Política

Leite alfineta Doria sobre apoio a Bolsonaro e nega cálculo eleitoral em se declarar gay

Leite argumentou que não apoiou o atual presidente, apenas declarou voto

Eduardo Leite - Itamar Aguiar/Palácio Piratini

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou, neste domingo (4), que não fez qualquer cálculo político ao assumir ser homossexual em entrevista na semana passada e, numa tentativa de rebater as críticas por ter declarado voto em Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno de 2018, disse que não apoiou o presidente naquele pleito.

"Eu entendi que era o momento de falar [sobre minha sexualidade], não teve qualquer cálculo do ponto de vista político-eleitoral. Aliás, nem sei quais serão os efeitos que isso terá do ponto de vista eleitoral. Talvez não sejam os efeitos positivos que muita gente possa esperar. Mas tenha efeito positivo ou negativo, é o que sou, do jeito que sou, apresentado como sou. Se a população entender que eu possa apresentar um caminho [para o país], tem que ser na minha integridade e integralidade, sem esconder qualquer coisa", disse o governador, que é um dos presidenciáveis do PSDB.

Leite participa, neste domingo, de agenda no Distrito Federal, onde o partido realiza atividades com os pré-candidatos ao Palácio do Planalto. O principal adversário de Leite na sigla é o governador de São Paulo, João Doria, que, segundo o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), virá ao DF em outra data para dialogar com a legenda.

O governador gaúcho falou publicamente sobre sua homossexualidade no programa ao Conversa com Bial, da rede Globo. O gesto trouxe uma onda de apoio nas redes, mas também críticas, principalmente por Leite ter apoiado Bolsonaro no segundo turno de 2018. O presidente já era conhecido por declarações homofóbicas, entre elas, a de que seria incapaz de amar um filho homossexual.

Questionado neste domingo sobre as cobranças, Leite argumentou que não apoiou o atual presidente, apenas declarou voto. Ele ainda alfinetou Doria, que, na campanha de 2018, surfou no voto casado com o atual presidente -movimento conhecido como BolsoDoria-, e afirmou não misturou seu nome ao do então candidato.

"Não considero ter apoiado [Bolsonaro]. Apoiar um candidato significa, além de declarar o voto, buscar votos para um candidato. Isso é apoio, isso eu jamais fiz. Não fiz campanha casada, não misturei meu nome ao do candidato, não fiz material conjunto e nem procurei estimular que as pessoas votassem [em Bolsonaro]. Declarei qual seria meu voto em função do que se apresentava naquele segundo turno", disse Leite.

Ele afirmou que a candidatura de Bolsonaro lhe deixou "pouco ou nada confortável em relação a manifestações de ódio e ataques à pacífica convivência entre os seres humanos".

"Uma escolha que foi difícil para mim como foi para milhões de brasileiros", declarou.

Ele afirmou, ainda, que a configuração do segundo turno, com Bolsonaro e o petista Fernando Haddad, foi um "erro".

"O erro foi ter levado aquelas duas alternativas ao segundo turno em primeiro lugar. E dentro do que se apresentava no segundo turno, também considero que foi um erro cometido o encaminhamento da eleição do presidente Bolsonaro", disse.

 
 
 
 
 
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"As declarações de intolerância que o presidente tinha tido no passado me pareciam naquele momento [que] teriam, embora preocupantes, menos espaço para se apresentarem de forma prejudicial ao país. Na medida em que temos instituições fortes que garantiriam que a posição homofóbica dele não significasse política pública contrária a gays, lésbicas, bissexuais, transexuais o qualquer outro público homossexual. Então a gente tem que analisar esse erro, aprender com ele, para não cometer mais este erro", afirmou.

O governador também foi perguntado por jornalistas sobre as declarações do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que, num eventual segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, votaria no petista. Ele declarou que não se manifesta sobre qualquer cenário de possível segundo turno.

"Do ponto de vista político, da formação de um projeto alternativo para o Brasil, entendo que [o posicionamento de FHC] foi algo que poderia ser dispensado. Ou poderia ter sido feito com a reserva, inclusive com as manifestações logo em seguida. Da minha parte, e do PSDB, vamos continuar trabalhando incessantemente para que se constitua uma alternativa para o Brasil. Não vamos nos resignar em sermos levados a um segundo turno como o de 2018, onde tenhamos que escolher entre um projeto ruim e outro igualmente ou tão ruim, ou pior", afirmou.