Livro

Escritora portuguesa narra, em livro, viagem ao Brasil guiada por sua literatura

Editado pela Cepe, "Viagem ao país do futuro" reúne 12 ensaios escritos entre 2019 e 2020

Isabel Lucas é autora de "Viagem ao País do Futuro" - Divulgação

Acompanhada por clássicos da literatura nacional, a escritora e jornalista portuguesa Isabel Lucas rodou o Brasil de 2019 a 2020. As viagens por cidades como Recife, São Paulo e Manaus 12 ensaios-reportagem, que agora estão reunidos em livro. Por aqui, “Viagem ao país do futuro” chega às mãos do público através da editora Cepe, que promove uma live de lançamento nesta terça-feira (3), às 17h, em seu canal no YouTube, com participação da autora, do editor da revista literária Serrote, Paulo Roberto Pires, e mediação do escritor e editor Wellington de Melo.

Os textos foram publicados originalmente, de forma periódica, no jornal literário Pernambuco e no jornal português Público. Em setembro, o livro também será lançado em Portugal, através de uma parceria com a editora Companhia das Letras. A obra segue a mesma proposta de “Viagem ao sonho americano” (2017), trabalho anterior de Isabel, escrito a partir de suas andanças pelos Estados Unidos.

“Ambos os projetos surgiram quando os dois países estavam atravessando momentos conturbados. Num caso, a eleição de Trump e, no outro, a de Bolsonaro, quando muita gente se interrogava acerca do seu próprio país. Fiz a mesma pergunta e segui à procura de respostas, ao lado de uma espécie de cânone, mas tentando alargar a conversa à margem, ao que é escrito e dito fora dessa norma”, conta a escritora.

Apesar de partilharem de uma mesma fonte de inquietação, os livros não repetem uma mesma fórmula. As diferenças entre as realidades de cada país, de acordo com Isabel, fizeram com que as experiências fossem distintas. “Talvez eu tenha me sentido mais livre nos Estados Unidos, por conta dessa de um passado menos partilhado, menos dolorido. Por outro lado, me senti muito familiarizada com o Brasil, como se fizesse parte de mim de um modo que não sei bem explicar. Talvez seja a língua”, aponta.

Isabel observou o Brasil consciente de sua posição, não como simples estrangeira, mas filha do país colonizador desta nação. Diz ter sentido uma grande satisfação ao perceber como a antiga colônia portuguesa empreendeu “uma espécie de descolonização da língua”, referindo-se ao modo como ela tem sido reinventada por aqui. “Ao escrever e ao falar com as pessoas, tive sempre muito em conta esse passado, o peso de cada expressão, o que ela representa num país e no outro e como essa conversa está a ser feita a vários ritmos. Uma conversa necessária, não um monólogo”, comenta.

Ao longo de 328 páginas, a escritora descreve os cenários e personagens que encontrou em terras brasileiras, fazendo sempre referências a grandes nomes da nossa literatura, como Machado de Assis, Euclides da Cunha, Clarice Lispector e Raquel de Queiroz. De Pernambuco, cita também autores contemporâneos, como Sidney Rocha, Miró da Muribeca e Lourival Holanda. O livro conta ainda com ilustrações assinadas pela designer Karina Freitas.

“A literatura foi uma boa companhia e acho que um bom guia. Incompleto, claro, como todos, mas que me deu outras perguntas para fazer. Com ela cheguei às pessoas, às suas falas, aos seus cotidianos. Isso é insubstituível e continua a ser matéria literária”, diz a autora, que ao final de cada capítulo insere um diário de viagem, com percepções suas sobre os lugares visitados.