Quando o amor e a arte se encontram
Artistas de Pernambuco unem intimidade e profissão
Ah, o amor! Esse sentimento que une famílias, amigos e casais apaixonados. E se tem algo que consegue refletir as emoções que permeiam o coração é, sem dúvidas, a arte. Um livro, um filme, uma música que fazem lembrar a pessoa amada e até aproximá-las enquanto apreciam ou recordam o elemento cultural. Neste sábado, 12 de junho, comemora-se o Dia dos Namorados e no cenário artístico pernambucano há quem festeje essa data com um gosto especial, afinal, unem amor e cultura, intimidade e profissão.
A escritora e crítica literária Raíza Hanna, 31, e o também escritor e editor Fred Caju, 32, possuem uma história digna das páginas de um livro. Juntos desde novembro de 2019, eles tiveram o primeiro contato há aproximadamente 10 anos, quando Caju deixava comentários nos textos publicados por Hanna em seu antigo blog de contos e poemas. Não se conheciam pessoalmente, acreditavam até serem de estados diferentes e nunca conversaram para além da plataforma. Há um ano e meio, a internet os reconectou, quando a poeta procurava informações sobre uma premiação literária e descobriu que o antigo leitor de seu blog havia conquistado duas edições. Trocaram figurinhas pelas redes sociais mas o primeiro encontro saiu despretensiosamente, sem hora marcada, durante uma celebração política no Recife.
Das redes sociais ao casamento e trabalho em casa
Fred Caju e Raíza Hanna - Foto: Divulgação
Em maio do ano passado, ainda no início da já crítica pandemia no Brasil, passaram a morar juntos, casaram-se e, desde então, dividem os dias de isolamento mergulhados nos mais diferentes processos da cadeia literária. "A gente faz muita coisa juntos relacionado à editoração e revisão de textos. Então, a gente está sempre em casa trabalhando e se relacionando, é tudo muito embricado. Quando estamos escrevendo também, a gente mostra um ao outro o que escreveu, estamos sempre conversando e se ajudando, um é muito presente no trabalho do outro”, comenta Raíza.
A criação da sua editora, Alvoroça, exclusiva para publicação de mulheres, foi incentivada por Fred, fundador da Castanha Mecânica. “Quando eu o conheci, ele já tinha a Castanha Mecânica e eu já escrevia, mas tinha a instiga de aprender artezania de cadernos e livros. E aí ele me ensinou, eu fiz alguns cadernos para vender e depois acabei criando a editora. Fiz muitos trabalhos para Castanha Mecânica também, já revisei, já editei livro. A gente começou a fazer muitas coisas juntos do trabalho, da arte e da vida em comum”, conta.
O compartilhamento de experiências e a parceria, destaca o editor, estão presentes no dia a dia: “A gente tem perfis muito complementares, isso talvez tenha sido um acelerador do relacionamento também. E nossos trabalhos são muito próximos de ambientes silenciosos porque a gente está sempre em leitura. Então, hoje temos esse cuidado, esse respeito, de entender que o silêncio do outro faz parte do trabalho também”.
O processo criativo de ambos também é influenciado pela relação. “As nossas fronteiras acabaram se aproximando e se misturando muito. Rái já colocou o nome de alguns dos meus livros quando eu tava travado em algum tema. Ela está na fase de escrever a dissertação e eu estava até dando uma lida em um capítulo. E a gente também vai misturar as nossas experiências além do trabalho da gente”, completa Caju.
Música e teatro reunidos
Iury Andrew e Gil Paz com o gatinho de estimação, Seleno - Foto: Divulgação
O DJ e modelo Iury Andrew, 24, e o ator Gil Paz, 36, completam seis anos de relacionamento este mês. “Nos conhecemos pela internet, conversamos por alguns meses até nos vermos pessoalmente e desde o primeiro encontro a ligação foi tão forte que estamos juntos até hoje”, conta Iury. Produtor da Festa BAFRO, evento que promove a cultura negra e LGBTQIA+ no Recife, ele abriu shows de artistas como Pabllo Vittar e Pitty e tocou em festivais como Coquetel Molotov e Guaiamum Treloso.
