África do Sul

Após explosão de violência, Justiça sul-africana retoma julgamento contra Zuma

Envolvido em múltiplos escândalos e acusações por corrupção, o ex-chefe de Estado de 79 anos é julgado em um caso de subornos

Jacob Zuma, ex-presidente sul-africano - Phill Magakoe/Pool/AFP

O julgamento por corrupção do ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, cuja detenção há 10 dias provocou uma explosão de violência no país com um balanço de 215 mortos, foi retomado nesta segunda-feira (19) com uma audiência virtual.

Envolvido em múltiplos escândalos e acusações por corrupção, o ex-chefe de Estado de 79 anos é julgado em um caso de subornos que teria acontecido há mais de duas décadas.

A explosão de violência começou em 9 de julho no reduto de Zuma em Kwazulu-Natal (leste), um dia depois de sua detenção por outro caso, de desacato. Em seguida, propagou-se para Johanesburgo, com o elevado índice de desemprego e as restrições pela pandemia como pano de fundo.

O governo informou outras três mortes nesta segunda-feira, que elevam o total para 215, e destacou que a situação em Joanesburgo está "completamente estabilizada", enquanto em Kwazulu-Natal está "estável".

Nesta segunda-feira, muitos soldados e policiais foram mobilizados no centro de Pietermaritzburgo, a capital de Kwazulu-Natal, onde fica o tribunal. As ruas próximas também eram patrulhadas, e um helicóptero sobrevoava a área. A audiência acontece, no entanto, de modo virtual.

Zuma participou da audiência da prisão de Estcourt, a menos de 100 quilômetros do tribunal. A sessão, como é comum na África do Sul, era exibida na televisão.

 

Os simpatizantes de Zuma estão mobilizados para apoiar o ex-chefe de Estado. Eles foram acusados de promover o caos nos últimos dias, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, chamou a situação de tentativa orquestrada de desestabilizar o país.

O advogado de Zuma, Dali Mpofu, questionou a decisão de celebrar a audiência virtual, alegando que isto viola os direitos constitucionais de seu cliente. Ele afirmou que o formato impede que ele consulte a equipe de defesa.

Mpofu disse que os incidentes dos últimos dias foram "imprevistos" e pediu ao juiz o adiamento do julgamento por "duas ou três semanas".

O ex-presidente deve responder por 12 acusações de fraude e corrupção vinculadas à compra, em 1999, de material militar de cinco empresas europeias de armamento, quando era vice-presidente.

Ele é acusado de ter recebido mais de quatro milhões de rands (US$ 277.000 no câmbio atual), especialmente do grupo francês Thales. Esta foi uma das empresas que receberam grandes contratos por um valor global de quase US$ 3,3 bilhões.

A empresa francesa de defesa também é acusada de corrupção e de lavagem de dinheiro. Zuma e o grupo Thales sempre negaram as acusações.

No sábado (17), a equipe de Zuma pediu que a audiência fosse presencial, ou adiada.

Apesar dos vários escândalos de corrupção denunciados durante sua presidência, Zuma conserva uma influência real, inclusive dentro do Congresso Nacional Africano (ANC), o histórico partido que governa o país.

O julgamento foi adiado em várias ocasiões, após uma série de recursos apresentados pela defesa do ex-presidente. Na audiência anterior, em maio, Zuma se declarou inocente e, em seguida, o processo foi adiado.

Os advogados de defesa também exigem a renúncia do representante do Ministério Público, Billy Downer, por parcialidade. Downer pretende convocar mais de 200 testemunhas.

Zuma foi obrigado a renunciar em 2018, após a revelação de uma série de escândalos. Dois anos antes, um relatório devastador detalhou como irmãos empresários de origem indiana, os Gupta, saquearam recursos públicos durante sua presidência (2009-2018).