Música

Sandra Pêra retoma carreira na música em disco que celebra Belchior

"Sandra Pêra em Belchior" foi lançado pela Biscoito Fino e traz, entre os convidados, nomes como Ney Matogrosso e Zeca Baleiro

"Sandra Pêra em Belchior" foi lançado pela Biscoito Fino - Arte / capa: Antônia Ratto

Sandra Pêra diz que é “uma conspiração do universo” que a tem levado aos “lugares certos e ao lado de grandes amigos”. A (boa) música brasileira agradece por conluios assim, contemplada que foi recentemente pelo disco “Sandra Pêra em Belchior”, trabalho que traz de volta a atriz em uma de suas facetas artísticas: cantar. 

“Foi um convite da minha amiga Kati Almeida Braga, dona da Biscoito Fino. Em um jantar, ouvindo o disco do Fagner ‘Serenatas’ e quando veio "Mucuripe’, ela me perguntou se eu não teria vontade de gravar Belchior. Imediatamente comecei a ouvir aquelas músicas sensacionais, letras importantes, cheias de significados e tão simples”, contou Sandra em entrevista à Folha de Pernambuco.

Como nasceu o projeto
No decorrer das onze faixas do disco – que teve José Milton e Amora Pêra, filha de Sandra, à frente da direção musical – de “Paralelas” a “Divina Comédia Humana” há ‘Sandra em Belchior’ que acertadamente aceitou o convite para dedicar, e com propriedade, um álbum a um dos grandes da Música Popular Brasileira (MPB). 

 

Trabalho que também ganhou videoclipe disponibilizado desde a última terça-feira (6) com a faixa “Na Hora do Almoço”, em dueto com a participação de Zeca Baleiro.



“Continuo dizendo que o universo está de bem comigo. Com o Zeca Baleiro, fiz o espetáculo ‘Mãe Gentil’ e nele cantávamos, atuávamos e dançávamos muito e durante um longo período que envolveu muitos ensaios. Ele é dono de uma voz linda e eu tive o privilégio de tê-lo neste projeto”, conta ela sobre a participação do cantor e compositor maranhense. 

Ney e As Chicas
Além dele, Ney Matogrosso faz par em “Velha Roupa Colorida”. Com Juliane Linhares, Sandra enaltece a interpretação de “Galos, Noites e Quintais” e em “Pequeno Mapa do Tempo”, As Chicas incrementam um inusitado xote à faixa. “Seria uma loucura minha não colocá-las para cantar comigo, aquelas vozes que se casam, brilham e nos deixam em transe quando ouvimos”, derrete-se Sandra em elogios ao trio de mulheres que compõe o grupo do qual a sua filha Amora também faz parte. 

“Minha filha, além de todo o sangue teatral e musical que vem do meu lado, é neta de Luiz Gonzaga, filha daquele pai Gonzaguinha”, destacou. “Sujeito de Sorte”, “Todo Sujo de Batom”, “A Palo Seco”, “Mucuripe” e “Medo de Avião” completam o disco que ganhou também versão física, além da disponibilidade nas plataformas digitais.

Belchior, rei louco e sóbrio demais
Lançado pela Biscoito Fino, o álbum chega quase quatro décadas depois da estreia solo de Sandra em “Sandra Pêra” (1983). Apesar de bradar que gosta “loucamente de palco”, a irmã da saudosa Marília Pêra nunca parou de cantar. “Sou atriz e brasileira, meu bem”, reforça em tom de mulher que sonha alto, como ela própria ressalta. 

“Quando ‘Frenéticas’ acabou, gravei o LP solo. Um disco bacana, mas a indústria tem pressa e não fui absorvida. Esperavam que eu fosse uma revolução e eu não fui, e então voltei ao meu velho e querido teatro. Agora quero mostrar esse disco, por mim e pelo Belchior, que não é só bom, porque quando você o olha bem de perto como olhei, você descobre um rei louco e sóbrio demais, genial, para se ajoelhar”.

 

Crédito: Jorge Bispo

Assumidamente capaz “de ter duas paixões ao mesmo tempo”, leia-se: teatro e música, ela retornou à música com potência interpretativa (e dramática) em voz e arranjos dignos de uma celebração a Belchior, que pode tomar os palcos em tempos melhore e quiçá, breves. “A ideia é fazer show, para quando for possível no meio dessa loucura que está o País depauperado”.

Mas, brasileira que é, 'meu bem', ela segue também em paralelo, ensaiando “A Procura da Dignidade”, conto de Clarice Lispector, mas “Sem trair a música”, como deixa claro. “É sob a direção de Ana Beatriz Nogueira, em princípio online no ‘Teatro com Bolso’, que fica na casa dela. Tenho me embebedado de Clarice e Belchior. Acho que estou muito bem”, afirma.

Sim, Sandra Pêra segue “frenética” desde os áureos “Dancin’ Days”, período em que gosta de lembrar mas não sente falta, já que o que ela deseja é “viver o que vivo hoje, meu corpo não gosta muito de nostalgia”.