China rejeita responsabilidade em ciberataque contra Microsoft e critica aliados dos EUA
Washington responsabilizou quatro "hackers" chineses pelo ataque
A China rejeitou, nesta terça-feira (20), as acusações americanas de que teria executado um grande ciberataque contra a gigante de tecnologia Microsoft em março passado, afirmando que foram "fabricadas" por Washington e seus aliados.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que o ataque de março, que comprometeu dezenas de milhares de servidores de e-mail Microsoft Exchange em todo mundo, é parte de um "padrão de comportamento irresponsável, perturbador e desestabilizador no ciberespaço" na China.
Nesta terça-feira, o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian, rebateu a acusação americana, declarando que "é completamente fabricada e apresenta os fatos ao contrário".
Washington responsabilizou quatro "hackers" chineses pelo ataque.
O presidente Joe Biden anunciou que os Estados Unidos vão concluir uma investigação antes de tomarem qualquer medida e traçou um paralelo com o crime cibernético que os países ocidentais atribuem à Rússia.
"O governo chinês, como o governo russo, não está fazendo isso (os ataques cibernéticos) sozinho, mas protegendo aqueles que estão fazendo isso e, talvez, até permitindo que eles façam", disse Biden a repórteres na Casa Branca.
Em uma medida que o governo Biden qualificou de inédita, os Estados Unidos coordenaram sua manifestação com seus aliados: União Europeia (UE), Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Japão e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
- "Campanha de descrédito" -
A porta-voz da diplomacia chinesa afirmou que a ação dos Estados Unidos e de seus aliados é parte de uma "campanha de descrédito e de pressão totalmente motivada por razões políticas".
"Jogar descrédito sobre os outros não limpa sua imagem. Os Estados Unidos são o principal país responsável por ataques cibernéticos no mundo", denunciou Zhao Lijian.
Já a embaixada da China em Wellington criticou a Nova Zelândia, especificamente, e chamou o ato de "calúnia mal-intencionada".
Em paralelo, a representação de Pequim na Austrália acusou Camberra de "repetir como um papagaio a retórica dos Estados Unidos".
"É bem conhecido que os Estados Unidos realizaram escutas telefônicas inescrupulosas, em massa e indiscriminadas em muitos países, incluindo seus aliados", lembrou a embaixada, em um comunicado, acrescentando que "é o campeão mundial dos ciberataques maliciosos".
- Declarações coordenadas -
Assim como o antecessor republicano Donald Trump, Biden aumentou a pressão sobre a China, por considerar a potência asiática a principal ameaça para os Estados Unidos no longo prazo.
Os aliados apoiaram as acusações contra a China.
"O governo chinês deve encerrar sua sabotagem cibernética sistemática e deve ser responsabilizado, se não o fizer", enfatizou o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab.
Mais cautelosa, a Otan emitiu um comunicado, dizendo que "tomou nota" das declarações de Estados Unidos, Reino Unido e Canadá sobre a China e expressou sua "solidariedade".
Uma autoridade dos EUA disse que é a primeira vez que a Otan, a aliança militar fundada em 1949 para enfrentar a União Soviética, condena a atividade cibernética da China.
No mês passado, o bloco alertou sobre os "desafios sistêmicos" apresentados por Pequim.
A UE pediu às autoridades chinesas, por sua vez, que "tomem medidas contra as atividades cibernéticas maliciosas realizadas em seu território", sem culpar diretamente o governo chinês pelo ataque cibernético contra a Microsoft.
Embora esta seja a condenação mais ampla até agora às atividades digitais chinesas, analistas destacam que, sem o anúncio de sanções, ou de represálias, seu alcance é limitado.
- "Pedidos de resgate" -
O ataque cibernético contra a Microsoft, que explorou falhas no serviço Microsoft Exchange, afetou pelo menos 30.000 organizações dos Estados Unidos, incluindo governos locais, bem como entidades ao redor do mundo.
A gigante de tecnologia já havia acusado um grupo de "hackers" ligados a Pequim, chamado "Hafnium".
Um funcionário de alto escalão do governo Biden, que pediu para não ser identificado, falou de tentativas de extorsão e "pedidos de resgate de milhões de dólares" dirigidas a empresas privadas por "hackers" chineses.