Arte

José Patrício passa a limpo 45 anos de artes visuais em livro

"Percursos de Criação" ganha lançamento nesta quinta-feira (5), na Livraria Jaqueira do Paço Alfândega

José Patrício, artista visual - Cláudia Dalla Nora/Divulgação

Em 45 anos de carreira, é o trabalho constante com a matéria e suas possibilidades que tem guiado o pernambucano José Patrício, 61. Nos últimos tempos, no entanto, o artista plástico vem se dedicando não só a produzir incansavelmente, mas também a refletir sobre o que ele criou até agora. O livro “Percursos de Criação”, que chega ao público em edição bilíngue (português e inglês), é fruto desse processo de recapitulação e análise da própria obra. 

Realizada com incentivo do Funcultura, a obra será lançada nesta quinta-feira (5), na Livraria Jaqueira do Paço Alfândega, das 18h às 20h. Com edição do crítico, curador e professor Felipe Scovino, é uma ampliação da dissertação de mestrado defendida por José Patrício em 2014, no Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Pernambuco. 

O artista relembra o período dedicado ao mestrado como uma experiência difícil, porém com um resultado gratificante. “Eu me formei em Ciências Sociais em 1984 e, depois disso, me desliguei completamente do ambiente acadêmico. Retomar esse contato quase 30 anos depois foi um aprendizado muito rico. A minha produção artística, até então, estava acontecendo sem que houvesse uma reflexão minha de forma mais elaborada. Essa foi a oportunidade de mudar isso”, aponta. 

Ao longo de 193 páginas, José Patrício descarrega suas memórias, descrevendo os sentimentos e as descobertas que estiveram presentes em suas investigações artísticas. Com isso, o público é convidado a conhecer de forma mais aprofundada suas experimentações com diferentes materiais, como dominós, papel artesanal e dados, cujas combinações quase sempre seguem algum tipo de lógica matemática ou geométrica.

Para o pernambucano, o ato de revisitar fases de produção e obras concluídas foi também um exercício de autoconhecimento enquanto artista. “Ficou muito claro que há um fio condutor que rege toda a minha produção e, de alguma forma, levou o meu trabalho para o que eu faço hoje. O processo de criação é algo que tem seus mistérios e suas particularidades, mas acho que essa reflexão serviu justamente para mostrar que as coisas não acontecem por acaso. Tudo envolve sempre muito trabalho”, observa. 

Livro 'Percursos de Criação', de José Patrício (Foto: Flavio Freire/Divulgação)

Devidamente catalogadas no livro, as criações de José Patrício enchem as páginas de cores e formas. Há imagens de peças que integram acervos importantes, como o da Fundação Cartier, em Paris, e do Museu de Arte de São Paulo (MASP), além das séries marcaram a trajetória do artista, como “112 dominós” (1999) e “Ars combinatoria” (1999/2000).

José Patrício deu seus primeiros passos como artista na Escolinha de Arte do Recife, na década de 1970, ainda adolescente. De lá para cá, seu nome se fortaleceu no cenário pernambucano e ganhou o mundo com exposições em países como Alemanha, Estados Unidos e China. Ele acompanhou a passagem do tempo sempre atento às transformações ao seu redor. “Muita coisa mudou, para o bem e para o mal. Hoje, com um clique você tem acesso à informação. Quando comecei, dependia de revistas e livros que nem sempre chegavam no Recife”, pontua. 

Se fosse acrescentar mais um capítulo ao livro, sobre sua vivência em tempos de pandemia, essas linhas provavelmente falariam de introspecção e continuidade. Durante a quarentena mais restrita, Patrício tratou de revisitar arquivos, colocando em ordem obras e documentos. Com a reabertura gradual das atividades voltou a trabalhar no seu ateliê, retomando o ritmo anterior. “Seguindo todos os protocolos, as coisas estão voltando ao eixo aos pouco, embora eu ache que nada está normal hoje em dia”, reflete.