PÓS-GRADUAÇÃO

Biólogo oferece serviço de ajuda acadêmica para custear mudança e cursar doutorado em Bogotá

Devido à pandemia, houve uma redução de recursos na Universidade dos Andes e as bolsas com as quais o pernambucano contava para se manter no exterior não foram mais ofertadas

O recifense Victor Araújo, de 28 anos, foi aprovado na seleção de doutorado em Biologia na Universidad de los Andes, em Bogotá (Colômbia) - Foto: Cortesia

O recifense Victor Araújo, de 28 anos, foi aprovado numa seleção de doutorado em Biologia na Universidade dos Andes, em Bogotá (Colômbia), e, por não ter bolsa garantida para sua permanência no país vizinho, decidiu ofertar serviços de ajuda acadêmica. Apesar de possuir uma pequena reserva de dinheiro, o biólogo ainda precisa arrecadar recursos para custear sua mudança para o país vizinho.

Além do visto internacional, Victor terá que arcar com o custo das passagens aéreas e pelo menos a estadia e alimentação do primeiro mês em Bogotá. A estimativa do valor necessário para este primeiro momento é de R$ 6 mil. O biólogo havia começado a se organizar para a possibilidade de estudar no exterior desde 2019 - quando iniciou suas buscas para o doutorado -, mas com o decorrer do tempo, ele precisou gastar parte do dinheiro que estava guardando. 



"Comecei a ver opções de doutorado fora e até mesmo no Brasil em 2019. Encontrei um programa de reciprocidade Brasil-Colômbia que dava bolsas para estudantes brasileiros”, relata Victor. Na Universidade dos Andes, uma das listadas, o biólogo poderia ter mais chances de ser aceito por causa da temática do seu projeto: a biodiografia do gênero Atelopus - sapos que vivem na cadeia montanhosa da Cordilheira dos Andes, na América do Sul.

Na terceira tentativa, quando Victor já não tinha mais tanta esperança, a admissão na universidade privada veio. Entretanto, devido à pandemia do novo coronavírus, houve uma redução de recursos na Universidade dos Andes e as bolsas com as quais o biólogo contava para se manter no exterior foram reduzidas. É possível, ainda, que ele tenha que arcar com a taxa semestral da instituição. 

Victor tentou recorrer a outras bolsas e a assistências graduadas, mas as divulgações dos resultados estão previstas para agosto e setembro, período posterior ao início de suas aulas em Bogotá. Então, para realizar seu sonho, o pernambucano decidiu oferecer serviços de ajuda acadêmica. 

Em uma publicação no LinkedIn, o biólogo listou suas áreas de domínio: “Tenho habilidade com redação científica, tradução livre para inglês, espanhol ou português, digitação, assessoria acadêmica e já trabalhei em setor hoteleiro, administrativo e financeiro. Preciso de uma atividade temporária durante o mês de julho e esse restinho de junho, já que as aulas iniciam em agosto.”


 
O pernambucano foi aconselhado por alguns amigos a criar uma vaquinha online, mas descartou a ideia. Victor acredita que outras pessoas podem estar precisando mais desse dinheiro e que ele poderia conseguir arrecadar parte do valor da sua mudança através de serviços.

“Fiquei um pouco relutante em relação a isso, porque na situação que a gente tá, de insegurança alimentar e pandemia… Eu vejo [vaquinhas] de pessoas que tão passando fome ou que precisam de um procedimento médico de urgência. Tem pessoas que tão precisando mais de doação. E eu podia tentar [arrecadar dinheiro] através desses trabalhos, mesmo que não fosse suficiente”, declara. 

Apesar de não optar pela criação de uma vaquinha, o biólogo não descarta outros tipos de ajuda. “Se algum grande financiador falasse ‘eu vou patrocinar a tua ida’, como Paulo Lemann [cofundador da Fundação Estudar, que custeia bolsas de estudo para graduação e pós-graduação] ou Luciano Huck, eu não negaria”, diz.“Eu até citei na publicação o nome de Luciano Huck. Se ele quiser sempre dar alguma grana eu aceitaria”, acrescenta em tom de brincadeira.

Quanto aos planos a longo prazo, Victor afirma que ainda não há nada concreto. “Os meus planos a longo prazo são de conseguir um trabalho universitário, como professor ou curador de algum museu. Algo mais relacionado a minha área. Mas a gente não sabe como vão estar as coisas daqui a cinco anos... Então, os meus planos são continuar fazendo ciência”, conta.

O biólogo diz, ainda, que, apesar de cogitar seguir carreira no Brasil, acredita que suas chances no exterior são melhores: “O Brasil tem vivido, nesses últimos anos, um fenômeno chamado de a fuga de cérebros, que é caracterizado pela fuga de pessoas altamente qualificadas. Pessoas com mestrado, doutorado, pós-doutorado saindo do país pra fazer pesquisa em países que oferecem uma melhor qualidade de vida e mais oportunidades na área acadêmica. Eu consigo ver mais chances de seguir esse caminho se for fora do Brasil.”

Victor revela, também, que se sente desestimulado em relação à área acadêmica no Brasil. “Quando eu iniciei em biologia, em 2010, era meio que o futuro. A gente imaginava que o investimento em ciência, em tecnologia fosse só crescer. A gente espera maiores tecnologias melhores com o passar do tempo. E até houve uma onda de crescimento, mas que ficou estacionada e acabou descendo de uns anos pra cá.”

“É desestimulador e triste porque a gente sabe que também vão ter reflexos no futuro dessa falta de investimento. Eu espero que a população consiga reconhecer [a importância da pesquisa] depois dessa pandemia. Porque possivelmente se a gente tivesse investido mais, a gente teria lidado melhor essa pandemia”, desabafa.

Victor iniciou sua carreira acadêmica em 2011, quando ingressou no curso bacharelado de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco. Após concluir a graduação, ele realizou o mestrado em Zoologia na Universidade Federal da Paraíba.