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“O Caso Evandro” exibe habilidade da Globoplay em se debruçar sobre tragédias reais

"O caso Evandro" - Divulgação

Com títulos clássicos como “Caso Verdade” e “Linha Direta” nos arquivos, a Globo parece negligenciar o interesse do público por séries documentais sobre crimes reais. Com um pouco mais de liberdade artística para produções de nicho, a Globoplay tornou-se a plataforma perfeita para a emissora retomar e investir nesta tradição. O sucesso de “Em Nome do Pai”, sobre os delitos sexuais do líder espiritual João de Deus, e “Doutor Castor”, que relaciona o futebol e carnaval ao cotidiano de contravenção do “bicheiro” Castor de Andrade, foram belos cartões de visita e mostraram que, além de bons entrevistados, uma boa série documental precisa de texto, imagens de apoio e edição que possam realmente seduzir o espectador. É por esse mesmo bom caminho que segue “O Caso Evandro”, título mais recente deste “filão” no catálogo e que está no topo dos programas mais vistos da plataforma de streaming desde sua estreia, em meados do mês de maio.

Idealizada desde 2019 e criada a partir do sucesso do podcast “Projeto Humanos: O Caso Evandro”, de Ivan Mizanzuk, a série conta a história do menino Evandro Ramos Caetano, então com 6 anos, que subitamente desapareceu no dia 6 de abril de 1992, em Guaratuba, região litorânea do Paraná. Seu corpo foi encontrado em 11 de abril, em um matagal da cidade, com mãos e pés amputados, coração e vísceras arrancadas. Dividido em oito episódios, o material se debruça sobre depoimentos e relatos dos envolvidos no caso com foco nas questões judiciais. A gravidade e os requintes de crueldade dos fatos já são o suficiente para chamar bastante a atenção. Porém, a partir de uma pesquisa minuciosa, o documentário aposta na humanização de acusados e acusadores. Mesmo sem se abster de passar uma mensagem objetiva, o roteiro deixa argumentos importantes para o público tirar suas conclusões de forma independente, em um jogo de informações forte e envolvente.

A presença de Ivan Mizanzuk, direcionando e contextualizando as descobertas ao longo de seu projeto, valoriza ainda mais a cadência de “O Caso Evandro”. Mesmo com a história sendo amplamente divulgada em sites e jornais ao longo das décadas, parte de Mizanzuk o fator surpresa que realmente valoriza a narrativa da série: a descoberta de fitas que acabaram não entrando nos autos do processo. Com forte amparo das imagens de arquivo do jornalismo da própria Globo e de outras emissoras, a produção faz uma viagem temporal, onde fica perceptível as evoluções e mudanças de linguagem pelas quais a tevê passou nos últimos anos. Com direção precisa do cineasta Aly Muritiba, é nítida a preocupação técnica de “O Caso Evandro” não apenas com os fatos, mas também com a estética. Com reconstituições fictícias onde até a fotografia se destaca, a série documental acaba apresentando forte identidade visual, acabamento que ajuda a ambientar a história de forma atualizada. Com argumento e imagens potentes, “O Caso Evandro” define um ótimo parâmetro para as futuras produções da Globoplay.