Economia e Pandemia

FMI diz que acesso às vacinas amplia desigualdades na recuperação econômica

Surgimento de variantes altamente contagiosas pode custar à economia global US $ 4,5 trilhões até 2025

Fundo Monetário Internacional - Mandel Ngan/AFP

A recuperação deve ser mais rápida do que o esperado nas economias desenvolvidas, mas mais lenta para os países emergentes, em particular devido ao acesso desigual às vacinas contra o coronavírus, alertou, nesta terça-feira (27), o FMI, que mantém sua previsão de crescimento global de 6% em 2021.

"O acesso às vacinas se tornou a principal linha de ruptura que divide a recuperação global em dois blocos", disse o FMI em uma atualização trimestral de seu Relatório Perspectivas da Economia Mundial (WEO).

De um lado, as economias mais avançadas, que têm acesso às vacinas e "podem esperar uma normalização da atividade este ano". Do outro, países que têm pouco ou nenhum acesso a elas e "continuarão enfrentando um ressurgimento de infecções e o aumento do número de mortes relacionadas à Covid-19".

O Produto Interno Bruto (PIB) deve, portanto, crescer mais rápido do que o esperado nas economias desenvolvidas, de 5,6% em 2021 (0,5 ponto a mais do que nas últimas projeções de abril).

Em contraste, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento devem experimentar um forte crescimento este ano, mas mais lento do que o esperado anteriormente, de 6,3% (-0,4 ponto). 

A Índia, devastada pelo ressurgimento do vírus devido à variante delta, vive a desaceleração mais acentuada em suas perspectivas econômicas, com crescimento esperado de 9,5% (-3 pontos). A situação também se deteriora para a China, com crescimento esperado de 8,1% (-0,3 ponto).

Acesso às vacinas e apoio orçamentário
Quase 40% da população das economias avançadas está totalmente vacinada, em comparação com 11% nas economias de mercado emergentes e uma pequena fração nos países em desenvolvimento de baixa renda, detalha o FMI, que recentemente propôs um plano de US $ 50 bilhões para vacinar pelo menos 40% da população mundial até o final do ano. 

"Eu diria que estamos mais preocupados do que em abril", declarou à AFP Petya Koeva Brooks, vice-diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O surgimento de variantes altamente contagiosas pode custar à economia global US $ 4,5 trilhões até 2025, avisa a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, em um blog publicado nesta terça-feira.

"As diferenças de apoio político são uma segunda fonte do agravamento da lacuna" entre os países, comentou ela.

Assim, os Estados Unidos devem experimentar um crescimento de 7% este ano (+0,6 ponto) e 4,9% em 2022 (+1,4 ponto) graças aos planos de investimento em infraestruturas e gastos com políticas sociais que poderão ser adotados em breve no Congresso.

O FMI enfatiza que esse vigor econômico deve ter um impacto positivo sobre seus parceiros comerciais. 

O mesmo ocorre na zona do euro, onde o plano de estímulo “Next Generation” deve estimular o crescimento, agora esperado em 4,6% em 2021 (+0,2 pontos).

A situação também deve ser melhor do que o esperado no Reino Unido, com o PIB crescendo 7,0% (+1,7 ponto).

Preços dos alimentos em alta
"Alguns mercados emergentes como Brasil, Hungria, México, Rússia e Turquia também começaram a aumentar suas taxas básicas para evitar pressões de alta sobre os preços", disse Gita Gopinath.

O FMI apela aos bancos centrais para que mantenham seu apoio às economias e não restrinjam suas políticas imediatamente, estimando que "a inflação deve retornar aos níveis pré-pandêmicos na maioria dos países em 2022", apesar do "risco de que pressões transitórias possam se tornar mais persistente".

O FMI agora espera, para as economias desenvolvidas, inflação de 2,4% em 2021 (+0,8 ponto) e 5,4% (+0,5 ponto) nos países em desenvolvimento.

"A inflação deve permanecer alta até 2022 em alguns mercados emergentes e economias em desenvolvimento, em parte devido à pressão contínua sobre os preços dos alimentos e desvalorizações cambiais, criando uma nova lacuna", comentou a economista-chefe.

Boas notícias, porém, no plano do comércio internacional, que deve registrar crescimento de 9,7% em 2021 (+1,3 pontos), "apesar das perturbações na oferta no curto prazo".

No longo prazo, para 2022, a projeção para o crescimento do PIB global é elevada em 0,5 ponto, para 4,9%.