PROTESTOS

Pela quarta vez, manifestantes voltam a promover atos contra Bolsonaro pelo país

Manifestantes pedem impeachment do presidente

Manifestação Fora Bolsonaro - Foto: Arthur Mota

Manifestantes se reuniram em protestos contra o presidente Jair Bolsonaro, na manhã deste sábado (24), em capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luís e Teresina.

Os protestos fazem parte de uma série de manifestações pelo impeachment do presidente realizadas nos últimos dois meses com organização de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.

A expectativa dos organizadores é que sejam realizados, ao longo deste sábado, protestos em 496 cidades, incluindo 17 países do exterior. São Paulo e Brasília terão manifestações durante a tarde.

Em Salvador, a chuva fina não espantou os manifestantes que compareceram em número semelhante aos protestos anteriores e saíram em passeata entre o Campo Grande e a praça Municipal.

Estudantes universitários, secundaristas, sindicalistas e militantes de partidos de esquerda deram o tom do protesto, que foi puxado por um trio elétrico e ao menos cinco carros de som de menor porte.

A atuação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia foi o principal mote das manifestações, que também tiveram apresentações artísticas de grupos de teatro e de percussão.

Mas também houve lugar para defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Um grupo minoritário de militantes do PDT empunhava uma faixa com a foto de Ciro Gomes, também pré-candidato ao Planalto.

Sindicalistas criticaram a reforma administrativa que tramita no congresso e um grupo de servidores dos Correios se manifestou contra a privatização da estatal.

Eles carregavam um caixão com as fotos do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), acompanhados por um carro de som que tocava a música Astronomia, de Tony Igy, que viralizou com o meme do caixão.

Não houve referências à aprovação do fundão eleitoral de R$ 6 bilhões para as próximas eleições, aprovado com votos contrários dos partidos de esquerda.

Também marcaram presença no protesto militantes do movimento negro, LGBTQIA+, torcidas organizadas do Bahia e do Vitória, além de um grupo de evangélicos que se manifestava contra Bolsonaro.
Ainda houve faixas contra o embargo dos Estados Unidos à Cuba, país que vem enfrentado uma onda de protestos em várias cidades contra o governo.

Ao contrário de outras capitais, partidos como o PSDB e movimentos alinhados à direita como o MBL não participaram da manifestação na capital baiana. Não houve registro de conflitos.

Presente no ato, o deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) afirmou que a adesão à série de manifestações mostra que a população segue vigilante contra o governo Jair Bolsonaro.

"Vemos posicionamento firme das pessoas, que estão protestando com muita vitalidade e criatividade contra o governo de Bolsonaro e [do vice-presidente, Hamilton] Mourão", afirmou o deputado.

No Rio de Janeiro, manifestantes percorreram a avenida Presidente Vargas, na região central do Rio. O ato teve como principal foco o pedido de impeachment do presidente. Gritos de "Fora, genocida" marcam o protesto.

Os militares e partidos do centrão, que deve ganhar ainda espaço no governo com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil, também são alvos de críticas dos manifestantes. Houve ainda cobranças por mais vacinas contra a Covid-19.

O deslocamento começou nas proximidades do Monumento Zumbi dos Palmares, por volta das 10h. A caminhada segue em direção à Candelária, em um trajeto de cerca de dois quilômetros.

A maioria dos manifestantes usa máscaras, mas há registro de aglomerações. Na sexta-feira (23), a prefeitura do Rio suspendeu a aplicação da primeira dose da vacina contra o coronavírus em razão da falta de imunizantes.

Líderes de movimentos e entidades se revezam em discursos contra Bolsonaro em um carro de som na capital fluminense. A crítica a privatizações, defendidas pelo Ministério da Economia, também aparece nos discursos.

Há alguns manifestantes com bandeiras ou camisetas de partidos como o PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, subiu no carro de som e discursou contra Bolsonaro. O parlamentar defendeu o impeachment do presidente, além de fazer críticas a militares e ao voto impresso, formato de votação defendido pelo governo federal.

O movimento faz parte de uma nova onda de protestos contra Bolsonaro, agendada no país por movimentos sociais e centrais sindicais. A convocação anterior havia ocorrido no último dia 3.

O Rio teve outro ato no dia 13, com registro de confusão entre manifestantes e Polícia Militar.

O retorno às ruas, três semanas depois de uma data extra convocada para pegar carona na temperatura das primeiras denúncias de corrupção na compra de vacinas pelo governo federal, ocorre em um momento de ceticismo sobre o impeachment, representado nos atos pela bandeira "fora, Bolsonaro".

Além das reiteradas declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, indicando resistência a dar andamento a um dos mais de cem pedidos de deposição já protocolados, a anunciada nomeação para a Casa Civil do senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder do centrão, agrava o quadro.


Ao amarrar o apoio do bloco de partidos a seu governo, Bolsonaro age para sepultar também o risco de um eventual processo contra ele ter votos suficientes para passar no Congresso. A soma de fatores ampliou no meio político a descrença sobre a chance de o impeachment prosperar.

Líderes das marchas, contudo, minimizam o cenário desfavorável e dizem que um dos objetivos é expressar o descontentamento generalizado com o governo. Avaliam que é importante, por exemplo, demonstrar apoio à CPI da Covid no Senado, que apura falhas do presidente na pandemia.

O pedido de mais vacinas contra a Covid-19, outro eixo que unifica as entidades engajadas na convocação, também pode acabar perdendo apelo com a evolução, ainda que lenta, da imunização no país –60,1% da população adulta já tomou ao menos uma dose.

Nesse caso, a resposta que os realizadores costumam repetir é a de que as passeatas cumprem o papel de relembrar o descaso do governo na obtenção das doses, evidenciado pelas revelações da CPI, e a necessidade de punição para eventuais responsáveis pelas quase 550 mil mortes.