Música

Edgar lança 'Ultraleve' nas plataformas de streaming

Multiartista paulista aprimora seu discurso ao longo de nove faixas produzidas pelo parceiro pernambucano Pupillo

Multiartista Edgar lança seu segundo álbum - Luiz Garrido

"Ultraleve é uma maniçoba poética, demora mais de cinco dias no fogo da vaidade, com a panela cheia de água e empatia, cozinhando todos os sentimentos atravessados por um corpo negro em uma sociedade programada para o excluir e o matar." É com essa referência a um prato originário dos povos indígenas, à base de mandioca brava, que o cantor e compositor paulista Edgar descreve seu novo álbum. O rapper ganhou projeção nacional ao ser convidado pela veterana Elza Soares para participar do eu disco "Deus é mulher" (2018), na faixa "Exu nas escolas" (Kiko Dinucci e Edgar).

Em "Ultraleve", sucessor do premiado "Ultrassom" (Deck/2018), o multiartista paulista aprimora seu discurso ao longo de nove faixas produzidas mais uma vez pelo parceiro pernambucano Pupillo Oliveira.

Trabalhos completamente distintos

Inventivo e inquieto, Edgar encontra dificuldade em apontar semelhanças entre os dois trabalhos, mesmo separados por um curto período de tempo (pouco mais de um ano), mas revela que, entre rupturas e permanências, os dois conversam muito entre si. 

“Tem uma coisa de sinestesia, essa poesia que traz um filme dentro da cabeça da pessoa, que mostra novas paisagens, só que aqui é diferente do 'Ultrassom'. Porque eu acho que é uma paisagem um pouco mais arborizada, buscando mais o ecológico”, disse. O cantor destaca também a presença de Pupillo e Mauricio Fleury norteando as duas obras.

“O Ultrassom é uma pesquisa de instrumentos de época, sintetizadores, baterias eletrônicas, o 'Ultraleve' vem mais pra tambor, percussão, então vem toda essa mudança, é um outro lugar. Saímos de um futuro precário, pra um lugar mais África”, explicou. Embora seja difícil teorizar sobre as letras do músico, já que para cada um que escuta seus versos batem de um jeito e essa é a beleza da coisa. Nesse segundo disco, sua lírica também passou por um processo de mudança. “Eu tento focar em uma paisagem um pouco mais ensolarada, com um pouco mais de esperança, que traga a sensação de vitalidade, é uma música que traz mais uma sensação de que vai haver um futuro, então é uma proposta de ser um lugar calmo, seguro”, detalhou. 

Instrumentos à base de recicláveis

O multifacetado artista utilizou materiais recicláveis que aparecem em suas criações em “Ultraleve” de outra maneira: objetos encontrados nas ruas de São Paulo foram transformados em instrumentos. Um exemplo é o ultraste, criado com madeira, parafusos, tecido, cordas de baixo e cavaquinho em conjunto com um pincel e uma estátua de nossa senhora. “Já estávamos produzindo o 'Ultrassom', e eu estava fazendo umas buscas pra achar um timbre e resolvi criar o que eu queria. Agora, percebi que ele tem tudo a ver por causa da questão ecológica, do reciclar que não fica restrito só nas letras”, analisou. O som do ultraste tem o timbre natural da cultura oriental, remete a um koto, espécie de cítara japonesa.

De família inteira pernambucana, Edgar mantém suas raízes fortes em tudo o que faz. “Meu pai trabalha numa metalúrgica em São Paulo e veio com a minha mãe como retirantes nordestinos nos anos 1970, por aquelas questões que todos nós sabemos. Fui pra Pernambuco quando era criança, depois jovem com uns 12, depois sozinho com uns 23 e sou louco pra voltar”, disse. “Trabalhava com a galera da 9K produtora de brega funk, produzi alguns eventos na galeria Arvoredo, como brechós e saraus, morava na época em Águas Compridas, então Pernambuco tem influência intrínseca no meu trabalho, está no meu DNA”. O disco está nas plataformas de streaming.