Em dia de Moro suspeito no STF, Lula lembra dos dias na prisão: 'provação de fé'
Com discurso de tom religioso, Lula ensaiou a retórica que deverá adotar para aproximar o eleitorado religioso
O ex-presidente Lula usou o twitter, na noite desta quarta-feira (23), para comemorar o resultado do julgamento do STF sobre a suspeição do ex-juiz Moro nos processos em que era réu. Em razão de um deles, o do triplex do Guarujá, ele esteve preso por 580 dias na sede da Polícia Federal de Curitiba. Moro foi considerado suspeito por 7 votos a 4.
"Hoje o STF decidiu que o Moro foi parcial. 580 dias. Tive dois momentos difíceis na prisão. A morte do meu irmão Vavá e do meu neto Arthur. Quando eu tava preso na ditadura, minha mãe morreu e pude me despedir dela. Mas não deixaram me despedir do meu irmão", tuitou Lula.
Uma hora depois, o ex-presidente publicou uma série de postagens para lembrar dos dias na prisão. Com forte discurso de fé, Lula atribuiu sua trajetória a Deus e ensaiou a retórica que deverá adotar para aproximar o eleitorado religioso, que tem sido o "fiel da balança" nas últimas eleições.
Pesquisa Datafolha de 12 de maio deste ano apontou empate técnico no eleitorado evangélico na disputa entre Lula e Bolsonaro. No levantamento sobre o primeiro turno, 35% dos evangélicos disseram preferir o petista para o Palácio no Planalto, contra 34% que querem a reeleição de Bolsonaro.
Não por acaso, essa fatia do eleitorado vem sendo disputada pelos dois, com abordagens distintas. Enquanto Bolsonaro apela para as pautas de costumes, o conservadorismo e o discurso de cunho ideológico contra a imprensa, o comunismo e a esquerda, Lula parece determinado a criar pontes para atrair esse eleitorado para questões ligadas à justiça social usando a fé como ponto de convergência.
"Tem muita coisa na minha vida que só pode ter o dedo de Deus. Acredito muito nisso. Como é que pode o filho de uma camponesa analfabeta chegar onde cheguei. Uma mulher que criou oito filhos sozinha... Sou filho de uma família religiosa. Minha mãe não teria tido força de criar oito filhos sozinha se não fosse a fé dela. Não tinha feijão na panela e ela falava: amanhã vai ter. A minha família não tinha como dar certo se não fosse a fé que minha mãe tinha", escreveu.
Nas postagens seguintes, Lula narra sobre os dias de cárcere, mantendo a religiosidade como elemento da narrativa. "Deus esteve em cada momento nas coisas que vivi. Inclusive na minha prisão. Aquilo pra mim foi uma provação de fé. Hoje foi consolidada a votação no STF que definiu o Moro parcial nos meus processos", comemorou.
"Tive dois momentos difíceis na prisão. A morte do meu irmão Vavá e do meu neto Arthur. Quando eu tava preso na ditadura, minha mãe morreu e pude me despedir dela. Mas não deixaram me despedir do meu irmão. Mas sempre segui com a fé que ia provar as mentiras contra mim. Uma coisa é você ter fé quando tá tudo maravilhoso, seu filho não tá doente, você tem emprego... Quero ver você ter fé quando você é preso injustamente, quando você perde alguém na família... É aí que a gente precisa da fé pra nos dar força", desabafou o ex-presidente.
Na postagem seguinte, ele lembrou de sua resiliência nos momentos de isolamento. "As pessoas iam me visitar na prisão e já entravam chorando. E eu tinha que animar elas. Eu só tinha como resistir se tivesse fé. E acreditasse que os justos vencerão. E minha fé é inabalável e me garante que a verdade sempre vai vencer na minha vida ", tuitou.
Lula também criticou os ex-aliados Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. "Hoje eu ando de cabeça erguida na rua. Tenho certeza que o Moro e o Bolsonaro não. O povo sabe que o Brasil era melhor quando eu governava esse país. Mas uma mentira foi eleita presidente da República e o povo está comendo o pão que o diabo amassou", escreveu.
Na sequência, apontou as contradições do discurso cristão de Bolsonaro, questionando sua conduta. "Se Deus simboliza o amor, a fraternidade e a bondade, Bolsonaro não pode ser enviado de Deus. Se foi é castigo. Precisamos lutar porque Deus ajuda, mas a gente tem que fazer nossa parte também. Não acredito em um cristão que utiliza o nome de Deus em vão. Inclusive se o Bolsonaro acreditasse em Deus ele não mentia tanto, não pregava tanta discórdia, tentando tirar proveito da fé do povo evangélico. Deus tá vendo tudo que a gente faz", apontou.
Por fim, o ex-presidente trouxe a imagem de Jesus para apresentar a ideia de igualdade social e defesa dos mais vulneráveis. "Quem fala mal das pessoas que lutam por justiça social, não conhece a história de Jesus Cristo. Foi Jesus quem mais brigou pelos pobres, quem mais defendeu aqueles que mais precisavam. E foi crucificado pelo que ele representava", disse.
"As religiões precisam se respeitar. Precisamos construir um país de paz e não de ódio. O povo tá precisando de emprego, de livro e não de arma. Às vezes o sofrimento aumenta nossa fé. Por isso tenho certeza que o povo vai dar uma lição de moral nos milicianos do Bolsonaro", encerrou Lula, assim, o fio.