Presidente cubano acusa EUA de querer provocar 'revoltas sociais' em Cuba
Cubanos foram às ruas no último domingo para protestar contra o atual governo
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, acusou nesta segunda-feira (12) Washington de impor "uma política de asfixia econômica para provocar revoltas sociais no país", um dia depois de protestos históricos, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu-lhe que "ouça seu povo".
Em transmissão ao vivo pela televisão e pelo rádio, o líder comunista, rodeado por vários de seus ministros, garantiu que seu governo está tentando "enfrentar e superar" as dificuldades diante das sanções dos Estados Unidos, reforçadas desde o mandato de Donald Trump.
"O que querem com essas situações? Provocar revoltas sociais, provocar mal-entendidos" entre os cubanos, mas também "a famosa mudança de regime", denunciou o presidente.
Os promotores dos protestos "tiveram a resposta que mereciam e continuarão a ter, como na Venezuela", um grande aliado de Cuba, acrescentou.
Biden, por sua vez, pediu ao "regime cubano que, em vez de se enriquecer, ouça seu povo e atenda suas necessidades", segundo nota.
"Estamos com o povo cubano e seu claro apelo por liberdade", disse ele.
A internet móvel, que chegou a Cuba no final de 2018 e permitiu a transmissão ao vivo de cerca de 40 protestos contra o governo em toda a ilha no domingo, continuava cortada na manhã desta segunda-feira.
México oferece ajuda
Milhares de cubanos, fartos da crise econômica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos e obrigou o governo a cortar a eletricidade por várias horas por dia, saíram às ruas espontaneamente no domingo em dezenas de cidades em todo o país.
Amplamente divulgados nas redes sociais, os protestos antigoverno começaram pela manhã, um fato incomum neste país governado pelo Partido Comunista, onde as únicas concentrações autorizadas costumam ser as do próprio partido único.
"Abaixo a ditadura!", "Que saiam!" e "Pátria e vida!" - título de uma canção polêmica -, gritaram milhares de manifestantes nas ruas de San Antonio de los Baños, uma pequena cidade de 50 mil habitantes a cerca de 30 km da capital Havana.
"Liberdade!", entoaram outras centenas em várias concentrações em Havana, onde houve confrontos entre os manifestantes e a polícia, que usou gás lacrimogêneo.
Embora Díaz-Canel tenha reconhecido a insatisfação de alguns cubanos, lançou aos revolucionários "a ordem de combate", para que "tomem as ruas onde quer que ocorram essas provocações".
Moscou, um dos principais defensores das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, alertou nesta segunda-feira contra qualquer "interferência externa" na crise.
"Consideramos inaceitável qualquer ingerência externa nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer ação destrutiva que favoreça a desestabilização da situação na ilha", disse Maria Zakharova, porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, rejeitou a política "intervencionista" da situação em Cuba e se ofereceu para enviar ajuda humanitária.
O México poderia "ajudar com remédios, vacinas (contra a Covid-19), com o que for necessário e com alimentação, porque saúde e alimentação são direitos humanos fundamentais", disse o presidente esquerdista em sua conferência matinal.
No domingo à noite, o governo dos Estados Unidos advertiu as autoridades cubanas contra o uso da violência contra "manifestantes pacíficos".
No Twitter, a subsecretária do Departamento de Estado dos EUA, Julie Chung, pediu "calma".
"Estamos profundamente preocupados com os 'chamados ao combate' em Cuba. Defendemos o direito de reunião pacífica do povo cubano", escreveu.
"Os Estados Unidos apoiam a liberdade de expressão e de reunião em Cuba e condenariam fortemente qualquer uso da violência contra manifestantes pacíficos que estejam exercendo seus direitos universais", tuitou o conselheiro de Segurança Nacional do governo americano, Jake Sullivan.
Carece de autoridade moral
"O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca carece de autoridade política e moral para falar sobre #Cuba", reagiu o chanceler cubano Bruno Rodríguez no Twitter nesta segunda-feira.
"Seu governo destinou centenas de milhões de dólares para a subversão em nosso país e impõe um bloqueio genocida, principal responsável pelas deficiências econômicas", acrescentou.
Após uma breve reconciliação entre 2014 e 2016, as relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos estão em seu nível mais baixo desde que Donald Trump reforçou o embargo em vigor desde 1962.
Essas sanções e a ausência de turistas, devido à pandemia, mergulharam Cuba em uma profunda crise econômica e geraram forte insatisfação social.
As manifestações também ocorreram em um contexto de forte aumento de casos de coronavírus na ilha.
No total, Cuba registrou oficialmente 238.491 casos, incluindo 1.537 mortes, para 11,2 milhões de habitantes.
Situação que tem levado muitos cubanos a usar a palavra-chave #SOSCuba nas redes sociais, para solicitar que a ajuda humanitária externa seja autorizada pelo governo.