Mestre Luiz Paixão lança "Forró de Rabeca" no streaming
Álbum celebra os 60 anos dedicados à arte da rabeca do Mestre de condado
Ao ouvir o disco de estreia da Mestre Ambrósio (1996), banda percursora do movimento Manguebeat, a primeira coisa que se escuta é o som de uma rabeca endiabrada tocando fogo no salão.
O instrumento, que na época andava sem muito prestígio, foi apresentado a Siba Veloso, um dos integrantes do grupo, e a toda uma nova geração, tanto de músicos quanto de público, pelo Mestre Luiz Paixão, que também entoa o instrumento em “José”, música que abre a seminal obra da banda.
Álbum celebra o "rabecar"
O álbum digital “Forró de Rabeca”, lançado pelo selo Sesc, já está em todas as plataformas digitais e celebra a vida desse mestre. São 72 anos de vida e 60 deles dedicados à arte da rabeca, ofício que aprendeu com a tradição familiar e os mestres da Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde cresceu. “Eu vejo a rabeca agora no mundo inteiro, teve uma época que não era assim, ela sumiu. Minha família é toda de rabequeiros, desde os meus avós, mas existiam poucas festas com rabecas nos engenhos, isso mudou muito com o passar dos anos e eu me sinto muito feliz por isso”, relembra Luiz, sem se dar conta de sua forte influência nessa realidade.
Tradição e modernidade
Por um pedido do próprio Paixão, a obra reúne seus antigos companheiros de cavalo-marinho da Zona da Mata Norte – festa popular que mistura música, dança e encenação – e os jovens músicos que o acompanham em suas turnês internacionais promovendo um diálogo entre gerações com o mestre como elo.
Dois de seus discípulos, os músicos, cantores e compositores Renata Rosa e Siba Veloso foram escolhidos por Luiz para participarem do álbum. “É como se completasse um ciclo, porque assim como eles trouxeram seu Luiz pra gravar antes, agora ele traz para gravarem junto com ele. Então, é muito legal esse respeito e essa relação mútua que eles mantêm”, esclarece João Selva, produtor e diretor artístico do álbum.
Cavalo-marinho em 14 faixas
É o terceiro disco do mestre rabequeiro de Condado, com 14 faixas, entre instrumentais e canções. “Dentro do processo, queríamos que tivesse tanto música que ele já gravou, que ele gosta de tocar nos shows, quanto músicas de domínio público, do cavalo-marinho que ele é mestre e também música inédita, claro, então o repertório foi construído em cima desses três pilares”, explica João.
As canções carregam os ritmos e as tradições das festas populares, em um tour de force entre forró, coco e ciranda que transparece ânimo e energia típicos de quem frequenta desde novo as sambadas da Mata Norte e tem sempre um sorriso no rosto.
Dentre inúmeras parcerias ao longo da obra, Luiz Paixão também se arrisca cantando na faixa “Maria Pequena”, cedendo aos intensos pedidos dos amigos. “Fizeram eu cantar a pulso porque a minha voz é de quem tá rouco. Foi essa turma nova que me colocou pra cantar”, confessou Luiz. “Eu não consigo tocar a rabeca cantando, então gravei primeiro a voz e depois o instrumento. Me esforcei também pra sair no ritmo e não ficar uma voz feia”, explicou.
“Ele falou dessa música e cantou de um jeito que eu nunca tinha escutado, porque ninguém havia interpretado dessa forma. Transformou em uma coisa dele, então só demos um empurrãozinho”, detalhou João Selva. Espécie de elo entre a tradição e a modernidade, a música de Mestre Luiz Paixão é pra frente e demonstra que a rabeca é atemporal. Recentemente o músico vem pleiteando um justo reconhecimento oficial como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.