Tecnologia

Depois de banir Trump, Facebook deve pôr fim a tratamento diferenciado a políticos, diz jornal

Outra área em que a plataforma pretende aumentar a transparência é a de advertências contra usuários que violam as regras

Marck Zuckerberg, fundador do Facebook - Reprodução/ Internet

O Facebook deve anunciar nesta sexta-feira (4) a revisão de uma norma que dá a políticos uma espécie de passe livre quando eles violam regras de discurso de ódio da empresa, o que gerava à plataforma acusações de condescendência com os poderosos. A medida seria uma resposta à recomendação feita em maio pelo comitê independente que julgou o banimento do ex-presidente Donald Trump.
 
Desde 2016, a rede de Mark Zuckerberg aplica testes a publicações feitas por políticos com o objetivo de comparar o caráter noticioso do conteúdo à sua propensão de causar danos. Agora, de acordo com informações do site de tecnologia americano The Verge, o Facebook pretende descartar essa comparação, que muitas vezes dava aos políticos um tratamento diferenciado na plataforma em relação aos outros usuários.
 
Conteúdos de terceiros compartilhados por lideranças políticas, como links e vídeos, já passam por alguns níveis de checagem. A mudança nas regras, segundo o Verge, ainda não sujeita as publicações feitas diretamente pelos políticos aos checadores do Facebook, mas, pela primeira vez, permite que elas sejam avaliadas sob as mesmas regras aplicadas a qualquer usuário comum.
 
Segundo uma fonte ouvida em anonimato pelo Washington Post, a prática da exceção por conteúdo noticioso não será, entretanto, abolida completamente. Nos casos em que for aplicada, contudo, o Facebook passará a divulgá-la publicamente -atualmente, os critérios e a frequência de tais decisões são mantidos sob controle da empresa.
 
Outra área em que a plataforma pretende aumentar a transparência é a de advertências contra usuários que violam as regras. Atualmente, perfis que recebem um certo número de advertências podem ter conteúdos removidos ou alcance reduzido. A crítica ao Facebook, no entanto, é que o número de advertências até uma punição não é previamente conhecido e, em muitos casos, os usuários punidos não são informados sobre qual exatamente foi a regra violada.
 
A justificativa da plataforma é que compartilhar suas estratégias de moderação de conteúdo poderia criar brechas para usuários mal-intencionados. Agora, de acordo com o Verge, o Facebook quer tornar o processo mais transparente, informando com mais clareza aos usuários quando eles receberem uma advertência que pode levar à suspensão.
 
A expectativa é de que o Facebook oficialize as novas regras ainda nesta sexta-feira, um dia antes do fim do prazo dado pela plataforma para responder às recomendações do comitê que baniu Trump da rede.


Há um mês, o comitê -formado por 20 especialistas, como um vencedor do Nobel da Paz, um ex-primeiro-ministro e o advogado brasileiro Ronaldo Lemos, colunista da Folha de S.Paulo- decidiu manter o ex-presidente republicano afastado do Facebook.
 
Trump foi banido da rede em 7 de janeiro, um dia depois do ataque ao Capitólio, a sede do Legislativo americano. À época, Zuckerberg argumentou que os riscos de permitir que o então presidente continuasse na plataforma eram altos demais e que a decisão poderia ser revista depois de 20 de janeiro, quando Joe Biden assumisse a Casa Branca.
 
O republicano foi acusado de não apenas incentivar seus apoiadores a invadirem o Congresso, mas também de louvar o ato, o que lhe rendeu o banimento em outras plataformas, como o Twitter, e um segundo processo de impeachment pouco antes do fim do mandato –no qual acabou sendo absolvido.
 
Ao anunciar sua decisão, o comitê do Facebook disse que a empresa deveria determinar uma "resposta proporcional" e consistente com as regras aplicadas a outros usuários e a criticou por "impor uma pena indeterminada e por tempo indefinido", já que esse tipo de medida não faz parte das regras de uso da rede social -as punições previstas são a suspensão por um período determinado ou o banimento definitivo.
 
O comitê então deu seis meses para a plataforma decidir qual dessas duas sanções vai impor a Trump, prazo que se encerra em novembro.