Cultura Popular

'Deixa o boi vadiar' é primeiro álbum do Boi Marinho e traz toadas e canções autorais

Primeiro álbum da brincadeira de rua tem incentivo da Lei Aldir Blanc

Brincadeira do Boi Marinho lança seu primeiro cd - Ricardo Moura/Divulgação

De novembro a fevereiro, nos saudosos tempos pré-pandemia quem, por ventura, andasse pela rua da Moeda, no Recife Antigo, numa terça-feira à noite, iria encontrar uma kombi estacionada no meio da rua, formando uma espécie de palco com música, dança e teatro se misturando entre sorrisos e olhos brilhando no ensaio aberto para o Carnaval do Boi Marinho.

Fundada no ano de 2000, a brincadeira de rua inventada pelo músico, ator e dançarino, Helder Vasconcelos, que acaba de disponibilizas gratuitamente “Deixe o boi vadiar”, primeiro álbum do Boi Marinho, nas plataformas digitais. O projeto contou com apoio da Lei Aldir Blanc. 

“A ideia nasceu de uma vontade de querer brincar com elementos do cavalo-marinho, um teatro de rua do ciclo do Natal, durante o Carnaval. Eu já tinha uma relação com a brincadeira de boi”, explica Helder. “Não é um cavalo-marinho, nem um boi de Carnaval tradicional, foi uma invenção para atender àquela necessidade que nós tínhamos”, disse. 

Com canções, coreografias, versos e figurinos inspirados na figura do Bumba Meu Boi e elementos do cavalo-marinho, o cortejo do Boi Marinho sai sempre na sexta-feira da folia momesca no Bairro do Recife e na Quarta de Cinzas em Olinda. Nos sábados, ele segue pra cidade de Condado.

Cavalo-marinho e autorais

No repertório do álbum de 11 canções, toadas do cavalo-marinho e duas músicas autorais. “Eu quis priorizar essas toadas  porque nós cantamos outras coisas de outras tradições também, mas para esse álbum eu achde pessoas possível dentro dessa realidade de pandemia”, explicou Helder, que também é um dos fundadores do conjunto Mestre Ambrósio e credita sua formação ao aprendizado não acadêmico às tradições do cavalo-marinho (teatro popular, tradicional da Zona da Mata Norte de Pernambuco) e do maracatu rural, das quais participa ativamente desde 1992.

Planos para o futuro

De acordo com o multiartista, há o desejo de futuramente levar o álbum para os palcos com shows e apesar de ser um dos grandes nomes contemporâneos e incentivadores da cultura popular, rejeita a atribuição de que esteja modernizando a tradição. “A própria tradição em si já faz isso, essa história de modernizar é o mesmo que dizermos que a tradição não se moderei que era importante essa presença do cavalo-marinho porque foi o ponto de partida”, afirmou. Em quase 30 anos de carreira, Helder Vasconcelos desenvolveu ao longo de sua trajetória uma linguagem que integra música, dança e teatro e na brincadeira do Boi Marinho consegue unir suas atividades em uma única manifestação. 

No "espírito de rua"

Para manter o espírito da brincadeira de rua aceso, o disco foi gravado ao vivo em um sítio, no bairro de Ouro Preto, Olinda. “Eu queria fazer a coisa mais ao vivo possível, aí gravamos em alguns sets de percussão, sopros e as vozes. Então, por causa dessa situação de pandemia, gravamos em um lugar aberto e uma etapa gravação com um grupo menor na Casa Astral”, detalhou. 

“O Boi Marinho tem como característica ser uma brincadeira aberta, as pessoas participam, isso foi uma necessidade no começo e, hoje, embora não precise, eu quis manter, e nessa gravação eu quis ter pessoas que estão começando, que nunca gravaram, junto com um pessoal mais experiente também. Eu quis fazer uma gravação com o maior número niza, quando ela faz isso o tempo todo”, concluiu com a calma e serenidade característicos de quem sabe o que está falando.