Mundo

A AIEA 'incomodada' com espera para retomada de negociação nuclear com Irã

Governo iraniano indicou no sábado que as negociações para tentar salvar o acordo nuclear com o Irã de 2015 não serão retomadas até posse do presidente Ebrahim Raisi

Subdiretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), argentino Rafael Grossi - Andre Borges / AFP

A interrupção das negociações do programa nuclear iraniano até a posse de um novo governo em Teerã coloca as equipes de inspetores em uma "situação incômoda", afirmou o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, à AFP nesta segunda-feira (19). 

"Há uma série de assuntos, questões que estamos tentando esclarecer com o Irã e teremos que esperar para reiniciar [as discussões] novamente com a próxima equipe dirigente", disse Grossi em entrevista no Rio de Janeiro, à margem de uma visita oficial ao Brasil.

"Isso nos coloca em uma situação bastante incômoda. Quero dizer, a AIEA, não sei sobre os outros [participantes das negociações], mas suponho que eles preferem negociar a esperar", acrescentou. 

"De certa forma, estamos navegando às cegas. Mas temos que ser otimistas, profissionalmente otimistas, e dizer: devemos esperar e recomeçar o quanto antes, assim que o novo governo tomar posse", continuou. 

O governo iraniano indicou no sábado passado que as negociações em Viena para tentar salvar o acordo nuclear com o Irã de 2015 não serão retomadas até que o presidente ultraconservador Ebrahim Raisi, que ganhou as eleições de junho, tome posse em 5 de agosto. 

"Estamos em um período de transição (...) Portanto, as negociações de Viena devem obviamente esperar por nosso novo governo", disse Abas Araghchi, vice-ministro das Relações Exteriores e chefe da equipe de negociação da República Islâmica. 

Raisi substituirá o moderado Hassan Rohani, cuja eleição em 2013 permitiu fechar um acordo com a comunidade internacional em 2015, após doze anos de crise em torno da questão nuclear iraniana. 

Esse pacto ofereceu a Teerã alívio das sanções do Ocidente e da ONU em troca de seu compromisso de não adquirir armas nucleares e uma redução drástica em seu programa nuclear, sujeito às inspeções da AIEA. 

Mas o acordo foi abalado em 2018 pela decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de deixá-lo e restabelecer as sanções americanas ao Irã. 

O sucessor de Trump, Joe Biden, expressou sua intenção de voltar ao acordo e entrou em negociações indiretas com o Irã, enquanto os outros estados signatários do acordo (Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia) mantêm conversações em Viena.