Vacina

Criticada por atraso, Saúde mira Pfizer, Moderna e vacinas nacionais para 2022

Entre as apostas no Brasil estão doses da vacina AstraZeneca/Oxford que devem ser produzidas inteiramente pela Fiocruz

Vacinação contra Covid-19 - Rodolfo Loepert/PCR

Alvo de críticas por ter recusado ofertas de vacinas contra Covid no último ano e demorado a fechar contratos, o Ministério da Saúde começou a mapear fornecedores e iniciar tratativas diante de uma possível necessidade de um novo ciclo de vacinação em 2022.

Alguns países já começam a negociar contratos extras de vacinas apesar da incerteza sobre a necessidade e a regularidade de novas campanhas de imunização contra a Covid.

Entre as apostas no Brasil estão doses da vacina AstraZeneca/Oxford que devem ser produzidas inteiramente pela Fiocruz (e que somariam cerca de 180 milhões em 2022, segundo a pasta) e da Butanvac, vacina ainda em desenvolvimento pelo Butantan.

Os testes clínicos do imunizante foram autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nesta semana, e a expectativa do Butantan é concluir os estudos até o último trimestre.

Além desses dois focos, que têm em comum a produção nacional das doses, membros do Ministério da Saúde dizem ter "negociações avançadas" com a Moderna e ter recebido uma nova oferta da Pfizer voltada para 2022. A previsão é que haja uma reunião inicial com a empresa na próxima semana.

O governo tem, agora, dois contratos com a Pfizer que somam 200 milhões de doses para este ano. O total que pode ser incluído em uma nova proposta ainda passa por avaliação. Procurada, a Pfizer informou que não iria comentar.

No caso da Moderna, a ideia é aproveitar uma negociação sobre até 100 milhões de doses e reservar parte para o último trimestre deste ano e o restante como planejamento para o ano que vem.

"Temos conversado com eles sobre dois produtos: a vacina e um booster [um tipo de reforço] que é como uma 'atualização' da vacina. Por questões de sigilo não podemos divulgar muitas informações, mas estamos em tratativas avançadas", disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz.

Segundo ele, há sinais de que uma nova oferta de doses de vacina contra a Covid-19 pode se tornar necessária, daí o planejamento inicial.

"Ainda não temos estudos que comprovam que vai precisar imunizar novamente [a população] ou de forma constante, mas temos sinalizações fortes de que vai precisar de um reforço", disse. "Não tem nada ainda escrito em pedra de que vamos precisar imunizar todo ano como fazemos com a da gripe", ressalta.

Para especialistas, o planejamento é prudente, mas precisa ser acompanhado do monitoramento de estudos e de impulso à vacinação em 2021.

"Apesar de não termos experiência com os coronavírus como temos com outros vírus, a experiência com influenza, adenovírus e outros mostra que a imunidade conferida por uma infecção em vírus respiratório não é muito duradoura", afirma Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. "Para complicar, também vieram as variantes que mostram escapar da imunidade por infecções prévias", aponta.

Ele frisa, porém, que não há estudos conclusivos sobre esse cenário e que outros pontos também devem ser avaliados, como a diferença entre as vacinas e possíveis impactos na duração da proteção diante de novas infecções. "De qualquer forma, fazer acordos prévios para o próximo ano parece mais inteligente", afirma.

Visão semelhante tem a epidemiologista Ethel Maciel, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). "Ainda não temos certeza se vamos precisar tomar uma terceira dose ou fazer uma nova campanha. Mas é importante fazer esse planejamento", afirma ela. "A vacinação hoje segue muito lenta porque não planejamos no ano passado, quando isso deveria ter sido feito, e não podemos cometer o mesmo erro em 2022", diz.

Maciel cita como exemplo a possibilidade de ampliar a vacinação para adolescentes, como já aprovado pela Anvisa no caso de doses da Pfizer (leia na pág. B3), e da necessidade de uma atualização de vacinas para novas variantes, ponto ainda em estudo.

Em meio ao planejamento para 2022, especialistas frisam que o Brasil ainda precisa aumentar o ritmo da campanha de vacinação neste ano.

Desde que assumiu o cargo, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem dito que pretende imunizar toda a população adulta ainda em 2021. A tentativa de acelerar a campanha, porém, enfrenta impasses, como o atraso em fechar contratos e a dificuldade de obter insumos da China. Por isso a aposta para 2022 em doses feitas com insumos do país.

Até o momento, dados do consórcio de imprensa mostram que apenas 11% da população geral já recebeu duas doses de vacinas.
Para Kfouri, o fato de haver uma concentração maior de entregas previstas para o segundo semestre mostra que a previsão de oferecer doses a toda a população adulta pode vir a ser atingida. Maciel, porém, lembra que as constantes revisões no cronograma tornam difícil uma previsão.

Em depoimento à CPI da Covid nesta semana, o ministro da Saúde disse ter "certeza" de que o planejamento será atingido. "E já estamos pensando no ano de 2022", disse. Ele frisou, porém, a incerteza sobre o formato de uma vacinação no próximo ano, mas disse ver como alta a probabilidade de que ela seja necessária. "Precisamos ainda ter mais dados científicos. Por exemplo, se é um booster, se é só uma dose, se vai precisar ser com duas doses", disse.

Questionados, Fiocruz e Butantan disseram que a questão da duração da proteção e necessidade de nova vacinação ainda está em acompanhamento. Recentemente, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que não há previsão até o momento de necessidade de terceira dose da Coronavac.

Em fevereiro, a Pfizer e a BioNTech anunciaram ter iniciado testes para avaliar uma terceira dose da vacina e seu papel contra novas variantes do coronavírus. O estudo ainda está em andamento.

O planejamento de doses para 2022, no entanto, ainda pode enfrentar outros impasses -um deles é o orçamento limitado neste ano e indefinido para o próximo. Cruz diz que, por se tratar de um planejamento inicial, ainda não há previsão sobre esse impacto. Segundo ele, caso não haja reservas no orçamento, a ideia é solicitar créditos extraordinários.

Em nota, o Ministério da Economia diz que foram abertos ou reabertos neste ano créditos no valor R$ 27,1 bilhões para compra de imunizantes, valor que seria suficiente para a vacinação contra a Covid. A pasta diz que, caso haja necessidade de mais recursos, neste ano ou em 2022, os pedidos serão analisados.