INVESTIGAÇÃO

Câmeras não mostram entrada de estranho em prédio de Joice, apontam investigações

As investigações também mostram que a deputada não deixou o apartamento no período

Joice Hasselmann - Pedro Ladeira/Folhapress

As câmeras de segurança do prédio em que mora a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) em Brasília não registraram a entrada de nenhum estranho de quinta-feira (15) a terça-feira (20), segundo informações das investigações confirmadas pela reportagem.

A perícia foi realizada após a parlamentar ter relatado um incidente na madrugada do dia 18 no qual teve cinco fraturas no rosto, uma na coluna e diversos hematomas pelo corpo.

As investigações também mostram que a deputada não deixou o apartamento no período.

Em nota, o Departamento de Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados (Depol) disse apenas ter realizado perícia em 16 câmeras do prédio onde fica o apartamento funcional de Joice e ouvido funcionários que trabalham no local, em meio a investigações sobre as fraturas e hematomas apresentados pela deputada.

A nota não informa o resultado da perícia. O inquérito sobre o caso foi enviado para o Ministério Público Federal, a quem caberá oferecer ou não denúncia à Justiça Federal.

"A Câmara esclarece que há segurança nos locais onde se localizam os apartamentos funcionais dos parlamentares. Os prédios possuem vigilância armada e porteiros, ambos 24 horas por dia, sete dias por semana", indicou. "Além disso, há câmeras de segurança e rondas ostensivas, com viatura caracterizada."

Outras informações sobre a investigação no âmbito do Depol são sigilosas, segundo a Polícia Legislativa.

Uma nota não oficial atribuída ao Depol circulou com a indicação de que as câmeras não teriam registrado a entrada de estranhos ou a saída da deputada entre os dias 15 e 20. A assessoria de imprensa da Câmara não confirmou as informações da nota.

Na manhã desta terça-feira (27), a Polícia Civil realizou perícia de cerca de quatro horas no apartamento funcional de Joice. O Depol coletaria impressões digitais na sequência. A segurança no prédio foi reforçada, segundo funcionários que trabalham no local.

Em uma rede social, a deputada afirmou que a Polícia Civil recolheu materiais para análise e que viu falhas de segurança do prédio.

"Não existem câmeras de segurança nas escadas e entradas dos aptos", escreveu.

"Já disse com todas as letras que isso não é coisa de amador, mas de profissional. Ninguém entraria na casa de uma parlamentar para agredi-la dando 'tchauzinho' para a câmera do térreo ou do elevador, tendo tantos pontos cegos no prédio", indicou. "Não terei o mesmo destino de PC FARIAS."

"Vou até as últimas consequências. Entregarei meu sigilo telefônico (que já estava à disposição) para as polícias. Faço questão que os delegados VEJAM as mensagens. Outros boletins de ocorrência e notícias crime serão feitos essa semana. É mto material que está sendo levantado", escreveu Joice.

As informações foram divulgadas um dia após Joice prestar depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal. Ela disse ter encontrado objeto que pode ter relação com o episódio e levantou suspeitas sobre a interferência do governo Jair Bolsonaro na Polícia Federal.

"É um objeto que não pertence a ninguém, a nenhum dos meus funcionários, nem a mim nem a meu marido", afirmou a deputada, que não quis informar qual era o objeto, apenas que não era cortante e que tinha rolado para debaixo de um sofá retrátil na sala.

"Não é um objeto que estava sujo de sangue nem marcas de sangue nem nada disso. É simplesmente um objeto que não pertence a ninguém da minha casa."

Segundo a parlamentar, havia cerca de cinco testemunhas quando ela encontrou o objeto, pouco antes da entrevista coletiva que realizou no último domingo (25) ao lado do marido.

Na entrevista desta segunda (26), Joice disse ter registrado um boletim de ocorrência contra o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) por injúria, calúnia e difamação e afirmou que levará o caso ao Conselho de Ética do Senado.

"Eu disse a vocês logo depois no meu depoimento na Depol de que eu recebi informação, isso está escrito no meu telefone, eu mostrei à polícia, de que vazaria uma informação do GSI [Gabinete de Segurança Institucional da Presidência] de que eu teria batido o meu carro e teria me machucado. Os médicos já descartaram que os ferimentos que eu tenho são compatíveis com uma eventual batida", afirmou.

Joice disse ainda que fará novos boletins de ocorrência contra outras pessoas, as quais não quis citar, assim como também não quis divulgar os nomes das duas pessoas que considera suspeitas -uma delas, parlamentar.

"São suspeitas minhas, por conta de questões políticas. Eu não posso ser leviana, porque pode ser que seja outra pessoa. Pode ser que não seja nenhuma dessas duas pessoas que eu estou suspeitando."

A competência da investigação é da Polícia Legislativa, pois o incidente ocorreu dentro de um apartamento funcional, explicou Joice, mas acrescentou que cabe ao Ministério Público Federal decidir se a competência é da Depol, da Polícia Civil ou de ambas.

Joice afirmou não ter procurado a PF por não confiar na instituição.

"Eu não confio no governo e na interferência que ele é capaz de fazer, como já fez, na Polícia Federal. Todo mundo sabe que eu sou desafeto do Palácio do Planalto. Há uma história muito cabulosa que vazou do GSI. Então para esse governo fazer qualquer tipo de manipulação, isso pode ser feito num estalar de dedos."

"Então eu confio na Polícia Civil. Polícia Civil do DF, Polícia Civil de São Paulo, Depol e Ministério Público Federal... já é muita gente investigando."

A parlamentar disse que fará uma notícia-crime junto ao Ministério Público Federal para que o general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, seja ouvido.

"O general Heleno foi ao Twitter inclusive debochar da situação. Então deixe que ele se explique. Vou chamar a pessoa que passou essa informação de que o GSI estaria montando essa farsa, ela vai ser ouvida, sob sigilo. E vamos chamar o general Heleno para que ele possa se explicar."

Na última quinta-feira (22), Joice relatou ter despertado na manhã do dia 18 no chão do corredor entre o quarto e o banheiro do seu apartamento, com ferimentos pelo corpo. De acordo com a deputada, a última coisa que ela se lembra antes disso era que estava assistindo a um seriado na TV, na companhia do marido, e que ele foi dormir antes dela.

"Nós tradicionalmente dormimos em quartos separados. Os quartos ficam um pouquinho longe um do outro, porque ele ronca, tadinho. Eu boto ele para fora", afirmou a deputada.

"Quando eu acordei, sei o horário porque foi a hora que liguei para ele, era 7h03 da manhã. Eu acordei e estava em uma poça de sangue. Me arrastei até meu telefone. Peguei o telefone e liguei para ele, para ele vir ao quarto para me socorrer. Ele veio correndo", disse.

Em nota, a assessoria de imprensa da deputada afirmou que exames constataram traumas no joelho, na costela, no ombro e na nuca, além de cinco fraturas no rosto e uma na coluna.

No dia 20, Joice fez exames e os resultados indicaram que poderia ter sido um atentado, e não uma queda ou acidente. A deputada disse ter feito os exames no hospital Sírio-Libanês, em Brasília, que constataram as lesões.

Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, as investigações estão em andamento e têm caráter sigiloso.

Joice foi líder do governo Bolsonaro no Congresso, rompeu com o presidente e atualmente integra o grupo de desafetos do Planalto. Ela inclusive defende o impeachment do mandatário.

A deputada já havia negado anteriormente que as fraturas no rosto e na coluna e os hematomas que apresenta no corpo tivessem sido resultado de violência doméstica e afirmou não ter o "menor perfil para mulher de malandro".