História de Marielle Franco é retratada em HQ
Ex-vereadora carioca, assassinada em 2018, faria 42 anos nesta terça-feira (27)
Estampada em cartazes, a frase “Marielle, presente!” é uma lembrança de que a luta da ex-vereadora carioca - assassinada em 2018 - segue bem viva. É um grito de resistência, que faz ainda mais sentido nesta terça-feira (27), quando ela completaria 42 anos. Para celebrar a data, o Instituto Marielle Franco lança a HQ “Marielle Franco - Raízes”.
Disponibilizado de forma gratuita no site da instituição, em formato físico e digital, o gibi traz um recorte da trajetória de vida da socióloga e política, que nasceu e cresceu no Complexo da Maré. Mais precisamente, a obra retrata desde o casamento dos pais de Marielle, até seu ingresso na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde cursou ciências sociais.
A ideia de produzir uma história em quadrinhos sobre a ativista partiu de Anielle Franco, irmã mais nova de Marielle. À frente do instituto que leva o nome da ex-vereadora, ela sentiu a necessidade de criar uma obra que levasse a memória da irmã para uma nova geração, especialmente crianças e adolescentes moradores de favelas.
“Espero que esse material tenha um impacto muito positivo na vida de meninas negras. Desejo que elas percebam, a partir dessa história, que ninguém tira delas o conhecimento. É um pouco do que a nossa mãe passou para a Marielle e passa para mim até hoje”, comentou Anielle em entrevista à Folha de Pernambuco.
Financiado com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, a HQ foi produzida pela própria equipe do Instituto Marielle Franco. Um grupo formado majoritariamente por mulheres negras, encabeçado por Anielle, ficou responsável pela criação do projeto, desde o roteiro até a diagramação, passando pela pesquisa e pelos desenhos. A live de lançamento ocorre hoje, às 15h, com participação do rapper Emicida.
A publicação do gibi é apenas uma das ações da instituição em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. No final de junho, foi lançado o livro “A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras”. Já a série documental “Para Onde Vamos”, feita em parceria com o Canal Brasil, está disponível no Globoplay.
“Acredito que cada lançamento é mais um passo nessa busca por reparação que a gente tem vivido, não só no mês de julho. Isso para mim, enquanto mulher negra, é especial. Vivemos uma luta diária, mas me acalenta ver que não estamos sozinhas”, apontou Anielle, que almeja grandes objetivos para a instituição que comanda. “Gostaria, por exemplo, de criar um centro físico de memória e ancestralidade para a Mari. Tenho muito sonhos e espero que eles alcancem o patamar do tamanho dela, que é esse símbolo mundial”, disse.
Embora não se canse de lutar por justiça, Anielle prefere comemorar a vida do que rememorar a morte de Marielle. A forma como a imagem da irmã vem sendo utilizada por alguns grupos também gera um incômodo que ela não esconde. “Não estou criticando a tia preta da favela que vende broche da Marielle. Critico quem usa isso como um palanque para ganhar like, que conta os dias da morte, mas não fala de todo o trabalho potente que ela fez em vida”, observou.
Após mais de quatro anos, as famílias de Marielle e do motorista Anderson Gomes ainda pressionam as autoridades para que o caso seja esclarecido. “Sabemos que são inúmeros crimes no Brasil que seguem impunes, mas continuo lembrando que ela era uma vereadora eleita democraticamente e que a gente precisa de respostas. Eu sigo esperançosa”, comentou.