MPB

"Portas", de Marisa Monte, ressoa tão bem quanto todos os seus outros trabalhos

Disco traz nas letras esperança para os tempos atuais e inaugura parcerias da artista carioca

Marisa Monte em novo disco - Foto: Fernando Tomaz/Divulgação

As linhas a seguir vão percorrer o modismo (necessário) dos tempos atuais: neutro é shampoo de bebê e, portanto, isenção ou imparcialidade jornalística passarão longe deste texto. Justificativa: falar de/sobre Marisa Monte é deleite. 

Um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira (MPB) – e para alguns críticos, o maior deles - aos 54 anos, recém-completados no último 1º de julho, inverteu a ordem e presenteou os bons ouvidos com o seu “Portas” (Sony Music), lançado na mesma data e com o requinte se sempre, em um somatório de leveza e personalidade que sempre moveu a artista, desde os primeiros acordes vocais lá pelo início da década de 1990 com o seu “MM” (1989) e, em seguida, com o “Mais” (1991), assinando ali as suas primeiras parcerias com Nando Reis e Arnaldo Antunes.

Este último, inclusive, a acompanha junto a Dadi Carvalho na faixa homônima que abre o álbum da cantora e compositora carioca e que traz as (sempre bem-vindas) metáforas melodiadas em formato de poesia, com dizeres óbvios, mas quando cantarolados, parecem ressoar com mais facilidade de serem praticados: “(Portas) Todas servem para sair ou para entrar, é melhor abrir para ventilar (...) Todas dão em algum lugar e não tem que ser uma única”.

E Marisa segue com “Calma”, sensação literal captada quando se ouve a faixa que foi single inaugural para anunciar no início de junho o disco que viria no mês seguinte. “Calma que já podemos pensar no futuro” e, portanto, ‘não tenhamos medo do escuro, porque logo vem a alvorada’. 
A canção foi estreia em sua parceria com Chico Brown, artista que carrega no DNA o sangue de outros dois nomes incontestáveis da música, Chico Buarque (avô) e Carlinhos Brown (pai) – este, que por um bom tempo acompanhou Marisa, deu lugar ao filho que adentrou e bem o cancioneiro da artista carioca, assinado também ao seu lado as faixas “Dèja Vu”, “Medo do Perigo”, “Em Qualquer Tom” e “Fazendo Cena”. Outro nome de estreia nos trabalhos musicais de Marisa Monte foi Marcelo Camelo. Dele ela interpreta “Espaçonaves” e juntos compõem “Sal” e “Você Não Liga”.

Das bonitezas do álbum, o samba “Elegante Amanhecer” ecoa a cadência de Marisa no ritmo e, claro, ressoando a Portela, sempre exibida de quando em sempre em seu cancioneiro, pois “A Portela é mil contos para contar, mil cantos para cantar, tanta beleza”. 

Pretinho da Serra assina a letra ao seu lado e toma conta da percussão da faixa. Ele volta novamente em “Quanto Tempo” junto a Pedro Baby, outra canção que integra as levezas costumeiras da artista carioca. Novamente com Dadi Carvalho e Arnaldo, ela entoa “Língua dos Animais”, faixa introduzida pelo lirismo de voz e melodia, para sem seguida surpreender com arranjos de metais. E o multiartista e ex-Titã retorna na canção “Vagalumes”, poetizando mais uma composição ao seu lado e, em “Praia Vermelha”, Nando Reis faz as vezes de sempre de um bom e velho parceiro – o último trabalho dos dois foi em “Infinito Particular” (2006). 

A marca de Marisa

Já com os irmãos Lúcio e Lucas Silva, “Totalmente Seu” consolida a admiração mútua entre os três artistas e em “Pra Melhorar”, faixa que encerra o primoroso “Portas” – que não traz novidades de estilo, e isso é uma das peculiaridades de Marisa Monte, já que segue (en)cantando entregando o mesmo –  ela assina com pai e filha, Seu Jorge e Flor, um hit atemporal que como diz a letra é “para encher o peito e cantar”.

Mas, pensando nos tempos atuais, os mesmos em que o disco foi lançado, assim como a faixa que abre o disco e traz o respirar de esperanças sobre o ‘abrir portas e possibilidades’, a canção instiga um fechar de olhos para bradar em alto e bom som que “Lá vem o sol, para derreter as nuvens negras, para iluminar o fim do túnel. E luz do céu, para inspirar os seus desejos, para fazer você encher o peito e cantar”.