Governador de Nova York assediou sexualmente várias mulheres, diz investigação
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, assediou sexualmente várias mulheres e criou um "clima de medo" dentro de seu governo, segundo uma investigação revelada nesta terça-feira (3). O democrata negou as acusações em meio a pedidos de renúncia.
"Abraços e beijos indesejados", "toques sexuais e insinuações": uma investigação independente de cinco meses descobriu que Cuomo "assediou sexualmente várias mulheres e, ao fazê-lo, violou a lei federal e estadual", disse a procuradora-geral do Estado de Nova York, Leticia James, acrescentando que entre as vítimas estavam "atuais e antigas" funcionárias.
O explosivo relatório detalha as acusações de 11 mulheres que pintam um quadro "profundamente perturbador, mas claro" de um padrão de comportamento abusivo por parte do governador e de seu alto escalão, disse ela em entrevista coletiva.
James disse que o caso, que descreve "um ambiente de trabalho hostil para as mulheres", é "de natureza civil" e não está claro se Cuomo enfrentará um processo criminal.
A investigação também descobriu que Cuomo e sua equipe retaliaram pelo menos uma ex-funcionária por denunciar sua suposta experiência.
O governador, um veterano político no cargo desde 2010, foi rápido em negar as acusações.
"Quero que saibam diretamente por mim que nunca toquei em ninguém de forma inadequada ou fiz insinuações sexuais inadequadas", disse ele em um discurso transmitido pela televisão, no qual não deu nenhuma indicação de que pensava em deixar o cargo.
"Tenho 63 anos. Vivi toda a minha vida adulta sob os olhos do público. Isso não é o que sou. E esse não é quem eu tenho sido", disse ele, acrescentando ter postado uma resposta às acusações em seu site: "Por favor, reserve um tempo para ler os fatos e decidir por si mesmo."
Durante seu discurso, filmado de seu gabinete, Cuomo procurou desmentir as acusações, observando que ele estava apenas tentando se "conectar" com as pessoas e mostrar a elas seu apreço.
“Agora entendo que existem perspectivas geracionais ou culturais que, francamente, não tinha valorizado totalmente. E aprendi com isso”, disse ele.
Cuomo, filho do famoso governador Mario Cuomo, ex-secretário de Habitação do governo Bill Clinton e amigo do presidente Joe Biden, tornou-se muito popular por sua gestão no início da pandemia, tanto que muitos o incentivaram a concorrer à Casa Branca.
Mas esse entusiasmo enfraqueceu nos últimos meses, depois que várias mulheres denunciaram publicamente o que descreveram como palavras e gestos inadequados.
Em março, Biden disse que se as acusações contra Cuomo fossem provadas, ele deveria renunciar. Nesta terça-feira, após a revelação da investigação, o presidente pediu sua renúncia. "Acho que deve renunciar", disse Biden durante uma entrevista coletiva na Casa Branca.
- "Não está apto para o cargo" -
Elise Stefanik, a terceira líder republicana na Câmara dos Representantes, foi uma das primeiras a pedir que Cuomo enfrentasse as consequências do relatório.
“O governador Cuomo deve renunciar e ser preso imediatamente”, tuitou.
Parlamentares de Nova York também reagiram rapidamente, com a líder da maioria no Senado estadual a democrata Andrea Stewart-Cousins dizendo que "deve ficar claro para todos que ele não pode mais ser governador".
Seu correligionário Carl Heastie, presidente da Assembleia de Nova York, disse que o relatório parecia mostrar que Cuomo "não está apto para o cargo".
De acordo com detalhes da investigação revelados na coletiva de imprensa, uma ex-funcionária disse que o carismático político colocou a mão sob a blusa dela no ano passado, enquanto uma policial disse que ele tocou em sua cintura e quadris.
Sua conduta "não foi apenas um comportamento afetuoso antiquado, como ele e alguns de seus funcionários teriam feito, mas assédio sexual ilegal", disse Anne Clark, uma das advogadas que liderou a investigação.
"Todos elas acharam sua conduta perturbadora, humilhante, desconfortável e inadequada", disse o outro advogado que liderou a investigação, Joon Kim.
Cuomo e sua equipe criaram um "clima de medo" que impedia as mulheres de falar. “Era uma cultura na qual não se podia dizer não ao governador”, disse Kim.
Pelo menos um relatório foi entregue à polícia sobre o comportamento de Cuomo e os resultados da investigação podem ser usados em qualquer investigação criminal.
As mulheres envolvidas também podem decidir se querem processar Cuomo, disseram os investigadores.
A procuradora-geral James elogiou as 11 supostas vítimas por contarem suas histórias.
"Todas as mulheres corajosas que se apresentaram são inspiradoras. Mas o mais importante, eu acredito nelas", disse.