PANDEMIA

Como o Japão enfrentou sua batalha contra o coronavírus

Agravamento da situação sanitária alimentou a oposição crescente aos Jogos Olímpicos no país

Azusa Iwashimizu, membro da equipe nacional de futebol feminino do Japão, carrega a tocha olímpica antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 - Foto: Philip Fong/POOL/AFP

De um surto infeccioso em um navio à longa saga dos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados por um ano e que começam nesta sexta-feira (23), a luta do Japão contra a pandemia atraiu a atenção internacional desde o início. 

O país foi inicialmente apontado e criticado por sua lenta reação contra a Covid-19, mas o arquipélago japonês registrou até agora cerca de 15.000 mortes devido à doença, com uma incidência muito menor do que em outros países. Ao mesmo tempo, conseguiu evitar confinamentos estritos, como outros países sofreram. 

O Japão foi um dos primeiros países, além da China, a detectar um caso de Covid-19 e começou a testar pessoas vindas de Wuhan desde muito cedo. Mas o assunto ganhou uma nova relevância em fevereiro de 2020, quando o navio de cruzeiro Diamond Princess foi colocado em quarentena na costa de Yokohama, perto de Tóquio. 

Com centenas de passageiros e tripulantes positivos e 13 mortos, as autoridades japonesas foram amplamente criticadas por exigir que todos permanecessem a bordo em quarentena, enquanto o vírus se espalhava pela embarcação. 

Em solo japonês, o governo pediu aos residentes que ficassem em casa caso apresentassem sintomas de Covid-19, enquanto limitava os testes, uma decisão que também gerou intensos debates. 

À medida que a epidemia se agravava, a situação piorou a todo vapor: em março de 2020, os Jogos Olímpicos foram adiados, algo sem precedentes em tempos de paz. O estado de emergência foi decretado em Tóquio, antes de ser estendido a todo o país.

- Lentidão na vacinação -

Esse estado de emergência, que nunca se concretizou em lockdowns totais como os que foram decretados em outras partes do mundo, pedia que as pessoas ficassem em casa, embora sem quaisquer sanções reais para quem decidisse fazer o contrário. 

Quando o primeiro estado de emergência terminou em maio de 2020, as pessoas no Japão retomaram uma vida quase normal, mantendo uma certa disciplina e usando máscara em todas as circunstâncias, enquanto a fronteira japonesa permanecia fechada para estrangeiros. 

No verão japonês de 2020, a situação parecia sob controle e houve campanhas governamentais que até incentivaram as pessoas a viajarem dentro do país e a frequentarem restaurantes. 

Mas, como em outras partes do mundo, o inverno atingiu duramente e em janeiro de 2021 um segundo estado de emergência foi decretado. As restrições foram mantidas durante a maior parte do período que antecedeu as Olimpíadas.

O agravamento da situação sanitária alimentou a oposição crescente aos Jogos Olímpicos no Japão e os rumores de um cancelamento do evento ganharam força, mas os organizadores os negaram. 

Enquanto a vacinação começava nos Estados Unidos e no Reino Unido, as coisas progrediram muito mais lentamente no Japão, a terceira maior potência econômica do mundo. 

A vacina da Pfizer não foi aprovada até meados de fevereiro, depois de testes clínicos no Japão, e as vacinações começaram com prudência, primeiro para os profissionais da área de saúde e depois para os idosos. 

O ritmo se acelerou a partir de maio, mas a uma semana da abertura dos Jogos Olímpicos, apenas 20% da população japonesa estava totalmente vacinada e os organizadores decidiram proibir a presença de espectadores em quase todas as instalações olímpicas, pela primeira vez na história dos Jogos.

- "Esforço individual" -

Segundo especialistas, o Japão se beneficiou do fato de ter sua população mentalmente preparada para um vírus como esse. 

"As pessoas não relutavam em usar máscara. Já tinham conhecimentos e práticas básicas de higiene", disse à AFP Haruo Ozaki, que dirige a Associação Médica de Tóquio.

Mas houve brechas, de acordo com Kenji Shibuya, um especialista em saúde pública, muito crítico em relação à resposta sanitária dada pelas autoridades japonesas. 

"O governo confiou muito no esforço individual, em vez de propor uma abordagem baseada na ciência, especialmente com testes e vacinação", disse Shibuya, que deixou funções importantes no Reino Unido para administrar um centro de vacinação em Fukushima. 

De acordo com Ozaki, a resposta do Japão também foi prejudicada pela ausência de uma agência independente responsável pelas doenças infecciosas ou de um sistema que garantisse rapidamente leitos hospitalares. 

"A vontade da população de assumir responsabilidades pessoais no combate à pandemia foi prejudicada pela duração da crise", lamenta Shibuya. Agora, "a frustração aumenta", diz ele.