POLÍCIA MILITAR

Eduardo Bolsonaro critica câmera 'grava-tudo' da PM de SP e diz que político corrupto deveria usá-la

Parlamentar questionou 'a quem interessa' um equipamento que grava as ações dos PMs em tempo integral

Eduardo Bolsonaro também sugeriu que as câmeras deveriam ser usadas por políticos corruptos - Reprodução

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) voltou a criticar na tarde desta quarta-feira (14) o programa de câmeras da Polícia Militar de São Paulo que grava, em áudio e vídeo, todas as ações dos policiais em serviço e tem como um dos objetivos reduzir a letalidade policial.

Em suas redes sociais, o parlamentar questionou "a quem interessa" um equipamento que grava as ações dos PMs em tempo integral. Ele também sugeriu que as câmeras deveriam ser usadas por políticos corruptos.

"Câmeras ligadas 100% do período q o PM estiver trabalhando vai desestimulá-lo. Não vai tardar e a sociedade sentirá os efeitos" (grafia original), escreveu em mensagem na qual marcou o Twitter da PM de SP (@PMESP).

"Outra situação: como o PM fará com seu informante. Vai fazê-lo fora do serviço para não filmar e expor seu sigilo?", questionou o parlamentar, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo, o número de mortes decorrentes de intervenção policial caiu para 22 casos em junho deste ano em São Paulo. Esse é o menor número em oito anos.

Nos 18 batalhões que fazem parte do programa, batizado de "Olho Vivo", o número de mortes em confronto caiu para zero nesse primeiro mês de ampliação de equipamentos empregados no serviço.

Nas mensagens das redes sociais, Bolsonaro diz que redução de mortes em confrontos é um "engodo esquerdista de letalidade policial".

Para o comando da PM de São Paulo, o uso das câmeras só favorece o bom policial, porque garante a ele prova inequívoca de sua boa atuação. Um grupo de policiais paulistas recebeu elogios do comando da PM após as gravações revelarem que todos os treinamentos internos foram seguidos.

"O objetivo do sistema é proteger o policial, garantir transparência para a população, fazer com que o comportamento do policial se torne cada vez mais profissional, respeitando as nossas normas, fortalecer as provas judiciais", disse, em entrevista anterior, o coronel Robson Cabanas Duque, gerente do programa.

Ao contrário do que afirma o deputado, o comando da PM de São Paulo sustenta que apenas o mau policial deve se preocupar com as gravações e, para eles, o único caminho é procurar outra profissão. "Para o mau policial, é um inferno na vida dele. Acabou. Essa pessoa vai pedir baixa [demissão]", disse.

Não é a primeira vez que o deputado critica o projeto -embora pareça desconhecer como ele funciona. "Os favoráveis a vagabundos dirão que é só cumprir a lei. Na realidade sabemos q só o policial será punido por especialistas de ar condicionado", disse em mensagem de 8 de junho.

Uma das características do equipamento usado pela PM é não gravar áudio nos momentos em que o policial não está realizando intervenções. Ao bater papo com o proprietário de um estabelecimento comercial, por exemplo, nada da conversa fica registrado.

O áudio só é captado quando o PM aciona um botão específico. Sem isso, a gravação fica sem som. Numa eventual comunicação de crime por informante, o teor da conversa ficará em sigilo entre os interlocutores -embora a função de investigação, pela lei brasileira, caiba à Polícia Civil.

Pelos equipamentos utilizados em São Paulo, cerca de 3.000, o governo paulista paga R$ 1,2 milhão por mês. "É caro, se você falar em investimento em segurança pública. Mas, para mim, vale cada centavo. Eu acho que é um dinheiro que o povo de São Paulo está colocando e é algo extremamente valioso para uma sociedade democrática", disse Cabanas.

Há licitação em andamento para aquisição de outas 7.000. "Isso veio para ficar, não vai mudar", disse o coronel sobre as críticas existentes.

A PM tem um canal no Youtube em que publica imagens dessas câmeras.