Manifesto de representantes da sociedade civil pede respeito às eleições e repudia autoritarismo
O manifesto diz que 'o princípio-chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos'
Um manifesto assinado por mais de 250 acadêmicos, empresários, intelectuais, políticos, artistas e outras personalidades da sociedade civil envolvidas no debate público pede respeito às eleições de 2022 e a garantia de realização do pleito, em resposta às ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro.
O documento "Eleições serão respeitadas", publicado na edição desta quinta-feira (5) da Folha de S.Paulo e de outros jornais de circulação nacional, expressa ainda confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral, que também são alvo do presidente, com ataques à credibilidade do sistema e defesa de voto impresso.
"Apesar do momento difícil, acreditamos no Brasil", afirma o texto do anúncio, citando a crise sanitária, social e econômica, com mortes pela Covid-19 e o desemprego.
"Nossos mais de 200 milhões de habitantes têm sonhos, aspirações e capacidades [...]. Esse futuro só será possível com base na estabilidade democrática."
O manifesto diz que "o princípio-chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos".
Afirma também que "a Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo".
"Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias. O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados", conclui o texto.
A iniciativa é endossada por empresários como Luiza Trajano, Sonia Hess, Chieko Aoki, Jayme Garfinkel, Guilherme Leal, Horácio Lafer Piva e Carlos Jereissati Filho e por líderes religiosos como o cardeal dom Odilo Scherer e o rabino Michel Schlesinger.
Os economistas Arminio Fraga, Ana Carla Abrão, André Lara Resende, Edmar Bacha, Elena Landau, Ricardo Paes de Barros, Samuel Pessôa, Ilan Goldfajn, Alexandre Schwartsman, Pedro Malan e Persio Arida também aderiram ao manifesto.
João Moreira Salles, Pedro Moreira Salles, Maria Alice Setubal, Roberto Setubal, Ana Lúcia Vilela, Candido Bracher, Celso Lafer, Ricardo Young, Oded Grajew, Luis Terepins, Monja Coen, Hélio Mattar, Renato Janine Ribeiro e Paulo Vannucchi são outros representantes da sociedade civil entre os signatários.
Também participam pessoas com trajetória na política, como Cristovam Buarque, Roberto Freire, Andrea Gouvêa Vieira e Eduardo Jorge, e os professores Oscar Vilhena Vieira, Paulo Sérgio Pinheiro, Silvio Meira, Carlos Melo, Cláudio Couto, Carlos Ari Sundfeld e Floriano de Azevedo Marques, entre outros.
Assinam o texto, ainda, os médicos Drauzio Varella, José Gomes Temporão, Margareth Dalcolmo e Raul Cutait, os atores Marcos Palmeira e Regina Braga, as ativistas Priscila Cruz e Rosangela Lyra e a executiva Rachel Maia.
A mobilização também inclui um site, em que o documento estará aberto a novas adesões.
"O questionamento do nosso exitoso sistema eleitoral é uma cópia malfeita daquilo que vimos nas eleições americanas, com a questão do voto pelo correio", diz Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e um dos apoiadores do manifesto.
"É uma tentativa de tirar a credibilidade de um resultado eleitoral adverso e que precisa ser barrada pela sociedade. A sociedade civil brasileira, que é muito forte, precisa se levantar contra isso", acrescenta.
Para a diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos, Juana Kweitel, que também referendou o texto, trata-se de "um movimento de 'basta' da sociedade brasileira às ameaças do presidente de não respeitar o resultado da eleição".
"É um manifesto muito plural. O fato de estarem juntas pessoas que pensam diferente em muitos temas faz dele algo bastante representativo e relevante. Espero que seja o primeiro de muitos movimentos que se levantem pelo respeito às eleições", diz ela.
"O país não pode ficar refém das ameaças que o presidente vem fazendo, de que o pleito vai ser com as regras dele ou que ele não vai respeitar o resultado. É preciso que todos saiam em defesa da democracia", afirma Juana.