Ataque

Cadastro de Boulos no SUS é alterado com ofensas, e Saúde diz ter bloqueado perfil que fez mudanças

Esse não foi o primeiro caso envolvendo o sistema do Ministério da Saúde

Guilherme Boulos - Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), afirma ter tido seu cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS) alterado com ofensas e xingamentos a membros de sua família.

Boulos diz ter tomado conhecimento do problema na segunda-feira (19). A alteração ocorreu no sistema de registro de dados para o Cartão Nacional da Saúde, que reúne informações de usuários do SUS. Segundo sua equipe, a mudança foi descoberta após busca de dados sobre a vacinação.

"Descobri que meus dados cadastrais no Sistema Único de Saúde (SUS) foram alterados ilegalmente. Além de não registrarem a primeira dose da vacina contra a Covid-19, recebida há uma semana, dados como o nome dos meus pais foram alterados por ofensas e xingamentos grosseiros", disse em nota. "É lamentável que nem mesmo o SUS esteja a salvo do gabinete do ódio", completou.

Entre as mudanças, foram incluídas fotos de Boulos em uma barricada pegando fogo, e registros de sua família passaram a ter nomes como "Kid Bengala”. Em nota, o Ministério da Saúde diz que "verificou uma alteração na base do CNS realizada por uma pessoa credenciada para utilizar o sistema de cadastro de dados" e que pediu o bloqueio "da credencial usada nestas ações”.

Questionada sobre a origem das mudanças, a pasta não respondeu. O ministério, porém, disse que o acesso ao sistema "está disponível para os profissionais de estabelecimentos de saúde de todo o Brasil, que devem estar devidamente cadastrados e vinculados ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do estabelecimento de atuação, seja público ou privado". "Cabe ressaltar que é necessário ter o perfil de operador do sistema para efetuar edição nos registros", afirmou.

Sobre a ausência de informações no sistema sobre a aplicação da primeira dose da vacina, o ministério disse que os dados dependem do registro por estados e municípios. "Caso não esteja disponível após dez dias da imunização, o ministério orienta que o cidadão procure a unidade de saúde.”

A mudança no cadastro de Boulos foi identificada poucos dias após alterações terem sido observadas no cadastro da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, profissionais de saúde avisaram que o cadastro de Gleisi no SUS tinha sofrido uma baixa por óbito depois que ela recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid.

Os documentos foram checados e eram, de fato, de Gleisi, que está viva. No sistema, ela também recebeu o apelido de "Bolsonaro" após o nome completo. A suspeita é de que o cadastro tenha sido alterado após ataques de hackers ao sistema.

Em um desses ataques, revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo, houve a inclusão de nomes ofensivos nos cadastros de outras figuras políticas.

A ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, recebeu o xingamento "motherfucker" no campo de seu nome, além de "Vai Bolsonaro". Já a ex-deputada federal Manuela D'Ávila foi identificada como "petista", e o ex-presidente Lula, como "Luis Inacio Pingaiada da Silva".