado do mandatário da Conmebol, Alejandro Domínguez, foi ao gramado para a cerimônia de premiação e se juntou aos jogadores com a taça de campeão.

A influência do governo federal para trazer um evento do tamanho da Copa América para o Brasil em plena pandemia já repercute no meio político. Ciro Gomes, do PDT, pediu à CPI da Covid a convocação de Rogério Caboclo para dar explicações.

"A CPI da Covid tem que agir preventivamente. Convocar o presidente da CBF e as autoridades esportivas para saber quais os cuidados que serão tomados para realização da Copa América. A questão não é gostar ou não gostar de futebol. Eu adoro! A questão é não brincar com a vida dos brasileiros. E não fazer demagogia a troco da morte de inocentes", escreveu no Twitter.

Júlio Delgado, deputado federal pelo PSB de Minas Gerais, afirmou ao site O Antagonista que ainda nesta segunda irá ao STF contra a realização da Copa América no Brasil.

"Os números nossos [da pandemia] e a proibição de eventos não permitem que o presidente Jair Bolsonaro, deliberadamente, decida que uma Copa desta importância, com dez seleções de dez países onde a gente não sabe como está o controle da pandemia, seja realizada aqui, só pela questão financeira", disse.

Ainda não foram revelados em quais estádios o torneio será disputado. A Conmebol prometeu revelar mais informações ainda nesta segunda. No domingo, o Brasil chegou a marca de 462 mil mortes por coronavírus, com tendência de alta em alguns estados.
Procurada pela reportagem, a CBF não quis se pronunciar sobre o evento neste momento.

A mudança na sede não foi o primeiro obstáculo para esta edição do torneio. Inicialmente, a competição estava prevista para acontecer tanto na Argentina quanto na Colômbia.

As coisas começaram a degringolar no último dia 20 de maio, quando a entidade anunciou a retirada da Colômbia como sede.
A seleção brasileira, inclusive, faria sua estreia na Copa América contra a Venezuela, em solo colombiano, no dia 14.

A Conmebol, no último dia 20, chegou à conclusão de que o país, agitado por protestos sociais, não reunia condições de receber as partidas do torneio.

A decisão foi anunciada um dia depois de uma grande manifestação contrária à Copa América, em Bogotá. "Se não há paz, não há futebol", dizia a frase exibida em cartazes e também pichada nas paredes do estádio El Campín, um dos campos que receberia jogos do torneio.

A Colômbia vive um ambiente de acentuada tensão social, com protestos contra uma reforma tributária proposta pelo governo.
A repressão policial teve momentos pesados, e os conflitos resultaram em dezenas de mortos.

Dez dias após a retirada da Colômbia como sede, foi a vez da Argentina. O governo argentino se adiantou ao comunicado oficial da entidade sobre a não realização da competição em seu território.

O ministro do Interior da Argentina, Wado de Pedro, afirmou que o país deixaria de ser a sede do torneio devido à situação da pandemia. "Estamos muito preocupados não apenas com Buenos Aires, mas com as outras capitais que seriam sede do torneio e que estão com uma situação epidemiológica complicada."

Após o anúncio da suspensão, no domingo, a Conmebol afirmou que analisaria as ofertas de outras sedes possíveis.

Os Estados Unidos eram vistos como uma alternativa, mas foram descartados por questões logísticas. Não haveria tempo de expedir vistos para todas as delegações. Ainda existiria problemas por causa da situação da pandemia em território sul-americano. No país da América do Norte, cerca de 40% da população já está imunizada, um enorme contraste com os países ao Sul.