China

Número de mortos por chuvas na China triplica, e autoridades começam investigação por negligência

Segundo as autoridades, ainda há cerca de 50 pessoas desaparecidas na província de Henan

Várias regiões da China têm sofrido com inundações - STR

Um novo levantamento feito pelas autoridades chinesas triplicou o número de mortes em decorrência das chuvas catastróficas que inundaram cidades na província de Henan. A nova cifra registrou 302 mortes até esta segunda-feira (2) –até a semana passada, havia 99 óbitos confirmados.

Em Zhengzhou, cidade com 12 milhões de habitantes ao longo do rio Amarelo, houve 292 mortos, entre os quais estão 14 pessoas que morreram durante o alagamento de uma estação de metrô. Ao todo, ao menos 39 pessoas morreram em áreas subterrâneas da cidade, incluindo garagens e túneis.

Durante três dias no mês passado, choveu em Zhengzhou uma quantidade próxima do que era esperado para o ano todo, causando danos generalizados na cidade, um importante centro logístico da China, e levantando um debate sobre a preparação do país para lidar com eventos climáticos extremos.

Segundo as autoridades, ainda há cerca de 50 pessoas desaparecidas na província de Henan — 47 em Zhengzhou. O prejuízo econômico é estimado em 114 bilhões de yuans (R$ 90,7 bilhões), com mais de 580 mil hectares de terras agrícolas afetados pelas chuvas.

O Conselho de Estado da China, órgão responsável por comandar o dia a dia do governo e a economia, disse que formará uma equipe para investigar o desastre em Zhengzhou e responsabilizar as autoridades caso seja constatado que houve algum nível de negligência.

O saldo de mortos e desaparecidos em decorrência das chuvas é o pior da China desde uma inundação que provocou uma deslizamento de terra em Zhouqu, na província de Gansu, em 2010. Na ocasião, a tragédia causou mais de 1.800 mortes e desaparecimentos.

Na semana passada, moradores de Zhengzhou fizeram um memorial às vítimas, com flores e mensagens manuscritas, nas escadas da estação de metrô Shakoulu.

 



Segundo a imprensa local, a viúva de um dos mortos no metrô processou a operadora da rede ferroviária por negligência –apesar dos avisos meteorológicos, a estação de metrô não foi fechada como os terminais de ônibus, o que poder ter contribuído para um número maior de pessoas concentradas no ambiente subterrâneo e, por isso, mais vulnerável às inundações.

Repórteres de veículos de comunicação estrangeiros foram recebidos com hostilidade por parte dos moradores de Zhengzhou sob a acusação de estarem trabalhando com o objetivo de apresentar a China de um ângulo negativo.

Uma equipe da agência de notícias AFP foi cercada por um grupo de 20 pessoas que exigiram a supressão das imagens feitas no local. Questionado sobre o tema, o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, justificou o comportamento da população e o atribuiu à "indignação do povo chinês" com as "informações falsas" que "alguns meios de comunicação ocidentais" estariam divulgando regularmente.

Segundo uma reportagem do jornal South China Morning Post, os meteorologistas previram as chuvas do mês passado, mas emitiram alertas para a hora e o lugar errados. O serviço meteorológico de Henan disse que as autoridades foram avisadas sobre o risco de eventos climáticos extremos com uma semana de antecedência, mas a previsão era de que as chuvas mais fortes atingiriam a cidade de Jiaozuo e não Zhengzhou, e que isso deveria ocorrer dois dias depois da data em que de fato ocorreu.

Quando o alerta vermelho foi emitido na capital da província, a maior parte dos moradores já tinha saído de casa para suas atividades diárias. Com o serviço de ônibus parado, um contingente maior que o esperado optou pelo metrô, o que contribuiu para a tragédia nos vagões.

Ainda de acordo com o SCMP, a China enfrenta um déficit na capacidade de previsão do tempo em cidades mais pobres e nas áreas rurais. Cidades como Pequim e Xangai estão mais bem equipadas, mas Zhengzhou, por exemplo, entra numa lista de "pontos cegos" da meteorologia.

Junta-se a isso, o fato de que, para analistas, a China teve um crescimento muito acelerado que não levou em consideração a ameaça das mudanças climáticas. Além disso, assim como as ondas de calor com temperaturas recorde nos Estados Unidos e no Canadá e as inundações catastróficas registradas em países como Alemanha, Holanda e Bélgica, as chuvas no território chinês estão diretamente relacionadas a um contexto de aquecimento global.

De acordo com especialistas, o aumento das temperaturas em nível mundial gera um acúmulo de energia na atmosfera que se dissipa por meio de eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar cada vez mais poderosos e mais frequentes.