Agora, está também ingressando na carreira de ator, tendo, aliás, já trabalhado ao lado do companheiro. “Trabalhamos juntos uma vez em um espetáculo para uma instituição privada no qual ele dirigiu e eu fiz parte do elenco. Foi meu primeiro palco de verdade como ator, uma experiência incrível”, disse, lembrando que ainda para este ano está prevista a estreia do filme “Funk 80’s”, curta-metragem no qual é protagonista.
Com quase 20 anos de carreira e trabalhos que se dividem entre teatro, cinema e televisão, como os filmes “A Presepada” (2018) e “Lucicreide Vai Pra Marte” (2021), Gil Paz enxerga na arte um elemento de identidade do casal: “A arte nos deu a chance de ser quem nós somos, que, no mais profundo eu, posso dizer que é a salvação para muitos, e se não todos, os males. No meu caso, tive as oportunidades de me formar, de me reconhecer e me aceitar como sou através da arte”, disse.
“A arte também nos une como casal todos os dias. Seja numa ajuda em um teste, na força que um dá ao outro a cada oportunidade que surge e na liberdade que nos dá também como seres individuais. Hoje, é impossível pensar viver sem teatro, cinema e música porque tudo isso sou eu”, acrescenta.
Separando vida pessoal e trabalho
Samuel Santos e Naná Sodré - Foto: Divulgação
O diretor de teatro Samuel Santos, 50, e a atriz Naná Sodré, 45, estão juntos há quase 20 anos. Conheceram-se, como era de se esperar, nas coxias teatrais. “A gente, para variar, é um casal de artistas, somos de teatro, a gente se conheceu no teatro há mais ou menos 20 anos atrás. E, a partir daí, começamos a nos relacionar”, relembra Santos.
Com uma relação longeva, o casal entendeu quais seriam as melhores formas de conciliar, ou separar, vida pessoal e trabalho. “A gente separa, na medida do possível, porque sempre vem uma coisinha caseira. Mas isso não chega a afetar porque a gente sabe separar muito bem o que é trabalho, o que é família, o que é vida pessoal. Se a gente não tiver essa consciência, tanto o trabalho como a vida pessoal não vão se desenvolver de uma forma saudável ”, comenta o diretor.
À frente do grupo O Poste Soluções Luminosas e com renomados prêmios no currículo, Samuel e Naná, que são pais de Luana, 15, também atuam em projetos individuais, alinhando as agendas para não preterir os momentos em família. “Já deu para sentir um pouco como é que a gente pode dividir as questões. É uma coisa muito presente na nossa vivência e estamos sempre cuidando para não atropelar o outro. É necessário uma manutenção, buscar a nossa corrente, o nosso espaço, nossas férias também, que a gente não pode deixar de ter descanso, e tentar conciliar um pouco tudo isso”, disse a atriz.
Admiração mútua ajuda na relação saudável
A admiração e o apoio mútuos são algumas das características mais fortes da união. “Samuca é um grande parceiro meu, muito meu amigo, é meu marido, conselheiro profissional. Ele é muito verdadeiro, então a gente tem um caminho muito bonito”, destaca Naná, lembrando um dos trabalhos realizados juntos que mais lhe é especial, o monólogo “A Receita”, em que foi dirigida pelo companheiro em um texto também escrito por ele.
Samuel também recorda com carinho as peças “Cordel” e “Anjo Negro”, ambas protagonizadas por Naná. “Com o solo ‘A Receita’, a gente já fez espetáculos em quilombos, fomos para a Dinamarca. Já ‘Cordel’ foi o primeiro trabalho que eu a dirigi e ela ganhou o prêmio de melhor atriz. E tem ‘Anjo Negro’, que é um texto de Nelson Rodrigues em que ela também ganhou melhor atriz. Cada trabalho tem sua especificidade e sua importância”, frisou.